4 - Conheça a si e ao inimigo

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"Conheça a si mesmo e ao inimigo e, em cem batalhas, você nunca correrá perigo"
- A Arte da Guerra

Ash abriu os olhos lentamente, teve dificuldade para focar algum coisa, a cabeça pesava, não se lembrava onde estava e como havia ido parar ali, ele pensou ter ouvido o burburinho de vozes, mas não conseguia as ouvir mais, ele fechou os olhos e quase adormeceu novamente, então se obrigou a sentar, o mundo pareceu girar e ele quase caiu para trás novamente, mas se manteve firme e olhou em volta.

O lugar era pequeno, as paredes de concreto estavam mofadas em alguns pontos, tinha uma pequena pia presa na parede a direita dele e um vaso sanitário sem tampa em um canto, Ash se perguntou se estava no chão de um banheiro, mas então notou as grades, ele tentou se colocar em pé, mas estava fraco demais para isso e se manteve sentado, ele ficou tenso quando ouviu o tilintar de alguma coisa, e ao olhar para baixo notou que seu tornozelo direito estava preso por uma corrente, ele xingou baixinho, aquilo era uma maldita prisão, ele levou as mãos aos bolsos, procurando seus pertences, mas os encontrou vazios.

— Espero que esteja aproveitando nossa hospitalidade — uma voz feminina disse, alguma coisa no cérebro de Ash estalou, ele reconhecia aquela voz, era a mesma que ele tinha ouvido antes de ser golpeado na cabeça na noite anterior, fora mesmo na noite anterior? Ele já não tinha mais certeza.

A garota  se aproximou das grades, a fraca luz da cela iluminou seu rosto, Ash reconheceu seus gélidos olhos azuis, ela ainda tinha um olhar de quem ia se divertir muito arrancando a cabeça dele, mas diferente de antes, agora seus longos cabelos castanhos estavam soltos e ela usava o que parecia ser uma grande camiseta que ia até os joelhos, ela aparentava ser frágil, mas Ash sabia que ela poderia mesmo arrancar a cabeça dele com as mãos nuas sem nenhum problema, até porque ele soube o que ela era no momento em a viu, Ash sentiu a raiva e a repulsa borbulharem dentro dele, mas manteve a expressão impassível, ele era mestre em mascarar suas emoções.

— Então você é uma Loba, não é?

— Nooosa, os Caçadores não são tão burros como eu pensei — ela disse, a voz transbordando sarcasmo, sempre mantendo um sorriso afiado no rosto.

Ash precisou de toda sua força de vontade para manter a expressão calma, ele precisava ser frio se quisesse encontrar uma maneira de sair dali.

— Qual é o seu nome? — a garota perguntou.

Ele abriu a boca para responder, mas então notou alguém se aproximando, a primeira coisa que ele viu fora dedos longos e pálidos segurando as grades, depois o rosto entrou em foco, Ash perdeu o ar por um segundo, os cabelos negros do garoto contrastavam com sua pele branca leitosa, as maças do rosto eram definidas, os lábios eram cheios, e apesar de sua expressão mal humorada, seus intensos olhos verdes o denunciavam, eles carregavam um ar de inteligência e pureza angelicais, ele era bonito, é claro que o conceito de beleza varia de pessoa para pessoa, mas você poderia mostrar aquele garoto a qualquer um e todos concordariam sobre o quão bonito ele era.

— Eu fiz uma pergunta — disse a garota, um pouco impaciente, com uma das sobrancelhas levantadas — Qual é o seu nome?

— Meu nome é Granville, Ash Granville.

— Ash*? — a garota ecoou.

— Eu gaguejei? — ele disse, tentando irrita-la, mas pareceu ter o efeito contrário nela.

— Você é muito mal educado, Cinderella*

— E quem são vocês?

— Eu sou Brooklyn Campbell — ela disse, fazendo um floreio com a mão esquerda como se estivesse tirando um chapéu invisível da cabeça, depois apontou para o garoto ao lado com o polegar direito — E esse é meu irmãozinho James.

Entre o precipício e os lobosOnde histórias criam vida. Descubra agora