Dezessete - A carta

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Acabamos dormindo no sofá. Quando me acordo, o céu ainda esta escuro. Olho para o relógio e vejo que já são cinco horas da manhã. Logo já amanhecerá. Me levanto aos tropeços, tentando não acordar Stevan, que dorme como um anjo. Me visto rápido e sigo em direção a porta, parando somente para lhe dar um beijo na testa antes de sair. Não tenho certeza do porque fiz isso. Talvez seja instinto. Não sei, na verdade, não ando sabendo muito sobre minha vida. Sempre acabo me perdendo em meus próprios pensamentos confusos. Minha cabeça anda parecendo um carrossel de pensamentos. Tantas coisas acontecendo, umas atrás das outras.

Saio pela porta e sigo pela cidade adormecida até a casa de Serena. Provavelmente vou acorda-la. Nado devagar pelas ruas da cidade, tentando analisar cada canto das ruas e tentar entender a cidade. Luzes começam a ganhar vida no céu nebuloso de Andrews. Paro enfrente a porta de madeira da casa de Serena, e percebo que luzes estão acesas do lado de dentro. Vou empurrando a porta já aberta de um jeito que eu possa passar sem deixar muito espaço. Entro fecho à porta. Caminho com calma até a cozinha e encontro Serena debruçada sobre a mesa, dormindo com vários papeis grudados em seu rosto.

Ver minha amiga assim, descansada e alheia a toda a verdadeira realidade a nossa volta me da uma calma no coração, e me faz sorrir com aquela cena. Ela se meche um pouco, mas não acorda. Me aproximo mais e puxo sua cadeira para trás, a levanto e seguro-a nos meus ombros. O seu peso faz eu me curvar um pouco, e sigo em direção ao quarto dela, deixando-a deitada na cama, com uma coberta que chega até o seu pescoço e dois travesseiros em sua cabeça. É incrível a forma como tudo consegue ficar absolutamente seco em baixo da agua, tão diferente dos objetos da terra, que se enxaguam quando entram em contato com algum liquido.

Tudo no mar é diferente, tudo tem magia em si, desde as sereias até os objetos. Percebo que desde que o rei Foyer desapareceu, a magia de Andrews sumiu junto com ele. A beleza que eu vi no primeiro dia da minha jornada como sereia, essa terra era luminosa, cheia de luz, pessoas vibrantes e flores tão belas que até pareciam vivas.

Vivas. Será que meu avô realmente esta vivo? Será que... Ele não morreu de alguma maneira, fazendo sua magia se esvair com ele? Minha cabeça esta tão cheia de perguntas que eu até me perco em mim mesma às vezes. Mas, depois que tudo isso acabar, eu serei a rainha deste reino. Minha magia que vai ter que iluminar. Um sentimento que eu nunca imaginei que teria começa a aparecer no meu peito. Eu quero ser rainha. Eu quero ser a que vai salvar Andrews. Eu serei a heroína.

Sento em uma cadeira e começo a arrumar os papeis em uma pilha no canto da mesa. Enquanto vou pegando alguns aleatoriamente, vejo algumas palavras escritas nas folhas. Pego uma na mão em que esta destacado o nome Foyer no final da folha e começo a ler.

"Minha querida Jéssica, nesse momento você deve estar me odiando por ter deixado apenas meu confidente para lhe orientar nesse seu difícil caminho até a coroa. Mando essa carta para poder lhe dar algumas dicas sobre o reino e sobre a vida na realeza do mar. Como você já deve ter percebido, o mar é muito diferente do reino humano ao qual me encontro. Além das leis, os costumes também são diferentes. As leis da realeza do mar são as seguintes:

-Nunca abandone seus súditos.

-Nunca coloque outra pessoa para ocupar seu lugar com a coroa, pois poderá perde-la.

-Nunca se envergonhe da sua calda, nem no reino humano.

-Nunca traga humanos para o mar.

-Seja firme em suas decisões e nunca as mude por causa de outras opiniões, só faça isso se tiver completa certeza de que isso ajudara o reino.·.

-Como você é meio humana, se abdicar a coroa não poderá voltar a Andrews.

Essas são as regras mais importantes. Não as esqueça. Me faça ter orgulho de você, Jéssica. Todo o orgulho que não pude ter em Jéssabele.

O Encanto da Sereia (Completo)Onde histórias criam vida. Descubra agora