Capítulo 17

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O barulho do motor do carro a mantinha acordada. Depois da primeira viagem com o Sr. White, as outras que seguiram foram apenas uma consequência. 

Sr. White estava aliviado, o estrago do lote de medicamentos no fundo não havia sido tão grave e conseguiram retirar do mercado sem maiores complicações, porém tudo só fora possível devida a sua atenção máxima diante daquele fato. Não adiantava por mais que desejasse não podia se afastar do comando por muito tempo. E dessa forma, Carmim estava praticamente conhecendo meio mundo. Mas o que tinha de diferente nessa viagem?

Estavam indo para o verdadeiro lar do Sr. White, e aquilo estava deixando a mulher nervosa.

Aquele pedido absurdo de ter ele como cliente exclusivo foi aceito. O que o Sr. White pagaria a ela possibilitaria a tão sonhada aposentadoria mais cedo do que havia planejado, e também, por conta disso, sentia borboletas voando pelo seu estômago. Aquele misto de querer e não querer abandonar a única coisa que ela julgava que sabia fazer bem.

De certa forma, essa ida até a Inglaterra não fora planejada. O Sr. White recebeu uma ligação da clínica onde sua mãe está internada, e com isso, os planos de voltar para os Estados Unidos foram adiados e Carmim teve de segui-lo até lá. Ele poderia ter colocado a mulher dentro de um avião e a mandado de volta sozinha, porém, algo o impediu de fazer aquilo.

Sentiu a necessidade de tê-la ao seu lado, quando estivesse diante dos médicos que cuidavam de sua mãe com Alzheimer. A maior parte de sua vida passou sozinho, e agora, com ela ao seu lado, ele estava bem. Sendo assim, quis envolvê-la nessa parte mais íntima de sua vida, sentia, de certa forma, que a teria para todo o sempre.

Ele segurava com força em uma de suas mãos. Desde a notícia na noite anterior, de que a Sra. White precisou ser internada com urgência, o Sr. White não descansou e estava apreensivo. A sua mãe era a última pessoa ainda viva de sua família. Sem ela, estaria completamente sozinho e aquela sentença lhe doía no peito.

— Ficará tudo bem.

Carmim tentava lhe acalmar e confortar. Retribuiu o gesto, também pressionando com mais força as mãos dele, e lhe deu um beijo rápido na têmpora. O Sr. White, em resposta, emitiu um longo suspiro e pediu para o motorista seguir mais rápido. O quanto antes chegasse até a clínica, melhor seria para a sua consciência.

A consciência do Sr. White era pesada a respeito de sua mãe. De certa forma, se via como um filho desnaturado que havia abandonado a mãe aos cuidados de terceiros. Cuidados extremamente caros para uma pessoa comum, mas não para alguém como ele. No começo, quando os sintomas apareceram, há uns dez anos, a Sra. White continuou na mansão em Oxfordshire, a principal residência dos White. Aquele lugar era tudo para eles. Porém, à medida que os anos foram avançando, a doença seguiu o mesmo curso, levando praticamente toda a lucidez daquela mulher generosa e carismática.

Emma White, aos sessenta anos, começou a ter perda de tempo. Não se lembrava de como havia chego a determinados lugares, ou mesmo se perdia em conversas corriqueiras com as suas amigas. O susto veio quando quase colocou fogo em seu quarto. A partir dali, uma pessoa foi designada a ficar em sua companhia por período integral. E então, Henry passou a ser chamado constantemente de Edward, e depois nem isso. Nos últimos anos, Emma nem se lembrava mais do filho.

Henry sentia-se um completo inútil. Tinha um império farmacêutico e nenhum daqueles remédios que fabricavam seria capaz de devolver a memória a sua adorada mãe. Os médicos o persuadiram, dizendo que uma clínica seria o mais indicado para ela já com a doença em estágio avançado, e assim aconteceu. O filho parou também de viver, só voltou quando colocou os seus olhos nos cabelos molhados da garota de programa que havia contratado naquela noite fria de Chicago.

Encontro com o Prazer - Livro 1 [Completo]Onde histórias criam vida. Descubra agora