14 - Um conto de duas almas

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"Morrer por um amigo não é tão difícil quanto encontrar um amigo pelo qual valha a pena morrer."
- Senhor das Sombras (Cassandra Clare)

Os garotos seguiram em silêncio até o lado de fora do casarão, havia grama verde e bem aparada em um raio de duzentos metros ao redor da casa para separa-la da densa floresta, James olhou por cima do ombro para Ash, para ter certeza de que ele não iria fugir ou apenas para ter certeza de que estava sendo seguido... ou ambos. De qualquer forma, Ash se deixou ser guiado sem dizer uma palavra, já não se importava mais em fugir e francamente, se James o estivesse levadando para o nivel mais ardente do inferno ele também não se importaria.

Pensar na mãe o fazia sentir um vazio tão profundo que ele achava que iria sufocar, por esse motivo ele havia guardado as lembranças em um lugar tão escondido em sua mente que sequer se lembrava do rosto dela, mas ainda assim aquela sensação horrivel se apoderava dele sempre que ouvia o nome dela. James parecia ter adiquirido uma certa admiração por Catarina, uma coisa que Ash estava tendo uma certa dificuldade para fazer, uma Caçadora ajudando uma Loba ainda parecia muito surreal para ele, querendo ou não a doutrina da Caçada ainda estava muito enraizada nele apesar de tudo.

Eles se infiltraram pela mata de uma forma que pareceu aleatória para Ash, não havia uma trilha para seguir, tinha apenas a vegetação virgem da floresta em seu confuso emaranhado de plantas, mas James parecia saber exatamente para onde estava indo, o que por fim acabou atiçando a curiosidade de Ash.

— Para onde vamos? — perguntou.

— Você vai ver.

— Vocês Campbell tem algum tipo de déficit que os impede de dizer aonde estão levando as pessoas? O que custa dar informações como: "Nós iremos até a padaria comprar brócolis"? — disse Ash, exasperado.

James o olhou por cima do ombro com o cenho franzido.

— Não vendem brócolis em padarias — disse.

— Foi a primeira coisa que me veio a cabeça, mas essa não é a questão.

— Visitar a minha mãe — James respondeu depois de um segundo em silêncio.

Ash congelou no lugar, o outro se virou para olhar para ele e riu ao se deparar com o espanto no rosto de seu companheiro desbravador de florestas.

— Nós temos um cemitério particular — esclareceu.

— Puta que um pariu, James — Ash levou a mão a testa — Não me mate do coração.

O garoto Campbell riu novamente, mas a risada diminuiu conforme eles seguiam o caminho, chegaram até uma árvore gigante tombada no chão e quando Ash achou que já não havia mais para onde seguir, James escalou habilmente o tronco, parando no topo para olhar para baixo, depois saltou do outro lado.

Ash tentou contornar a árvore, mas ao fim dela havia outra árvore de igual ou maior tamanho e quando esta última terminava, outro tronco tombado começava, eles eram tão grandes que provavelmente precisariam de dez pessoas para abraçar o seu diâmetro quando ainda estavam em pé, Ash percebeu que as árvores caídas formavam uma espécie de muro, não teve outra escolha além de voltar para o lugar onde James havia sumido e escalar a árvore para ir atrás dele, seus pés escorregaram duas vezes na casca grossa, mas fora isso ele conseguiu subir sem muitos problemas, do topo era possível avistar uma abertura entre duas árvores que levava para uma clareira, por onde a luz se infiltrava.

Ele saltou para o chão, dobrando os joelhos para diminuir o impacto, mas ainda assim o choque do contato com o solo subiu de seus calcanhares para a perna, ele ignorou e continuou caminhando.

Entre o precipício e os lobosOnde histórias criam vida. Descubra agora