Capítulo 6 - Mas que mal fiz eu?

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- Despachem-se! – Gritei pela milésima vez. Para variar estávamos todos atrasados, por mais que tentássemos cumprir horários, cada vez se tornava mais complicado fazê-lo.

- Acalma-te! – Exclamou a Ana. Então, mas ela ainda não saiu?

- Não tens aulas? – Perguntei.

- Não, é quarta-feira só entro às 11 horas. – Respondeu, sentando-se no sofá, descontraída.

Finalmente o Martim e a Catarina resolveram aparecer, e conseguimos sair de casa. Durante todo o caminho a música infantil ecoava no carro, com o tempo habituei-me a ouvir as músicas dos Caricas todos os dias. Parei na escola, tendo uma dificuldade enorme em encontrar estacionamento aquela hora, e lá os deixei à porta da escola sempre com as mesmas recomendações, eles apenas respondiam "sim mãe", mas acho que já nem ouviam o que eu realmente dizia.

Voltei para o carro, mudando de estação de rádio, aproveitando para ouvir as notícias da manhã. Era sempre a mesma desgraça: assaltos, acidentes, cheias no inverno, fogos no verão. Quando dei por mim, já estava na revista. Dei umas voltas à procura de estacionamento, e depois de muito procurar lá consegui um espacinho onde enfiar o carro. Retirei a minha mala e o portátil do porta-bagagens, e segui para a minha secretária.

- Estás atrasada. – Falou uma voz masculina. A minha cadeira estava de costas para a porta, e um ser misterioso estava a controlar os meus horários. Mas quem será? Não demorei muito tempo a descobrir, quando se virou e vi o Joel. O que é que ele faz aqui a esta hora.

- O que estás aqui a fazer? – Perguntei, arrumando as coisas que carregava.

- Sou o mais recente trabalhador! – Exclamou divertido. – A tua cadeira é confortável. – Comentou, levantando-se.

- Ótima notícia! – Exclamei, sentando-me no meu "trono". – Ainda bem que o meu tio te deu uma oportunidade. – Comentei.

- Acho que o nome do meu pai deu uma ajudinha. – Falou, encolhendo os ombros.

- Mas não era ele que não apoiava a tua carreira de fotografo? – Perguntei confusa.

- Eu não disse que ele tinha intervindo na minha contratação, mas sim o meu sobrenome. – Explicou, e um "O" se formou na minha boca. – Eu vou conhecer o meu local de trabalho! – Exclamou divertido.

- Espero que gostes de trabalhar aqui. – Falei.

- Eu também, é uma oportunidade fantástica. – Respondeu. – E hoje vais almoçar comigo para comemorar este meu feito. – Informou, saindo da minha sala sem me dar tempo para recusar a sua proposta. Onde eu me fui meter.

***000***

- Este vinho é divinal! – Exclamou o Joel, provando o vinho da casa. Tinha-nos sido recomendado pelo empregado, e realmente era muito bom.

- Não bebas demais. – Avisei.

- Eu sei, nem devia beber ao almoço, mas é mais forte que eu. – Comentou.

- Qual o balanço da primeira manhã de trabalho? – Perguntei, olhando para o cardápio do restaurante. – Este bacalhau tem um aspeto divinal. – Comentei.

- Não é só o aspeto, o sabor também é fantástico. – Concordou. – Sinceramente gostei, as pessoas são simpáticas comigo. – Respondeu.

- É o teu primeiro dia, parecia mal começarem logo a tratar-te mal. – Respondi, fechando a ementa, já em tinha decidido ia provar aquele bacalhau que me saltou à vista.

- Também é verdade. As mulheres foram particularmente simpáticas... - Murmurou, fazendo-me rir. Porque será? Elas de burras não tinham nada, só de olhar para o Joel qualquer pessoa se sentiria atraída, o seu olhar e charme natural eram suficientes para se atirarem aos seus pés.

- Vais ter trabalho! – Exclamei.

- Não me digas isso, eu já estou velho para isso. – Murmurou. Sério? Solteiro e velho para flirt, será gay ou mentiu-me e é comprometido?

- A sério?

- Sim, a minha última relação não foi das melhores. – Contou.

- Compreendo.

- Mal de amor?

- A vida é difícil. – Respondi, olhando para o copo de vinho. – Digamos que sou viúva. – Contei. Vi os seus olhos a dilatarem, quase que parecia que iam sair disparados.

- Os meus pêsames. – Falou. – Foi há muito tempo?

- 4 anos. – Respondi.

- É o pai da Catarina e do Martim? – Perguntou e eu assenti. Quem diria que a minha vida era assim tão traumática? Provavelmente ninguém.

- Mas felizmente consegui superar, com a ajuda da família e dos amigos. – Respondi.

- És uma mulher de força. – Comentou.

- E uma mãe de 3 filhos, não dava para cair. – Respondi.

- Fizeste um ótimo trabalho, tens ali crianças adoráveis. – Falou, fazendo-me sorrir.

- Pois tenho.

***000***

- Já viste o giraço novo? – Perguntou a Rute, sentando-se na minha frente. Eu estava a tentar terminar de rever um artigo para o site, ela tinha sempre o melhor timing para vir fazer mexericos.

- Sim.

- É um pão! – Exclamou. – Sabes como se chama?

- Joel.

- Estás informada. – Murmurou. – Aqueles abutres da maquilhagem vão cair-lhe em cima num instante. – Comentou.

- Estás muito preocupada.

- Claro que estou, eu apaixonei-me por ele, ou melhor pelo corpo dele. – Respondeu, como se fosse óbvio. – Elas vão basicamente trabalhar com ele, por aqueles olhos em cima dele todo o dia, e eu não. – Falou chateada, enquanto eu apenas me ri.

- Olívia! – Alguém chamou, mas não era a minha priminha cusca. Levantei a cabeça e vi o Joel. – Aquele meu amigo do restaurante disse que temos de lá voltar para provar o novo prato. – Contou.

- Ele quer engordar-me? – Perguntei. – Aquele bacalhau estava divinal. – Comentei.

- Eu disse-te que era maravilhoso. – Respondeu. A minha prima estava pasma a olhar para nós, até que me lembrei que nem os tinha apresentado.

- Joel, esta é a minha prima, Rute, trabalha cá como editora. – Apresentei. Ele aproximou-se dela para a cumprimentar, e ela parecia que ia desmaiar a qualquer momento.

- É um prazer conhecê-la. – Falou. – Agora tenho que voltar ao trabalho!

- Bom trabalho! – Exclamei.

Assim que ele se afastou a minha prima começou a observar-me com aquele olhar malicioso dela. Nunca o percebi bem, nem para que é que serve, mas sei que me vai chatear com alguma coisa.

- Então conheces o pão! – Exclamou. – Estavas a guardá-lo só para ti? – Perguntou, fazendo-me olhar para ela com cara de parva.

- Não, ele é um velho amigo. – Respondi.

- Foi este que foi jantar a tua casa? – Perguntou.

- Sim.

- O meu deus! – Exclamou. – Calma então eras tu que as abutres estavam a criticar quando cheguei. – Contou.

- Criticar? Porquê? – Mas que mal fiz eu?

- Elas estavam a dizer que o Joel tinha ido almoçar com uma gaja que não tinha nível para ele. – Contou. Elas eram assim, não eram todas as da maquilhagem, mas sim o grupinho que se tinha formado, as hastags no instgram eram #bestsquad #wearebest e coisas do género.

- O que é que elas têm é dor de cotovelo! – Exclamei.

- É que nem duvides, ele não olha para elas. – Concordou, fazendo-me rir.

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