"O homem é lobo do homem, em guerra de todos contra todos"
- Thomas HobbesO sangue era ácido fervendo em suas veias, queimando e corroendo tudo dentro dele, todos os seus ossos doíam, Ash já havia quebrado mais ossos durante a vida do que poderia contar, mas isso era um novo tipo de dor, tão forte e intensa que ele mal conseguia respirar, toda a sua cabeça doía, como se o cérebro estivesse expandindo e se esmagando contra o crânio, forçando um caminho para o lado de fora, seus olhos ardiam tanto que Ash os sentiu como se brasa estivesse sendo esfregada contra eles, seus músculos tencionavam e rasgavam, ele podia senti-los se movendo em espasmos sobre a pele. Ele não conseguia pensar, gritava a plenos pulmões, mas isso não ajudava a aliviar a dor, ele tentou gritar por socorro, mas nada saia a não ser gritos de agonia extrema, ele tentou se agarrar a alguma coisa, mas não havia nada, depois de um tempo ele já não conseguia mais gritar, sua voz o abandonara, deixando apenas uma garganta dolorida que à aquele ponto, parecia uma carícia comparada a tudo que ele sentia, o pulmões queimavam e pareciam pedras impossíveis de se mover para bombear seus precioso oxigênio. E então ela veio, a abençoada inconsciência, se apoderando lentamente dele, e o embrulhando em escuridão.
●◎●◎●
Algumas horas depois.
James suspirou, cansado. Não sabia ao certo porque havia descido até o porão, era um lugar úmido, abafado e cheirava a mofo, a pequena escada de madeira dava em um estreito corredor, de cada lado dele haviam diversas celas de tamanho e “conforto” variados, o lugar trazia a tona muitas memórias ruins. Mas ele tinha que admitir que estava curioso, e ao mesmo tempo, tenso e preocupado. O garoto loiro agora estava deitado no chão de uma cela, as roupas tinham manchas marrons de sangue seco, mas o rosto estava limpo, alguém havia se dado ao trabalho de limpar, agora James podia ver melhor suas feições, o cabelo era loiro escuro e levemente ondulado, estava molhado e grudado nas têmporas por causa do suor, os cílios eram longos e estremeciam enquanto ele dormia, provavelmente por causa de um pesadelo, tinha um hematoma na maça do rosto e James percebeu que já o tinha visto antes, do lado de fora da cafeteria, poucas horas antes da “briga” no bar.
“Ele é uma gracinha, não acha?”, o Lobo sussurrou na cabeça dele.
— Ele é perigoso, não acha? — James rebateu, geralmente ele tentava ignorar o que o seu álter ego* dizia, mas não estava com muita paciência para ele ultimamente.
O Lobo se limitou a apenas soltar um risinho.
O Caçador se agitou um pouco na cela, James estremeceu só de lembrar os gritos de dor dele na noite anterior durante a Transição, ele já havia presenciado o veneno agindo uma ou duas vezes antes, e em todas elas, agradeceu por ter nascido assim e não ter sido mordido.
James soltou as grades frias da cela que estava segurando, se virou para subir novamente para o segundo andar, mas parou quando viu Brooklyn descendo lentamente os degraus, o barulho irritante de madeira rangendo fez James franzir o cenho.
— Como está o nosso convidado? — Ela perguntou, ao se aproximar dele, a careta de James aumentou. Usava um daqueles vestidos pretos que mais pareciam camisetas com as palavras Brooklyn 82 gravadas nele com letras brancas, ele imaginava que ela só havia comprado aquilo porque tinha o próprio nome nele.
— O que você está fazendo aqui?
— O mesmo que você — Brooklyn estendeu a mão e massageou a testa dele com o polegar como sempre fazia quando James fazia uma careta, ela dizia que quando ele ficasse velho ficaria cheio de rugas naquele lugar se não parasse de fazer aquela expressão — Eu estava curiosa.
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Entre o precipício e os lobos
WerewolfAsh Granville com apenas 17 anos já era um talentoso caçador de lobisomens do Oregon, quando completasse seu 18° aniversário, os caçadores iriam elege-lo como o novo líder. Mas ele tinha outros planos: fugir para o mais longe possível da família que...