Capítulo 08

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Diversas mulheres, desde as mais jovens até as mais velhas usavam túnicas brancas com grossos colares dourados e pulseiras de opalas brancas.

Não sorriam, nem olhavam demoradamente para ninguém. Apenas rezavam quietas ajoelhadas no jardim. O som não era permitido ali, quem ousasse corromper o templo com barulho era disciplinado.

Elisie mexeu no colar em seu pescoço, o peso dele causava desconforto em sua pele nua. E as bolhas avermelhadas que tinha ao redor do pescoço ardiam em contanto com o ouro, porém, não podia tirar o colar.

― Majestades, e senhorita, sentem-se ao ar livre de nosso templo, e peçam perdão ao deus tempo e a todos os outros. Implorem para que deem fim a esse inverno que está matando o mundo.

A rainha se sentou na grama verde, próxima de uma suntuosa roseira amarela, não conseguiu conter o choro que explodiu minutos depois, ela devia pedido aos bruxos que fizessem o jardim do Cordial florescer novamente, devia fazer nascer as ervinhas de cheiro, fazer o perfume alagar todo o castelo.

― Elisie, por favor, se acalme. Você está incomodando as sacerdotisas. ― Alex a abraçou apertado, abafando seu choro convulso em seu peito.

― Ele ama seu jardim...

― Sim, sim... e ainda ama, sei que ama, em qualquer lugar que esteja.

― Alex, quero vê-lo, quero apenas vê-lo e... não esquecer seu rosto, seus olhos, seus cabelos loiros que me lembravam do pôr do sol. Quero vê-lo. ― Alex deu palmadinhas nas costas dela, aos poucos Elisie foi se acalmando, limpou as lágrimas do rosto, encarou a rosa por um instante e suspirou.

― Desculpe. ― Sussurrou para todas as sacerdotisas que haviam parado de rezar e observavam preocupadas. Depois daquela cena, Alex se perguntou infinitas vezes se o que estavam prestes a fazer era certo.

Elisie não gostava dos deuses, eles eram cruéis e como a feiticeira havia dito, eles não se importavam nenhum pouco com humanos que surgiram do coração do deus tempo, ele morreu, e de seu grande poder nasceu a vida dos humanos. Todos que viviam na terra eram filhos do deus tempo, eram filhos de um deus morto.

Se não fosse pelos deuses transformarem o coração morto de Tempo no jardim para seus filhos Bruxins e Zarus, a vida que nasceu do poder de Tempo, não sobreviveria, e isso sim, os humanos deviam aos deuses.

Elisie encarou Briana rezando ajoelhada ao seu lado, o tecido branco e o colar de ouro intensificavam sua beleza incomum, mesmo desnutrida e com aranhões no rosto a deusa transformada em bruxa era perfeita.

Era injusto, Elisie achava aquilo tão injusto, que desejava lançar sua adaga contra a garganta daquela maldita bruxa, se pelo menos tivesse aparecido antes que fossem para aquele outro continente, antes de sofrerem naquele lugar contaminado com todos os tipos de criatura dos bruxos. Se tivesse sido assim, Dixon ainda viveria, a criança que carregava em ventre chegaria a nascer e ter um nome. Alex tocou em seu ombro.

― Acabou, vamos.

― Já se passou três horas?

― Sim, Elisie. Você estava perdida em pensamentos como sempre? ― Ela assentiu olhando para a rosa. Alex agarrou seu rosto com as duas mãos. Os olhos dele penetraram em sua alma naquele instante, como se recarregasse suas energias. ― Aguente só um pouco mais. Não se destrua ainda, meu a... querida. Quando acharmos os filhos deformados, você... você escolherá o seu destino.

― Ele passou limpou as lágrimas que caiam do rosto dela com seu polegar, beijou sua testa demoradamente e então praticamente correu para dentro do templo, os olhos já ardiam prendendo suas próprias lágrimas, bateu no peito repetindo para si mesmo preciso parar de amá-la, preciso definitivamente parar de amá-la.

Princesa Feroz  (Livro II )Onde histórias criam vida. Descubra agora