Capítulo 12 - O que é que ele tem de especial?

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 - Mamã! – Exclamou o Martim, enquanto eu o empurrava no baloiço. Ele adorava baloiçar-se, mesmo depois da Catarina ter partido a cabeça num, ele não perdia o amor pelo baloiço.

- Ana empurra com mais força! – Gritou a Catarina para suspiro da irmã mais velha. Era como o irmão, tinham um fascínio por baloiços que eu não conseguia compreender. Ao menos podiam aprender a baloiçar sem alguém ter de os empurrar.

- Estou farto. Podes para mãe. – Falou o Martim.

- Vou deixar de empurrar e ele vai parando. – Falei, encostando-me à árvore que estava ao lado dos baloiços.

Ali de longe qualquer pessoa diria que tinha uma boa vida, só que nem tudo é o que parece e nunca a nossa imagem define quem somos. Não é o meu cabelo louro que definia a minha inteligência. Tinha uma bonita família, mas só eu sabia o que tinha sofrido, e por mais orgulho que tivesse nos meus três filhos eu não me esquecia da volta que a minha vida tinha dado.

- Estás nas nuvens? – Perguntou a Ana, fazendo-me acordar para o mundo real.

- Quase.

- O que se passa na tua cabeça?

- Nem eu sei.

- Se tu não sabes, quem sabe?

- Não sei.

- Acorda para a vida mãe. – Falou a Ana, fazendo-me olhar para ela. – O pai, o Frederico, o Joel... - Começou. – Ai o Joel! – Exclamou. – São os homens que te dão a volta à cabeça.

- Tens tanta experiência... - Murmurei.

- Oh mãe! Para opinar sobre a vida dos outros não preciso de experiência. – Respondeu sem papas na língua. Isso era verdade e eu tinha à minha frente diariamente no trabalho, gente que não me conhecia, que não sabia o que eu tinha vivido e que gostavam de falar do que não sabiam. – Tenta não te apegar demasiado a ninguém, acredita que torna tudo mais fácil. – Aconselhou, indo para perto dos irmãos que estavam no escorrega.

Eu tinha uma família fantástica, disso não me podia queixar. Quando tudo à minha volta ruiu, incluindo eu, quem me fez levantar foram os meus filhos. E por eles ia até ao fim do mundo.

***000***

- Mãe! – Gritou a Catarina correndo que nem uma louca até à cozinha.

- O que foi? – Perguntei, enquanto limpava as mãos a um pano de cozinha.

- Podemos ir ao circo? – Perguntou. Desde quando é que há circo?

- Não há circo filha. – Respondi, esperando um ataque da parte dela.

- Há sim! – Exclamou. – Eles foram à nossa escola e deram-nos bilhetes. – Respondeu, abanando os ditos bilhetes na minha frente. Ri-me. Era o velho truque de aliciar as crianças com bilhetes grátis e depois como tinham de ir acompanhados pelos pais, estes pagavam os bilhetes.

- Deixa ver. – Falei, pegando nos bilhetes. Eram perto da nossa casa, e o horário é razoável. Porque não? Afinal eu também precisava de me distrair. – Podemos ir depois de jantar. – Respondi.

- Fixe! – Exclamou divertida. – Martim, vamos ao circo! – Gritou, indo na direção do quarto do irmão. Ouvi os gritos dos gémeos.

Entretanto ouvi a porta a abrir, e fui até ao corredor e vi a Ana.

- Mas o que é que se passa aqui? – Perguntou ouvindo toda aquela gritaria.

- Vamos ao circo. – Respondi, regressando à cozinha.

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