O barulho do motor do carro a mantinha acordada. Depois da primeira viagem com o Sr. White, as outras que seguiram foram apenas uma consequência.
Sr. White estava aliviado, o estrago do lote de medicamentos no fundo não havia sido tão grave e conseguiram retirar do mercado sem maiores complicações, porém tudo só fora possível devida a sua atenção máxima diante daquele fato. Não adiantava por mais que desejasse não podia se afastar do comando por muito tempo. E dessa forma, Carmim estava praticamente conhecendo meio mundo. Mas o que tinha de diferente nessa viagem?
Estavam indo para o verdadeiro lar do Sr. White, e aquilo estava deixando a mulher nervosa.
Aquele pedido absurdo de ter ele como cliente exclusivo foi aceito. O que o Sr. White pagaria a ela possibilitaria a tão sonhada aposentadoria mais cedo do que havia planejado, e também, por conta disso, sentia borboletas voando pelo seu estômago. Aquele misto de querer e não querer abandonar a única coisa que ela julgava que sabia fazer bem.
De certa forma, essa ida até a Inglaterra não fora planejada. O Sr. White recebeu uma ligação da clínica onde sua mãe está internada, e com isso, os planos de voltar para os Estados Unidos foram adiados e Carmim teve de segui-lo até lá. Ele poderia ter colocado a mulher dentro de um avião e a mandado de volta sozinha, porém, algo o impediu de fazer aquilo.
Sentiu a necessidade de tê-la ao seu lado, quando estivesse diante dos médicos que cuidavam de sua mãe com Alzheimer. A maior parte de sua vida passou sozinho, e agora, com ela ao seu lado, ele estava bem. Sendo assim, quis envolvê-la nessa parte mais íntima de sua vida, sentia, de certa forma, que a teria para todo o sempre.
Ele segurava com força em uma de suas mãos. Desde a notícia na noite anterior, de que a Sra. White precisou ser internada com urgência, o Sr. White não descansou e estava apreensivo. A sua mãe era a última pessoa ainda viva de sua família. Sem ela, estaria completamente sozinho e aquela sentença lhe doía no peito.
— Ficará tudo bem.
Carmim tentava lhe acalmar e confortar. Retribuiu o gesto, também pressionando com mais força as mãos dele, e lhe deu um beijo rápido na têmpora. O Sr. White, em resposta, emitiu um longo suspiro e pediu para o motorista seguir mais rápido. O quanto antes chegasse até a clínica, melhor seria para a sua consciência.
A consciência do Sr. White era pesada a respeito de sua mãe. De certa forma, se via como um filho desnaturado que havia abandonado a mãe aos cuidados de terceiros. Cuidados extremamente caros para uma pessoa comum, mas não para alguém como ele. No começo, quando os sintomas apareceram, há uns dez anos, a Sra. White continuou na mansão em Oxfordshire, a principal residência dos White. Aquele lugar era tudo para eles. Porém, à medida que os anos foram avançando, a doença seguiu o mesmo curso, levando praticamente toda a lucidez daquela mulher generosa e carismática.
Emma White, aos sessenta anos, começou a ter perda de tempo. Não se lembrava de como havia chego a determinados lugares, ou mesmo se perdia em conversas corriqueiras com as suas amigas. O susto veio quando quase colocou fogo em seu quarto. A partir dali, uma pessoa foi designada a ficar em sua companhia por período integral. E então, Henry passou a ser chamado constantemente de Edward, e depois nem isso. Nos últimos anos, Emma nem se lembrava mais do filho.
Henry sentia-se um completo inútil. Tinha um império farmacêutico e nenhum daqueles remédios que fabricavam seria capaz de devolver a memória a sua adorada mãe. Os médicos o persuadiram, dizendo que uma clínica seria o mais indicado para ela já com a doença em estágio avançado, e assim aconteceu. O filho parou também de viver, só voltou quando colocou os seus olhos nos cabelos molhados da garota de programa que havia contratado naquela noite fria de Chicago.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Encontro com o Prazer - Livro 1 [Completo]
ChickLitExiste o momento certo de parar? Elisa Carmim estava decidida quando escolheu ser uma acompanhante de luxo. Agora passado tanto tempo dessa escolha, sente que chegou a hora de abandonar, antes de entrar em decadência. Não se perdoaria se isso aconte...