Capítulo Quinze - Desculpa, era brincadeira

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Todos arregalaram os olhos assim que fiz a pergunta e por um momento senti pena, mas eu não consegui segurar por muito tempo.

Por mais que eu soubesse que iria doer, eu não pude resistir depois de ver todos com uma cara tão confusa.

Eu olhei para Jessica e podia notar que ela também não conseguia mais.

Como se combinado, caímos juntos na gargalhada.

Eles ficaram mais confusos ainda, o que nos fez rir mais. Se entreolharam e depois olhavam pra mim, depois para Jessica, repetindo o movimento com a cabeça várias vezes várias vezes. Pareciam uma plateia de um jogo de ping-pong.

Tomei fôlego, pois meu corpo já começava a protestar contra minha risada exagerada, e falei:

- Da próxima vez, eu escolho onde vamos comer.

Como se todos eles tivessem segurando o ar, suspiraram aliviados e se aproximaram da cama.

- Caraca mulher, não assusta a gente assim não! – exclamou Noah, um pouco embaraçado, passando as mãos pelos cabelos, mas com um sorriso.

- Quase tive um infarto. – riu Spencer meio nervoso.

- Aproveita que você já está num hospital. – Mike brincou e todos nós rimos.

O único que não havia falado nada era Ethan e me atrevi a olhar para ele, pensando que ele tinha se interessado por, sei lá, um inseto no chão. Até porque eu não me surpreenderia se me dissessem que haviam o trazido a força, apesar de eu desconfiar que ele sente alguma coisa estranha por mim.

Me arrependi assim que olhei. Ele me observava com uma intensidade tão forte que me senti uma criancinha, que chegou tarde em casa, sendo repreendida pelo pai. Sabe? Com o olhar doce, aliviado e bravo que só pai tem.

E por um momento tudo parou. Não sei se ficamos nos encarando por horas, dias, ou segundos, mas sabia que só queria me aproximar, abraçá-lo e dizer que eu estava bem.

Meu Deus, da onde veio esse romantismo todo?

Corei e encarei minhas mãos. Queria enfiar a cabeça num buraco. Ethan estava visivelmente preocupado comigo e eu estava ali, pensando mal dele.

Pelo canto do olho vi que ele pigarreou e desviou seu olhar exatamente quando todos pararam de rir. Percebendo a quietude, voltou a sua cara de mal-humorado e saiu correndo do quarto, batendo a porta.

Por segundos vi um Ethan diferente, gentil, preocupado, amigável que eu não esqueceria tão cedo. Foram os melhores segundos da minha vida.

- O que deu nele? – Mike, apontou com o polegar e fez uma careta.

- Será que foi culpa da brincadeira? – Jessica perguntou para ninguém em específico.

- Não foi muito legal essa brincadeira ai, foi muito de mal gosto. – Mike fez um muxoxo.

Eu ri.

- Desculpa, gente. É que Jessica me contou que vocês estavam muito tensos na sala de espera e eu tive essa ideia para quebrar o gelo. Acho que não foi muito boa. – apontei pra porta que Ethan havia acabado de sair.

- E ai? Como você se sente depois de saber que ficou seis semanas em coma? – Noah perguntou, sem rodeios.

Eu ri nervosa. Para mim eu havia, simplesmente, dormido e acordado oito horas depois, como sempre, mesmo sentindo com se não bebesse nem comesse por meses, mas dormir por seis semanas era inimaginável. Perdi muito tempo da minha vida numa cama de hospital sem saber como meus amigos e meus pais estavam se virando no mundo lá fora. Era frustrante.

- Estranha. – respondi, sem mais explicações. Depois que percebi que eles esperavam mais, completei: - Acho que vou ser a excluída que não vai entender nenhuma conversa, pois perdi as últimas seis semanas de acontecimentos.

Eles riram e me prometeram que iriam tentar me contar tudo antes mesmo de eu receber alta.

- Mas, tenho que dizer, você nos deu um baita susto. – Spencer comentou.

- Eu sei, eu sei. Já pedi desculpas. – suspirei.

- Não foi isso. Foi o... seu estado. Não sabíamos se íamos te ver de novo... – Spencer completou.

A sala voltou ao clima sombrio e o gelo que quebrei foi em vão. Jessica começou a chorar.

- Ah, April. Eu não sabia mais o que fazer. Eu tava desesperada. Eu não queria pensar em não ter você mais por perto. – Ela se encostou em Noah, que afagou sua cabeça. Achei aquele gesto um pouco peculiar.

Sorri de uma forma que mostrasse pra ela que eu estava bem, não iriam sair mais de perto.

- Realmente, acho que se Noah não estivesse por perto, Jessica iria enfartar. – Noah riu de leve e abraçou mais a minha amiga.

Espremi a visão. Eles estavam...

- Vocês estão namorando?! – perguntei quase gritando. Uma noticia dessas devia ser a primeira que Jessica deveria me contar! Eles sorriram, envergonhados. Eu revirei os olhos. - Como você pôde esconder isso de mim? – perguntei a Jessica com um muxoxo.

- Eu pretendia falar quando tudo estivesse mais calmo. – ela sorriu. Dava para ver que estava realmente alegre.

Suspirei, derrotada, e sorri em resposta, aprovando a união. Depois me toquei que essas seis semanas podem não ter feito diferença na minha vida, mas fez na de todos ao meu redor.

Com a intenção de mudar de assunto, lembrei da conversa que tive com minha mãe, sobre o incêndio.

- Minha mão me disse que um de vocês me salvou. - comentei. Na verdade, ela havia dito "Um amigo muito lindo seu salvou você naquele dia. Ele estava desesperado, coitado, mas eu não me importaria de tê-lo como genro, ele era um amor...".

- Ah, sobre isso... – Noah falou parecendo não saber por onde começar.

- Bem fui eu. – disse Spencer, e todas as cabeças viraram para ele. – Eu te salvei. – e ele sorriu, como se fosse o maioral.

Eu ri.

- Vem cá me dar um abraço, meu salvador. – ri mais ainda, zoando ele, mas ele não hesitou e me deu um abraço tímido. – Obrigado. – sussurrei em seu ouvido.

Quando ele se afastou, podia jurar que seus olhos mostravam arrependimento, mas logo foram substituídos pela sua alegria. Estranhei, mas não me importei.

Ethan entrou igual um furacão, sem nem bater na porta e simplesmente sentou no pequeno sofá do cômodo, observando todos nós com o braço apoiado no encosto. Me senti uma presa prestes a ser devorada por um leão e, pela cara dos outros, eles também não estavam confortáveis.

Tentando quebrar novamente o silencio, pensei em algo para falar.

- Ethan. – chamei e ele arregalou os olhos, esperançoso, mas eu não sabia dizer o que esperava. – Foi só uma brincadeira, eu juro. Desculpa.

Ele suspirou, balançou a cabeça e saiu. Dessa vez, sem bater a porta.

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Oi gent, demorou mais veio kkkkkkk ;)

Com a Banda COLORS!Onde histórias criam vida. Descubra agora