Os raios de sol banhavam a calmaria daquele quarto do casarão de tijolos vermelhos, que brigam por espaço com várias trepadeiras, na Av. Lincoln em Winnetka, próximo ao rio Michigan, local em que o Sr. White vivia quando estava em Chicago.
Uma propriedade herdada e muito usufruída pelo outro Sr. White, o seu falecido pai. A opção de ter uma residência ali, naquela cidade, veio de sua parte. Henry, o filho, ainda não entendia o motivo que levava a permanecer com ela, já que detestava aquele lugar e aquelas pessoas.
Talvez a resposta estivesse em certa moça de cabelos loiros levemente ondulados até a altura dos ombros, e detentora de um olhar enigmático.
Depois que ela entrou em sua vida passou a apreciar mais o tempo por aqueles ares. Tanto que, quando estava longe, sentia ansiedade em poder voltar. E Henry White, nunca, de forma alguma, era uma pessoa ansiosa.
Ainda sentindo o seu corpo dolorido por conta da febre que o assolou na noite anterior, abriu os olhos e contemplou a vista que vinha de sua janela. Algo que apreciava naquela casa era a vista. Lembrava-se de sua residência verdadeira, na Inglaterra, de onde podia ver o bosque que a cercava. Local em que aprendeu a caçar com o seu falecido pai.
Jogou o roupão de seda sobre o seu pijama também do mesmo material textual, e abandonou a cama que o envolveu e acolheu naquele momento de fragilidade indesejada. Estava bem melhor, porém, não totalmente curado. Desejou tomar um banho, desistiu no segundo em que lembrou que algo importante lhe esperava dentro daquela casa. Apenas livrou-se do mau hálito.
O quarto que ela ocupava quando ficava nesta casa intimidadora e impessoal – não que a sua residência na Inglaterra fosse diferente, de fato era até pior – estava vazio. Sentiu-se apenas aliviado pelos lençóis desarrumados. Ela havia dormido ali. Sem rodeios, seguiu para o outro cômodo em que ela poderia estar naquele horário.
— Bom dia!
A voz doce e rouca de Carmim entrava pelos seus ouvidos como música. Lá estava, do lado de dentro da bancada de sua cozinha moderna, único cômodo daquela casa que destoava de todo o resto, passando alguns utensílios para a sua fiel funcionária, Agnes.
— Confesso que não imaginei que viesse até aqui. E falando nisso, deveria estar fora cama? — Carmim seguiu com a saudação lhe lançando um olhar de reprovação.
— Bom dia! — Henry respondeu com um sorriso para Carmim — Bom dia, Agnes. — seguindo da mesma forma para a sua governanta.
— Bom dia, Sr. White. Deseja o de sempre? — Agnes se antecipou, caminhando calmamente em direção à geladeira, pronta para lhe preparar o desjejum.
— Posso? — Carmim a interrompeu — Gostaria de lhe preparar uma das minhas especialidades na cozinha.
— O que acha disso, Agnes? Devo arriscar?
— Acredito que estará em ótimas mãos, senhor. Quer saber? Vou deixá-los a sós.
Agnes não esperou nenhuma resposta e abandonou a cozinha. No caminho, deu de cara com o motorista. Ele era mais do que isso para o Sr. White. Ivan era aquele funcionário em que podia confiar a vida, e por conta disso, Agnes entendia aquele olhar de reprovação em seu rosto.
— Sei que não a aprova Ivan, mas ele gosta e quer saber? Ela lhe faz muito bem. Há anos que não víamos um sorriso em seu rosto.
— Apenas me pergunto... Qual o custo disso?
O homem sempre ficava mais sisudo que o habitual quando o assunto se tornava a Srta. Carmim. Seu semblante rústico, por conta das sobrancelhas escuras e grossas, ficava ainda mais pesado quando aquele nome entrava pelas suas orelhas grandes. Ivan era um homem imenso em todos os sentidos. Qualquer pessoa se sentiria intimidada por ele, e gostava disso, porém, com Elisa Carmim nunca foi assim, ela o desafiava, e aquilo o incomodava.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Encontro com o Prazer - Livro 1 [Completo]
Chick-LitExiste o momento certo de parar? Elisa Carmim estava decidida quando escolheu ser uma acompanhante de luxo. Agora passado tanto tempo dessa escolha, sente que chegou a hora de abandonar, antes de entrar em decadência. Não se perdoaria se isso aconte...