Capítulo 11 - Duas mentiras? Como assim?

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- O que é que estás aqui a fazer? – Perguntou o Joel, aproximando-se de nós.

- Olhe aqui está ele. – Falei sarcástica.

- Eu consigo ver. – Respondeu-me, fulminando-me com os olhos. Deve pensar que tenho medo dela! Coitada!

- Não me respondeste à pergunta Camila. – Falou o Joel autoritário.

- Vim ver-te amor. – Falou a loira, aproximando-se dele, contudo ele afastou-se.

- Já viste, agora vai-te embora. – Ordenou, mas a mulher não estava disposta a isso.

- Quero que me mostres o lugar. – Falou, impondo-se, mas só o fez rir.

- Não tenho nada para te mostrar. – Respondeu o Joel convicto.

- Tens sim.

- Vamos conversar para outro lado. – Falou o Joel. Indicou o caminho à loira e depois olhou para nós murmurando "desculpa".

Eu não tinha nada a haver com a vida dele, mas não gostava de mentiras. Porque é que ele não disse logo que tinha namorado? Não era preciso andar a mentir. Por outro lado, a forma como ele a tratou não era de muito amor, muito pelo contrário, ficou furioso quando a viu. Se calhar queria manter a relação em segredo. Era uma possibilidade, mas não me parecia isso.

- Que cena. – Comentou a Filomena.

- Verdade, mas tenho a certeza que tens mais trabalho para fazer. – Falei. Fui para a minha secretária enquanto ouvia o seu suspiro. Sempre preguiçosa. Era mais que sabido que ela não gostava de trabalhar, mas ao contrário das outras não era tão fofoqueira, gostava de comentar a vida dos outros, mas normalmente era discreta.

Vi o Gonçalo ao longe e fui ao seu encontro. Continuava chateada com ele, tinha-me mandado o artigo no último momento e não estava a ser profissional.

- O que se passa contigo? – Perguntei, indo diretamente ao assunto.

- Nada.

- Nada? Estás louco? – Perguntei, perante o seu embaraço. Não falei propriamente baixo e não estávamos sozinhos. – Isto não pode voltar a acontecer.

- Desculpa.

- As desculpas não se pedem, evitam-se. – Resmunguei. – Não eras assim, o que é que te deu?

- Estive com problemas pessoais. – Respondeu, mas não me convenceu totalmente. Estava ali escapar-me alguma coisa.

- É bom que os tenhas resolvido, porque não podem interferir na tua vida profissional. – Avisei em tom autoritário.

- Tens razão, não vai voltar a acontecer. – Prometeu.

- Espero que não.

***000***

- Não se fala de outra coisa aqui na redação. – Comentou a Rute, sentando-se em frente à minha secretária com um copo de café nas mãos.

- De quê?

- Da namorada do Joel. – Respondeu como se fosse óbvio. – Dizem que ela veio bater-te. – Contou, fazendo-me levantar os olhos do computador e olhar para ela. Só podem estar a gozar comigo.

- Estás a gozar.

- Gostava, mas não.

- Algum dia eu passo-me. – Falei, batendo com o punho na secretária.

- Já aguentaste tanto, é só mais um boato. – Comentou. – Como tu dizes elas não valem a pena.

- Estou farta, percebes? – Falei. – Elas inventaram tudo sobre mim quando o Fred morreu, coisas que se fosse outra tinha-lhes dado uma tareia. – Contei. Tinha sido o meu pior período, senti que tudo à minha volta estava a ruir, a minha família, a minha vida, quase não me restava nada. E em vez de me esquecerem, não inventaram que eu andava metida com o meu ex-marido, que era cabra, uma vaca e tudo o que elas quiseram.

- Devias ter dado. – Comentou. – Se quiseres ainda vais a tempo.

- De lhes bater? – Perguntei retoricamente. – Iam logo para tribunal por agressão.

- Acusa-as de difamação. – Sugeriu. – Elas fazem o que querem.

- Se elas fossem embora tudo se resolvia. – Suspirei.

- Queres que dê um jeito? – Perguntou. Era tentador, muito tentador. Não. Não ia descer assim tão baixo, se elas fossem despedidas era por incompetência e não porque eu estava farta de as aturar. Não posso abusar do poder.

- Podemos falar Olívia? – Perguntou o Joel, aparecendo do nada.

- Olha quem apareceu, a namorada já foi embora? – Brincou a Rute, mas ele nem se mexeu. – Eu estou a mais, por isso, adeus. – Falou a minha prima percebendo o ambiente pesado.

- O que queres? – Perguntei.

- Conversar contigo.

- Sobre?

- Sobre o que aconteceu. – Respondeu.

- Eu não devia estar a falar contigo. – Falei, voltando a focar-me no meu trabalho.

- Porquê?

- Porque já corre pelos corredores que a tua namorada veio aqui bater-me. – Respondi, perante a sua cara de surpresa.

- Estás a brincar?

- Achas?

- Quem é que disse isso? É que foram duas mentiras na mesma frase. – Respondeu. Duas mentiras? Como assim?

- As do costume. – Respondi.

- Não ligues ao que elas dizem, não eras tu que dizias que elas não valiam a pena? – Falou usando contra mim as minhas próprias palavras. Mas porque é que eu digo estas coisas?

- Estou farta. Eu quero viver a minha vida sem problemas, sem ninguém a chatear, mas parece que não consigo e isso é tão frustrante. – Desabafei. – Eu não posso fazer, dizer e até pensar alguma coisa que aparece logo alguém para comentar. Fartei-me, percebes?

- Percebo. – Respondeu. – Eu disse-te que havia muitos a criticar-me, mas enquanto a ti são perfeitos desconhecidos, a mim é família, que dói muito mais. – Contou. Senti-me mal por ele, afinal eu estava ali a enervar-me com os meus problemas, mas esquecia-me que ele também estava metido. – Nada do que eu faça é suficientemente bom para eles. Para o meu pai é o facto de eu ser fotografo, que não é uma profissão digna, para a minha mãe é o problema de eu não querer casar com a Camila. – Desabafou.

- Essa não é tua namorada? – Perguntei confusa.

- Não, eu não tenho namorada Olivia, só que ela ainda não percebeu isso. – Respondeu. Não é algo que me deixasse surpreendida, a vida tinha-me ensinado que havia gente para tudo.

- O que é que veio aqui fazer então? – Perguntei na tentativa de satisfazer a minha curiosidade.

- Controlar-me. – Falou. – Ela tinha que vir analisar tudo, fazer com que todos pensassem que ela era minha namorada, que eu estava comprometido para que ninguém se aproxime. – Contou. Meu Deus a mulher é louca. Assim explicava a fúria dele quando a viu, o ódio de a ver no seu mundo novamente.

- Existe gente sem noção.

- Pois existe, o pior é que a minha mãe apoia, e faz de tudo para que eu volte para ela, quando eu não quero. – Falou. – Desculpa estar aqui a chatear-te com os meus problemas, já tens os teus, e eu ainda venho queixar-me. – Falou, levantando-se.

- Não tens de pedir desculpas, somos amigos. – Respondi, fazendo-o rir.

- Obrigada por tudo Olivia, e desculpa por todas as confusões em que estas metida por minha causa. – Falou, e eu apenas sorri. Era verdade que os boatos se tinham intensificado com o seu aparecimento, mas eu apenas tinha que respirar fundo e pensar que realmente elas não mereciam que perdesse o meu tempo a preocupar-me com a merda que sai das suas bocas.

- Não te preocupes. – Respondi. – Essas fofoqueiras de merda não merecem que percamos o nosso tempo a falar delas. – Conclui sem papas na língua.

- Concordo contigo, se ligarmos ao que elas dizem apenas se vão sentir mais importantes. – Concordou.

Era uma nova era na minha vida, sem ligar ao passado, às pessoas que achavam que podiam opinar a minha vida sem que lhes fosse pedido opinião. Que se lixem todos. 

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