Dezenove - A batalha final

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Acordo, e sinto um metal gelado apertando o meus pulsos. Provavelmente uma algema. Consigo respirar direito, já não estou mais com o pano em meu rosto. Olho para as algemas amarradas em correntes na parede. Tento arrebentá-las, mas o esforço é inútil. Não consigo me concentrar para arrebenta-las com a mente por causa dos barulhos agudos que vem do lado de fora da sala. Cheiro de mofo reina por todos os lados, e tem apenas uma pequena janela com barras para passar um pouco de luz.

Não estou mais no mar e minhas pernas estão de volta, o que me assusta. Por quanto tempo eu dormi?

Escuto passos vindos do corredor. Uma porta se abre e eu finjo que estou dormindo. Estreito os olhos, tentando enxergar quem entrou na sala. Vejo apenas uma mulher com um vestido vermelho até os joelhos e uma calda comprida por trás, saltos pretos acompanham a vestimenta.

A mulher vem se aproximando de mim até eu ficar apenas com a vista de seus sapatos.

_Pobrezinha. – Ela fala, alisando um cacho dos meus cabelos. – A bela adormecida. Pena que toda essa beleza passará para mim.

Estela. E está com pernas! Ela se abaixa e fica cara-a-cara comigo. Seus olhos analisando cada centímetro do meu rosto. Ela meche minha cabeça de um lado para o outro.

_Acorde. – Diz com firmeza, e me da um tapa no rosto.

Abro os olhos lentamente, como se estivesse realmente dormindo. Estela se levanta e caminha até a janela de barras.

_Como se sente presa em uma jaula? – Ela pergunta, sem olhar para mim.

_Não poderia estar melhor. – Respondo, com ironia.

_Não brinque com isso, Jéssica. Passei minha vida toda presa em uma.

Do que ela está falando? Estela? Presa? Não é possível.

_Fiquei presa na jaula da solidão. – Ela responde, caminhando lentamente para trás, com os olhos fixos nas barras. – Nunca tive amigos, nunca tive alguém que se quer gostava de mim, e nunca fui bonita.

_Estela, por favor. Você sempre foi princesa, tinha tudo aos seus pés quando queria.

_Não. Eu queria coisas que o dinheiro não pode comprar.

_E que tipo de coisas são essas?

_Eu queria ter uma família normal, Jéssica. Uma família unida, com mãe e pai juntos, irmãos. Eu queria ser igual ás outras pessoas.

_Você tem um irmão. E você tem uma mãe.

_E os dois me odeiam. – Ela finalmente se vira para mim, agora com o rímel pelo rosto, deixando marcas por onde suas lágrimas passam.

_Mas não é por menos. Por onde você passa, larga veneno e maldade por todos os lados. Como pode querer que alguém te ame se você não consegue amar ninguém? Se seu coração é frio como o gelo?

_Mas nem sempre eu fui assim. Eu já fui uma criança feliz um dia, uma criança com sonhos de crescer e se tornar a melhor rainha que todo o oceano já viu. Nem sempre eu fui má, as pessoas me deixaram assim.

_E por que você quer tanto o meu mal? O que eu já te fiz?

_Eu tenho inveja de você. Você tem uma família, John e Stevan estão aos seus pés, Serena é a amiga mais fiel que eu já vi e você é linda, tanto no mar quanto na Terra. Eu acho que, só não consigo aceitar o fato de você ser melhor que eu em todos os sentidos. Eu queria tanto poder ser sua amiga, poder estar ao seu lado para tudo. Mas não sei como me desculpar por todo o mal que eu te fiz.

O Encanto da Sereia (Completo)Onde histórias criam vida. Descubra agora