12 - Incólume

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Brooklyn estendeu a mão como um convite silencioso, ela havia feito uma proposta corajosa e perigosa, ele pensou que ela provavelmente sabia do risco que estava correndo ao convocar um ex-caçador para a própria alcateia, era como colocar uma maçã na cabeça e esperar que o atirador não errasse o tiro.

Ash fechou os olhos e respirou fundo, a expiração saiu trêmula, as bochechas ainda ardiam por causa do choro, mas as lágrimas não caiam mais, a mão esquerda ainda envolvia o pingente de bala de prata, até pouco tempo atrás Ash desprezava os Lobos mais de que a Caçada, agora o desprezo pelos Caçadores havia se tornado raiva, um milhão de pensamentos pareciam passar ao mesmo tempo pela cabeça de Ash, mas um deles se sobressaia aos outros: Eles tiraram a minha mãe de mim. Seus sentimentos atuais pela Caçada não excluíam a raiva que sentia pelos Lobos, que apesar de ser menor, ainda existia, os Caçadores o criaram para fazer coisas ruins e achar que isso era o certo, eles haviam criado uma prisão psicológica para Ash, mas os Lobos o haviam colocado em uma prisão real, com grades de verdade, como se ele não valesse mais do que um animal. Ash estava cansado de ser prisioneiro. Ele aumentou o aperto ao redor da bala de prata e a puxou com força, houve um estala quando a tira de couro se partiu, a nuca de Ash doeu onde o colar tinha arrebentado, ele resistiu ao impulso de esfregar o machucado.

— O que você quer que eu diga? — Ash perguntou a Brooklyn, surpreendendo até a si mesmo, a voz de Ash não carregava raiva, ele apenas parecia extremamente cansado — Quer que eu diga que eu aceito ser o seu bichinho de estimação? Você me trancou nessa cela e agora acha que eu vou aceitar de bom grado baixar a cabeça pra você? Eu passei a minha vida inteira sendo controlado, já estou cansado disso.

A garota abaixou a mão tinha estendido para ele, ela parecia um pouco indignada, pareceu que ela estava prestes a discutir, mas se conteve e respirou fundo antes de falar.

— Eu sinto muito — Brooklyn começou de forma sincera — Eu sei que o que eu fiz foi crime e não justifica nada, mas eu estou falando sério quando digo que nós só queremos te ajudar, nós queremos de verdade sermos seus amigos. A sua mãe arriscou a própria vida para manter a minha mãe e a nós em segurança, essa é a nossa forma de agradecer.

Mais um momento em que ninguém disse nada, James suspirou e os outros dois olharam para ele, o garoto Campbell pareceu incomodado com toda aquela atenção sobre si, mas então falou pela primeira vez em muito tempo:

— Venha com a gente, você pode ficar na casa, olha, nós não estamos dizendo que vai ser fácil, provavelmente os outros não vão gostar nem um pouco, mas eu e Brooklyn, até a tia Moerren, nós vamos ficar do seu lado.

Ash fechou os olhos e considerou suas opções, ele não tinha para onde ir, na verdade nem as roupas que usava no momento eram suas, além do mais, ele realmente não poderia passar pela transformação sozinho, poderia perder o controle e fazer alguma coisa da qual ele estava decidido a fazer mais.

— Tudo bem — Ash disse por fim —Pelo menos até a lua cheia.

Os gêmeos pareceram satisfeitos com a resposta dele e Ash conseguiu identificar os sorrisos discretos nos rostos deles, o clima imediatamente pareceu mais leve.

— Agora vamos sair daqui — James disse — Eu odeio esse lugar.

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Se você é chamado para conversar em particular com Archie Granville pode ter certeza de que não é coisa boa. Dominic seguia alguns passos atrás dele, a fumaça saia da frente do rosto de Archie e seguia pelo ar até Dom, o garoto não demonstrou estar incomodado com o cheiro de tabaco, nem com o fato de estarem descendo até a garagem subterrânea do novo QG, o lugar estava escuro e parecia um bom cenário para um filme de terror de baixo orçamento, Archie se aproximou de uma alavanca e por um momento Dom pensou que ele iria acordar o Frankstein, mas quando ela levantou apenas acendeu as luzes, os carros foram iluminados pelas lâmpadas fluorescentes que zuniam, o garoto reconheceu alguns deles como sendo veículos de Caçadores, outros pareciam fracos demais ou baixos demais para pertencer a alguém da Caçada, então ele deduziu que fossem de clientes do bar no andar de cima, na luz azulada o estacionamento em si não era grande coisa, apenas um grande espaço com paredes e colunas de concreto, as riscas amarelas pintadas no chão para delimitar as vagas já estavam desbotando com a idade.

Entre o precipício e os lobosOnde histórias criam vida. Descubra agora