Capítulo 5

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Com pressa, trancou a porta comum do seu apartamento de um dormitório. Atrapalhou-se com a echarpe laranja, ainda mal colocada sobre a blusa de manga 3/4 preta. Conseguiu deixá-la da forma como gostaria apenas no segundo lance da escada do prédio em que vivia. Pulou alguns degraus ignorando o fato da bota que usava serem de saltos. Seguiu radiante para a luz do dia.

A temperatura ainda estava agradável. Um cantarolar não saia de seus lábios. Olívia Brown — nesse bairro era conhecida dessa forma, em outros: Elisa Carmim — estava feliz, um dos seus muitos sonhos estava prestes a ser realizado. Um daqueles homens que escolhera como patrão de uma noite — estava tendo tantas noites com esse que perdera até a conta —, lhe possibilitaria uma excursão por algum lugar desse mundo. Desejava tanto aquilo que passou por um velho conhecido sem perceber.

— Aonde vai com tanta pressa?

— Orange! Fazer o meu passaporte.

Olívia respondeu animada, sorridente e demonstrando euforia. Por alguns instantes, Orange achou que receberia até um abraço, ou talvez um beijo, como agradecimento.

— Nossa! Você vai viajar? — colocou as mãos no bolso. Um gesto usual que fazia quando ficava desmotivado.

— Então... Apareceu essa oportunidade... — Olívia conhecia muito bem aquele gesto, e dessa forma, tentou disfarçar a sua alegria exagerada.

— Com um daqueles caras?

— Sim, um dos meus clientes me ofereceu essa viagem...

— Não tem medo? Sei lá. Um lugar diferente do que você está acostumada. Outro país. E um cara que você mal conhece. Vai que ele é um maníaco.

— Sinto uma pitada de ciúmes.

— Preocupação. Ciúmes também. Nunca deixei de ter ciúmes ou zelo por você.

— É aí que está o seu erro. Sabe, sua mãe tem razão quando ela diz que eu te faço mais mal do que bem.

Orange, seu ex, gostava de pensar que um dia ela seria Olívia Orange. Tanto que a pediu em casamento há doze anos. Ela disse não. E foi além. Terminou o namoro de cinco anos e disse que partiria para uma vida da qual a maioria das pessoas que conhecia não aprovariam.

Orange não se assustou. A conhecia muito bem para saber que aquilo era sério e real. Quis saber o motivo. Ela sabia que essa pergunta surgiria. Disse que queria coisas, e que vivendo da forma como viviam, não ia acontecer. Ele sabia que ela tinha razão. Não poderia lhe dar nem um terço do que ela almejava, mal conseguia se manter. Sentiu-se um completo idiota depois que ouviu tudo o que ela lhe disse.

Ele, cinco anos mais velho, não tinha conquistado nada na vida. Vivia ainda com a mãe. Queria ser músico, viver disso. Quando o conheceu, muito jovem, esse lance de viver o momento a conquistou. Divertido e amoroso. O seu maior dom era fazer a garota sorrir. Ele consegue isso até hoje. É o único que a faz gargalhar. É também um dos poucos que não a julga por suas escolhas. Agora mal conseguia pagar as suas contas com alguns shows esporádicos que apareciam. O emprego que lhe oferecia renda era de empilhador em uma fábrica de materiais de construção. E esse jamais daria para Olívia o que ela desejava.

— Minha mãe só fala bobagens.

— Não fala, e você sabe disso.

— Sinto tanto.

— Pelo que?

— Não poder te dar o que você quer. Eles podem, né?

— Sabe que sim. — se aproximou, não resistiu e acariciou a sua barba rala e ruiva — Não faz isso com você. Vem! Vamos tomar uma cerveja e conversar...

Encontro com o Prazer - Livro 1 [Completo]Onde histórias criam vida. Descubra agora