Epílogo

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Ela passou os dedos pelo espelho de prata, sua imagem era um embaçado de cores. Ver aquele espelho antigo lhe deu uma tristeza, como se já o tivesse visto antes.

― Não toque. ― Reclamou a guia. ― Os objetos aqui são antiguíssimos, é preciso se manter longe, por favor.

― Desculpe.

― Continuando, no ano de 422 durante os oito reinos ocorreu sobre Vrisan um inverno de três anos. ― A guia continuou percorrendo os salões do palácio com os estudantes. ― E por conta disso nossa heroína surgiu em meio a toda uma sociedade preconceituosa e fútil. Elisie Allen Leican de Olívis, a primeira duquesa por título das antigas ilhas de Olívis. ― Ela parou lançando seu olhar para o majestoso quadro da duquesa. Ela era linda, e dona de um sorriso frágil, embora quem conhecesse sua história, nunca diria que ela era frágil.

― Nossa, Julia, ela é a sua cara. ― Falou uma das estudantes comparando Julia e o quadro.

― Eu não disse? Eu tenho a beleza de uma duquesa. ― Todos riram, Julia encarou o livro que tinha nas mãos "O espinho da rosa amarela", por causa daquele livro escrito uns mil anos atrás, por essa duquesa de encantadores olhos castanhos, Julia tinha viajado de Nox até aquela cidade esquecida por deus.

Queria ver o palácio no qual ela tinha escrito o mais lindo romance, e vivido um encantador amor ao lado de seu príncipe.

― Esse é o quarto de banho, quem mora em Olívis já deve ter vindo aos banhos públicos alguma vez... E... ― Julia chamou a atenção da guia. ― Sim, tem alguma pergunta?

― Eu vim ao palácio para tirar algumas duvidas que não consegui pela internet, no livro dela ela diz que seu marido antes era um terrível príncipe regente, que se transformava num monstro, também diz que foi ao passado para impedir a morte dele. É possível que seja um relato verídico?

― Está falando de os espinhos da rosa amarela? ― Julia assentiu esperançosa, a guia gargalhou antes de continuar com desinteresse:

― Querida, o livro não passa de ficção, se existisse mesmo semi-deuses no vulcão de Saranta e no vale dos gritos, creio que teriam filas de pessoas aguardando por um desejo.

― E como explica os três anos que a duquesa e o príncipe Alexyan sumiram? E voltaram com bruxos?

― Os relatos devem ter se perdido no tempo, faz muitos anos, é impossível uma história completa do que aconteceu.

― Mas sobre esse palácio? No livro ela diz que foi feito na outra realidade, e devia ter desaparecido quando mexeu no futuro e...

― Olha garota, por favor, esse livro é apenas uma ficção. Não acho que você ganhará nada acreditando nisso.

― Mas os fatos se encaixam...

― Pense no que quiser, não é problema meu. Continuando, ninguém sabe quando foi que os bruxos deixaram de existir, e mesmo assim, segundos os arqueólogos e historiadores eles não possuíam um poder igual esses da literatura, eram apenas sábios e gênios capazes de construir o tudo, até vida artificial... ― Julia se afastou, tentou abrir algumas portas dos quartos, porém a maioria estava trancada, suspirando, sentindo-se inútil, se aproximou da sacada, e admirou o esplendor daquele palácio.

― Mas o que diabos eu estou buscando? Não sei que diferença faz se aconteceu ou não... ― Ela encarou o livro branco e amarelo em suas mãos. Por que se sentia incomodada quando lia sobre o romance? Foi trágico, mas o final foi lindo, a duquesa se casou e viveram até ficar bem velhos, tiveram mais dois filhos. Cuidaram muito bem de seu povo, mas... o príncipe que foi esquecido, aquele que viveu cada segundo para Elisie.

― O que aconteceu com ele... ― Sussurrou novamente, antes de um suspiro.

― Se perdeu de seu grupo? ― Uma velha com mechas douradas entre seus cabelos brancos se aproximou, ela sorriu largamente quando encarou Julia nos olhos.

― Não, senhora.

― Um... se não for muito incomodo, poderia levar essa pequena caixa ao jovem de azul que está naquele quinto pavilhão? ― Julia seguiu o dedo da velha até o lugar no qual ela apontava. Negou com a cabeça.

― Não é permitido, aquele pavilhão é o lugar no qual a duquesa viveu com seu marido, os moveis são velhíssimos, e possui muitos documentos que são proibidos para visitantes. ― Explicou exatamente como aquela desagradável guia havia explicado. A velha simplesmente riu.

― Não se preocupe, eu trabalho aqui. Só vá, ninguém vai falar nada. ― Ela encarou a senhora com desconfiança, mas assentiu e foi até lá.

Julia encontrou o rapaz parado diante de um quadro ainda maior. Nesse a duquesa estava entre dois lindos homens, o loiro seu marido, e outro, o príncipe esquecido.

― Com licença... ― As palavras sumiram assim que seus olhos se encontraram. O príncipe esquecido estava ali, a mesma imagem do quadro, a mesma roupa antiga e bem feita. Não era como ela, que só parecia minimamente com a duquesa, os olhos de Julia eram azuis, e os cabelos cacheados, mas se alisasse-os, e usasse lentes castanhas, ambas seriam idênticas. Ele sorriu para ela, o sorriso mais perfeito que já vira.

― Vejo que também leu os espinhos da rosa amarela.

― Sim, você... se parece com o príncipe que desapareceu.

― Todos me falam isso. Muito prazer, sou Ernest.

― Sou Julia.

― Sabe, Julia, um amor dura apenas mil anos.

― Alguns, pois o meu durará por dez mil. ― Recitou a frase do livro, encantada, um pouco tímida, mas encantada por ter finalmente alguém para conversar sobre o romance que amava como se fosse seu.

Ernest curvou os lábios em um cálido sorriso e a cumprimentou com um aperto de mão, um leve frisson percorreu o corpo de ambos, que coraram, como dois amantes, embora tinham acabado de se conhecer.





FIM...





















Princesa Feroz  (Livro II )Onde histórias criam vida. Descubra agora