Capítulo 16

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O gancho no teto era agora o ponto mais chamativo do quarto e Rick mantinha os olhos fixos nele, se perguntando se em breve voltaria a estar pendurado como carne no açougue.

Os dias estavam passando de maneira tão insustentável que Rick até se sentia profundamente arrependido da tentativa de fuga, visto que estava infinitamente melhor antes dela.

Atualmente se sentia como uma dona de casa cujo marido acaba de se aposentar e ela não consegue lidar com ele o dia inteiro.

Se arrependia por ter feito Maurício ficar preso em casa, embora por vezes rezasse para ele entrasse logo naquele quarto. O motivo? Precisava dele. Por que? Por culpa da tentativa frustrada de fuga.

Tal tentativa lhe rendeu um ombro e um polegar luxados e a "falta de confiança" fizera sua corrente desaparecer, deixando apenas a algema, que não lhe permitia nenhuma mobilidade e por isso lhe causava intensa dor nas costas e multiplicava a possibilidade de ter feridas, isso tornava necessária uma massagem hidratante diária, e aí residia um grande problema.

Sentia vontade de chorar a cada manhã, quando o corpo começava a sofrer como se tivesse sido atropelado por um caminhão. E nessa hora esquecia da angústia que o toque dele causava e se via desejoso pelo alívio que ele podia proporcionar.

Maurício soltaria as algemas e o ajudaria a sentar, o alívio seria tão grande que Rick até agradeceria, como se o sequestrador realmente estivesse lhe fazendo um favor. Então lhe serviria o café da manhã e lhe daria um anti-inflamatório que manteria o seu ombro e polegar calados e se recuperando bem. Depois o ajudaria a deitar novamente e lhe daria um banho parcial, após isso o viraria de bruços e concluiria o banho, terminando o processo com a massagem.

Ele seria deixado naquela posição por umas horas. Na hora do almoço seria colocado sentado e uma bandeja posta à sua frente. Se Maurício estivesse de bom humor até lhe permitiria comer sozinho.

A noite voltaria a ser algemado e no dia seguinte acordaria morrendo de dor outra vez. E assim o ciclo se reiniciaria.

Durante todo o dia Maurício permaneceria falante e Rick o incentivaria, pois além de aprender mais sobre ele, isso o mantinha feliz e ocupado com as próprias lembranças, evitando que Rick fosse punido por espirrar sem permissão. Entretanto, se Maurício ficasse de mau humor o dia seria muito diferente.

Ao ouvir a porta se abrir um frio se espalhou pela pele, como se tivessem aberto a porta da geladeira e não a do quarto, pois não sabia o que o esperava naquele dia.

O homem que sentou diante de Rick com uma bandeja de café da manhã repleta de frutas tinha olhos cinza, o que lhe permitira respirar aliviado.

Antes disso esse homem colocara no chão um potinho com leite, fazendo presidiária sair do esconderijo para tomar o seu café também. O retorno à convivência com a gatinha era o único motivo de alegria de Rick naqueles dias turbulentos.

A conversa até então havia girado em torno da vida de Maurício na Bahia. Rick aprendera sobre o pai e a tia dele.

— Aonde eu parei? Já te contei porque me afastei da minha tia, certo?

— Já. Você disse que era o melhor pra ela. — "Mulher de sorte". Pensou.

— Isso aí. Eu saí da casa dela quando consegui o emprego em São Paulo e decidi não entrar em contato quando percebi que poderia acabar machucando a mulher que cuidou de mim se ficasse com raiva dela.

— Você machucou o seu pai, Maurício? — O homem parou com a xícara de café a meio caminho da boca e olhou para Rick de forma curiosa.

— Você acha que eu o matei? Eu não fiz isso. Bem que tive vontade algumas vezes, mas não fiz. Ele teve um infarto fulminante. Era muito nervoso, como você deve imaginar.

Perigosa fama(COMPLETO)Onde histórias criam vida. Descubra agora