Wrong

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Harry's P.O.V

Acordar às 6:40a.m não era lá um dos meus fetiches, mas foi necessário nesse dia. Minha mãe me acordou calma, diferente dos outros dias, como se temesse algo. Lhe ofereci um sorriso calmo e tranquilizador, tentando esconder o desespero dentro de mim.

Minha noite foi péssima, mal preguei os olhos. Quando eu os fechava, podia ver, claramente, bombas sendo explodidas ao meu lado e pessoas caindo mortas à alguns metros de distância. E então, eu os abria de imediato, tentando me tranquilizar.

Tentei me comunicar com o Hood, mas era tarde e ele deveria estar hibernando. Então, fiquei acordado até às 5a.m, quando peguei um sono profundo e sem sonhos ou pesadelos.

Assim que Anne saiu do cômodo, coloquei os pés para fora da cama, sentindo o chão de tacos gelado sobre a sola fina dos meus pés.

Por um instante, em toda minha, aos meus 18 anos, eu podia sentir meu corpo carregado de medo.

                               •••

Chegamos ao quartel, era como chamávamos um local cheio de pessoas com fardas e algumas correndo de um lado para o outro.

Estava sol, acho que isso ajudou um pouco à tirar a tensão de meu corpo.

A sala do comandante (ou seja lá como o chamam) era confortável, mas tinha um certo ar de tristeza. Entendi, na verdade. Quando se trabalha com pessoas, já é difícil, mas imagina quando você precisa contar à família de um antigo soldado que ele veio à óbito em meio a guerra?

— Senhora Cox? - Fui disperso de meus pensamentos deprimentes ao ouvir uma voz grave chamar por Anne. Seu sorriso era estranho, como se já tivesse uma decisão em mente, independente do meu resultado durante a prova.

— Então, Harry, como tem passado? Da última vez que te vi você tinha esse tamanho. - ele fez um gesto com a mão, indicando que eu não era muito maior do que uma mesa de escritório. Mas o ponto era, de onde ele me conhecia? Eu nem ao menos me recordava de seu rosto corado com alguns fios grisalhos em sua barba.

— Vou bem, eu acho.

— Certo. Seu treinamento começa em dois minutos. Pode pôr uma camiseta daquelas que estão no vestiário, do outro lado do corredor, e vamos torcer para que você honre seu país.

Não, vamos torcer para que eu fique em casa, seguro ou que, pelo menos, morra com Gemma e Anne.

Depois de me vestir adequadamente, fui levado ao campo de treinamento. Nada mais era de que um enorme campo de futebol com montanhas de ferro, madeira, concreto e utensílios achados em lixões. Sorri falsamente para o comandante, que me encarava com grande expectativa.

Quarta nota: Não deixe que a expectativa de outra pessoa defina seu futuro.

Tyler, o nome do comandante barbudo, chamou um garoto não muito mais velho que eu para me ajudar no que tinha que ser feito.

O garoto era menor, de fato, seus olhos azuis e seu cabelo cortado perfeitamente bem para que nenhum fio de cabelo o atrapalhasse no percurso. Ele dirigiu seu olhar pra mim e sorriu, logo se apresentando como “Soldado Tomlinson”.

Nós dois, eu e o soldado Tomlinson, seguimos para a primeira prova. O mudo de concreto sem espaço para pôr os pés. Como eu vou escalar isso?

— Olha, tudo o que você tem a fazer é se jogar no muro e alcançará o topo. Você é grande, vai conseguir rápido. - seu sorriso era doce e calmo, como se nunca tivesse presenciado sangues ou horrores antes.

— E se eu não conseguir?

— Não se preocupe, tem mais três provas pra você provar ser capaz.

Ótimo, mais três provas e eu vou pra casa.

Fiz como o Soldado Tomlinson me instruiu, me joguei ao muro de concreto e agarrei sua superfície, mas logo soltei, fingindo não ter mais forças o suficiente para erguer o restante do corpo. Olhei na direção de Anne e Tyler, ambos preocupados. Mas a preocupação de Tyler era visivelmente diferente de Anne.

Segunda tentativa, muro de madeira, fiz o mesmo método do concreto e falhei propositalmente.

Terceira tentativa, ferro. Essa parte me fez tremer na base, afinal, qualquer movimento em vão ali poderia me fazer ir direto para o hospital com uma barra de ferro em algum local do corpo. Mas, por sorte, tudo ficou bem e eu voltei ao chão.

A quarta parte foi a mais fácil de todas, era apenas passar por entulhos de lixos. E assim eu fiz.

Quando acabou, sorri aliviado e satisfeito por saber que iria pra casa.

— Ótimo trabalho, garoto. Vamos fazer seu alistamento.

Espera, espera, meu o quê?

O olhar de Anne sobre mim me fazia querer me jogar em seus braços e pedir pra acordar, pra despertar daquele pesadelo. Eu não posso ir pra guerra. Eu tentei, fiz tudo errado, e agora eu tenho um alistamento pra fazer.

— Mas o Soldado Tomlinson me disse que eu fui mal nas provas.

— Foram erros propositais, Harry. Eu te conheço, sei da sua capacidade, igual a de seu pai. A Inglaterra agradece por você colaborar com a defesa do seu povo.

Minutos, lágrimas, desesperos, soluços e agonias depois, estávamos na sala do Tyler. Ele me encarava sorridente, desgraçado.

Minha mãe estava ao meu lado e só faltava soluçar. Tyler havia dito que ficaria tudo bem, que eu nem ao menos iria pra guerra durante um ano, eu estaria em preparo durante esse tempo. Porém, eu moraria ali. Logo alguns de meus pertences seriam levados para lá, onde eu ficaria por um ano antes de sair pelo mundo guerreando pela paz e por direitos. Creio que eles ainda não saibam conversar civilizadamente.

— Me espere aqui, okay? Volto em algumas horas com as suas coisas.

— Traga Gemma junto, quero me despedir dela.

— Harry, você irá nos ver todos os fins de semana, amor. Não chore, anjo. - Seu polegar encontrou a pele úmida de minha bochecha, me fazendo suspirar de dor e esperança. Talvez eu nem fosse para o campo de batalha, eu ainda posso voltar pra casa. Sei que posso.
Logo Anne desapareceu na rua abaixo e me deixou ali, sozinho.

— Pronto pra conhecer seu novo quarto, parceiro? Fiquei sabendo que agora tenho um aluno.

— Soldado Tomlin...

— Louis! - ele simplesmente me interrompeu - me chame de Louis. Vamos dividir um quarto. Creio que não haja tempo para formalidades, cachos.

— Cachos?

— Sim, seu novo apelido. Mas sinto em dizer qe logo eles cortarão seus cachos bem formados. Foi assim com a minha franja.

Louis era do tipo que estava indo para a guerra, mas tirava proveito disso. Ele via o sol através da nuvem e o arco-iris através da tempestade. Seremos bons amigos.

Intern War || L.SOnde histórias criam vida. Descubra agora