7 - Na frente o precipício, atrás os lobos

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"Um precipício na tua frente, uma matilha de lobos atrás de ti"
- Provérbio latino

Ash permaneceu congelado no lugar por um bom tempo depois que a mulher foi embora, tinha uma sensação gelada dentro de si, parecia que alguma coisa ficaria irremediavelmente fora do lugar se ele movesse um musculo, não havia notado que estava prendendo a respiração até o oxigênio se fazer necessário, ele respirou fundo e percebeu que estava tremendo, rezou para que a mulher não tivesse notado, a coisa que ele mais odiava nesse mundo era parecer fraco, não queria que ela soubesse o quanto aquela proposta o havia abalado.
Ash fechou os olhos e chacoalhou a cabeça como se isso pudesse afastar os pensamentos para longe de sua cabeça. Ele nunca, nunca, nunca...iria viver como um Lobo.

Ele preferia morrer. 

●◎●◎●

— Eu não entendo você — Brooklyn declarou para a mulher a sua frente —  algumas horas atrás você estava sugerindo que matássemos ele.

James estava sentado com as pernas cruzadas abaixo do corpo no sofá, uma livro aberto no colo, mas ele não estava realmente o lendo, sua atenção estava na conversa acontecendo na mesa de carteado a esquerda dele, a saleta onde estava era uma das três salas de estar do casarão, o lugar era razoavelmente grande, havia sofás e pufes que não combinavam entre si espalhados por ele, algumas mesinhas com vários livros empilhados sobre elas nos cantos, tinha uma mesa maior onde Brooklyn, Moereen e Bayron se encontravam sentados ao redor dela com cartas na mão, as duas mulheres estavam sentadas de frente uma para a outra e o pai de James estava entre elas, o cenho franzido para o baralho.

— Eu não sugeri que matássemos ele, sugeri que deixássemos ele se matar — defendeu-se tia Moe, pegando uma carta da pilha no centro da mesa — De qualquer forma foi só uma sugestão, eu não posso mudar de opinião?

James não estava olhando para Brooklyn, mas podia imaginar o canto da boca da irmã se torcer levemente, um gesto que indicava que ela não estava muito convencida.

— É claro que você pode mudar de opinião, só me surpreende que tenha sido tão rápido.

Moereen não respondeu de imediato, ela manteve os olhos sobre as cartas, mas parecia enxergar algo além delas, Brooklyn e Bayron levantaram o olhar de suas próprias cartas para olhar para ela.

— Você viu o mesmo que eu quando esteve lá em baixo, não foi? — Brooklyn disse calmamente.

James se levantou discretamente e saiu da sala, desconfortável com o rumo da conversa, ele sabia do que ela estava falando, tinha alguma coisa em Ash que fazia James se lembrar da infância, quando era muito pequeno ele costumava ter um fascínio por bolhas de sabão, adorava seus brilhos iridescentes e a forma como flutuavam suavemente no ar, ele queria segura-las nas mãos e guarda-las, e não entendia o porque delas estourarem em suas pequenas e gorduchas mãozinhas. Era assim que ele via Ash agora, o garoto Caçador mantinha a postura destemida e impassível, até arrogante as vezes, mas por baixo de toda essa armadura, tinha uma coisa capaz de se desfazer ao mais leve toque.

Ele caminhou sem rumo pelos elegantes corredores do casarão, a mente viajando, notou que havia trazido o livro consigo, pensou em voltar para guarda-lo, mas acabou desistindo e o deixando em cima de uma das poltronas do salão principal, James começou a caminhar em direção as escadas, mas parou abruptamente perto delas, a porta do porão ficava logo abaixo da escada da direita, diferente das outras portas do casarão, que eram entalhadas cada uma com um desenho diferente, a porta do porão era apenas lisa e envernizada, James foi tomado pela inquietante  vontade de entrar, como se o campo magnético de um imã o puxasse naquela direção.

Entre o precipício e os lobosOnde histórias criam vida. Descubra agora