Fazia frio naquele fim de tarde de outono em Chicago. Olívia arrumava o casaco em seu corpo, tentando se proteger do vento gelado.
Quanto aos cabelos, já havia desistido de manter em ordem, era uma luta inútil. Ao chegar até o hall do seu apartamento, agradeceu pela proteção daqueles tijolos. O seu humor naquele dia em particular não estava dos melhores. Para ser mais exato, desde o ocorrido no restaurante com o Sr. White o seu humor vinha oscilante. Não que Olívia fosse uma pessoa constante, sua personalidade era exatamente essa, e mudanças radicais de humor durante o dia era o seu normal.
Orange já estava acostumado com isso e sabia exatamente o momento em que acontecia a quebra na sua paz interior e evitava a todo custo ficar por perto, sabia que ela precisava dos seus momentos a sós para reorganizar a sua mente. E era isso que vinha fazendo desde que voltaram.
Seus clientes não tinha essa versão dela. Carmim era uma boa profissional, e como tal, não podia demonstrar sentimentos que não fossem o de dar prazer ao seu parceiro. Uma das frases mais usada por ela deixava isso bem claro: "Estou aqui para o seu prazer!". Henry White foi o que ficou mais perto de presenciar a sua briga interna, afinal, ele já não era mais o seu cliente. Pelo menos, não no seu coração.
E por conta disso, dele ser o dono do seu coração, sentiu-se impotente e afrontada quando avistou no topo da escada do seu andar, aqueles sapatos reluzentes tão conhecidos. Apertou o seu olhar quando viu o rosto pálido do milionário do ramo farmacêutico sentado, como se fosse um qualquer, naquela escadaria encardida.
Sentiu vontade de avançar em cima dele e sair gritando desaforos. Fazia pouco mais de dois meses que tudo desmoronou. Seria assim toda vez que ele desconfiasse? Sumiria por um tempo e voltaria a procurá-la em sua residência como se aquilo selasse um pedido de desculpas? Como se ele se rebaixando ao nível dela fosse sanar toda a mágoa que ele havia lhe causado? Olívia não estava gostando nada de vê-lo ali e isso estava muito nítido em seu semblante.
Passou por ele antes que o homem pudesse levantar, batendo com força os calcanhares no chão. O barulho do salto de sua bota ecoou por todo o corredor. Seguia por ele com o Sr. White em seu encalço, ainda sem dizer nada. Então, antes de girar as suas chaves, voltou-se como se espumasse pela boca:
— O que veio fazer aqui?
— Conversar com você.
— Não precisava ter se incomodado e vindo até aqui. Um telefonema bastaria.
— Achei que não fosse atender. E não queria conversar com você por telefone. — ele a encarava com ar de súplica e desculpas.
— Marcasse um encontro, simples assim. — Olívia respondeu como se não se importasse, porém era exatamente o oposto que sentia. Ela se importava além do que queria ou podia suportar.
— Você iria?
— Sr. White, você paga e eu vou, a regra é clara. — não era o que deseja responder, mas ele precisava sentir que era indiferente mesmo não sendo.
— Não estou aqui para transar com você. — agora ele a encarava com frustração.
— Certamente que não. Entra. Está chamando muita atenção aqui fora.
Olívia girou as chaves de forma agressiva. Esperou que ele passasse por ela, bateu a porta deixando evidente toda a sua irritação. Jogou as chaves sobre o aparador de qualquer forma, tanto que elas chegaram a cair ao chão. Ignorou esse deslize e retirou o casaco que usava. Sua raiva era tanta que o frio que vinha sentindo passou instantaneamente, dando lugar a um calor descomunal que crescia em seu ventre subindo por todo o seu corpo.
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Encontro com o Prazer - Livro 1 [Completo]
Literatura FemininaExiste o momento certo de parar? Elisa Carmim estava decidida quando escolheu ser uma acompanhante de luxo. Agora passado tanto tempo dessa escolha, sente que chegou a hora de abandonar, antes de entrar em decadência. Não se perdoaria se isso aconte...