Último capítulo

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Acordou a tempo de ver o corpo danificado de Fael ser carregado para fora da casa e a culpa pesou na alma. O próximo corpo foi retirado sem tanto cuidado, não havia mais vida ali para cuidar.

***

Seu primeiro choque foi o teto desconhecido, que o remeteu à frase dita com raiva: "Vamos ter que nos mudar!". O segundo choque fez seu corpo inteiro estremecer, enviando faíscas de dor em todas as direções. Não conseguia se mexer, estava novamente preso à cama. — Fechou os olhos e começou a gritar:

— De novo não! Eu prefiro morrer do que continuar aqui com você! — Os soluços escapavam dos lábios assim com as lágrimas escapavam dos olhos.

— Fique calmo, está tudo bem. — Rick reconheceu a voz e sentiu uma mão acariciando a sua face, mas não abriu os olhos. Sabia que sua mente estava lhe pregando peças e não queria ver Maurício tocando-o outra vez.

— Vá embora! Me deixe em paz! — esbravejou.

— Olhe para mim, Donatello. — Aquilo foi o suficiente para lhe fazer acreditar.

Ao abrir novamente os olhos mais lágrimas se formaram. Não era um sonho, seu pai estava mesmo ali com ele. O abraço que recebeu trouxe a tranquilidade que Rick precisava para parar de tremer, embora não poder retribuir o contrariasse.

— Se aquele dia não foi um delírio, então o Fael... — A voz ficou embargada e a frase, incompleta.

Uma expressão pesarosa substituiu o sorriso que Anselmo ostentava segundos antes. — Ele passou por uma cirurgia e está em coma. Os médicos não sabem se vai acordar.

A felicidade de estar livre do cativeiro foi ofuscada pela incerteza da vida de Fael.

***

Pai e filho tinham muito o que conversar e tiveram bastante tempo para fazer isso enquanto Rick se recuperava no hospital.

— Eu tenho uma coisa pra te mostrar. — Anselmo pegou o celular e abriu um vídeo salvo na galeria.

Rick riu ao assistir Presidiária perseguindo um brinquedo que seu pai comprou para distraí-la enquanto ficava sozinha em casa.

— Obrigado por ter levado ela. Ela é importante pra mim.

— Quando vi os potinhos de comida naquele quarto imaginei que ela fosse sua amiga e teria que ser resgatada também. — Rick confirmou com a cabeça.

— Eu nunca te agradei por me salvar... — Deixou a voz morrer enquanto mantinha os olhos voltados para a logomarca do hospital no lençol.

— Ei, rapaz, você ainda é meu filho, e... eu fui culpado por você ter sido sequestrado em primeiro lugar.

— A culpa foi do Ma... dele. — Rick não queria nem mais ouvir ou falar aquele nome.

— Eu gostaria que tivesse sido diferente. Foi difícil dizer à tia dele — A voz de Anselmo exalava tristeza.

— Eu não consigo sentir pena dele — Rick disse em um tom gélido.

— Eu entendo porque só conheceu o lado carrasco dele, mas eu conheci o lado vítima também. Claro que eu não hesitaria em me livrar dele pra nos salvar, mas gostaria que ele tivesse tido uma chance de se tratar.

— Falando em chance... Eu estou feliz por... ter a chance de ter você aqui. Eu pensei que tinha perdido você lá e... — Rick se calou e Anselmo se aproximou dele.

— Eu também estou feliz por ter a chance de te dizer que sinto muito por tudo o que eu te disse. Por várias semanas eu temi não ter outra oportunidade de dizer. — Anselmo o abraçou e Rick ficou feliz por dessa vez poder retribuir ao abraço. — Eu fui a várias apresentações suas.

Perigosa fama(COMPLETO)Onde histórias criam vida. Descubra agora