Ester morava com os pais em Anaheim, na Califórnia, uma cidade pequena mas muito bonita, todos se conheciam por ali e era difícil não saber da vida do outro... mesmo quando não se queria saber. Ela tinha apenas 12 anos quando perdeu seu pai, de certa forma ela nunca aceitou isso, mas acabou aprendendo a levar a vida. Sua mãe se casara novamente dois anos depois com Antony Ruppert, um engenheiro muito rico que fazia a maioria das casas da cidade, quando não era da Ruppert Engenharia as casas eram da Engenharia Salozi, dois irmãos muito dos metidos a quem Antony desejava a morte todos os dias de sua vida.
Muitas vezes Ester se pegara chorando nas escadas da grande casa em que fora morar com sua mãe, era de Antony. A casa era bem antiga, construída ainda pelo avô e terminada pelo seu pai, o avô morrera dois anos antes da casa ficar completamente pronta. Na entrada da casa havia uma grande mesa redonda de madeira com um belo vaso de flores sobre ela. As paredes também eram de madeira, porém mais escuras que a mesa. As cortinas eram brancas e as janelas bem grandes, Ester calculava quantas dela precisavam ficar uma em cima da outra para dar a altura das janelas, de fato passou algumas tardes a pensar sobre o assunto. Os vitrais eram todos amarelos e isso dava a gostosa sensação de que alí estava sempre tudo iluminado por suaves raios de sol. O chão da casa era todo de tábuas largas de madeira com carpete por cima, passando a grande mesa da entrada tinha-se duas escadas enormes, uma a direita e outra á esquerda, Ester pensara algumas vezes que uma era pra subir e a outra pra descer, pois se assim não fosse qual seria a utilidade de suas escadas em um mesmo cômodo?
Ainda no andar de baixo do lado da escada da direita ficava uma sala enorme, com três sofás vermelhos, um grande tapete e uma lareira. No mesmo cômodo se encontrava a sala de jantar um pouco mais adiante a cozinha toda trabalhada em mármore. Do lado da escada da esquerda se encontrava um escritório com estantes cheias de livros, também haviam mais duas portas, uma dava para o quintal da casa que era também muito grande, assim como tudo naquela casa, a outra porta era apenas parar guardas as vestes quando se chegasse em casa, ou chamasse alguém e esse alguém quisesse guardar seu casaco.
No quintal havia uma piscina e um vasto gramado verde, havia também uma área coberta que levava ao salão de festas. O quintal era o lugar preferido de Ester, pois Antony com toda a sua sensibilidade e carinho que tinha pela menina havia feito uma casa de bonecas para ela, não era uma casa grande como a qual Ester vivia, mas era maior do que qualquer outra casa de boneca já vista.
Quando ficou sabendo que sua mãe iria se casar novamente Ester agiu de uma forma tão sensata que assustara até sua mãe:- Querida, tenho que lhe contar algo, receio que talvez não goste ou que não aceite muito bem logo de cara – Disse a mãe.
- Pode dizer mamãe
- Bom, desde que seu pai se foi eu me senti muito sozinha, até conhecer Antony... você sabe o quanto gostamos um do outro não é?
- Sei sim, aliás acho que vocês formam um casal muito bonito
- Verdade? E o que acharia se eu me casasse com ele?
- Ah mamãe, eu não tenho que achar nada.
- Como assim ?
- Você é feliz com ele mamãe?
- Sim, muito
- E gostaria de se casar com ele?
- Claro, ele é muito bom pra mim e principalmente pra você
- Então pronto! Case-se mamãe. Se você é feliz com ele, eu serei mais feliz ainda com vocêscasados
- Oh! Meu bem, você é tão adulta as vezes que nem parece ter só 14 anos.
- Eu sei, Dona Matilda diz isso também, mas acho que é porque eu sou da "nova geração de jovens pensantes" como ela mesma diz.
- Seja o que for, você é maravilhosa meu bebê.A mãe de Ester trabalhava no banco da cidade como gerente, não se casara com Antony por dinheiro, ela se mantinha muito bem antes de conhece-lo e enquanto o falecido estava vivo ela nunca pediu um centavo de seu dinheiro para comprar algo que não fosse necessário, se fosse algo fútil comprava com seu próprio dinheiro. Catarine era uma mulher alta, da pele tão clara quanto uma folha de papel. Tinha olhos verdes e era ruiva, sardas eram o que não faltavam em seu corpo. Uma mulher robusta, nem magra nem gorda, ela era apenas robusta. Ester puxara alguns traços da mãe, era ruiva e muito branca como a mãe, porém não tinha tantas sardas e seus olhos eram de um azul mais claro que o céu. Puxara os olhos do pai, Raymond tinha olhos incrivelmente azuis e foram eles que chamaram atenção de Catarine quando se conheceram no clube em uma sexta feira. Catarine estava de vestido vermelho e sapatos baixos brancos, seu cabelo estava impecavelmente penteado, ela sempre fora uma mulher muito atenta aos detalhes. Foi quase que instantânea a atração de um pelo outro quando se encontraram no bar do clube, Raymond mal conseguia tirar os olhos de Catarine e vice-versa, trocaram olhares até que Catarine não aguentou e se dirigiu até ele:
- O senhor poderia tirar seus olhos de mim? É que eles são muito claros, refletem a luz do clube em mim.
- Ah, claro! A senhorita poderia tirar os seus de mim também? - Disse Raymond com um tom irônico
- Bobagem, eu nem olhei pra você um segundo se quer – Disse Catarine um pouco irritada
- Claro que não, eu que estou louco e imaginando coisas então – Raymond não conseguiu segurar o riso
- Também acho – Catarine se virou e já ia saindo quando Raymond pegou no seu braço
- Ei! Volte aqui, estou só brincando. Prometo tirar os olhos de você se me disser seu nome
- Hm... Não devia lhe dizer nada, mas me chamo Catarine, pode chamar de Cat, todos me chamam assim
- Prazer Catarine, me chamo Raymond, porém pode chamar de Ray pois assim como você a grande maioria me chama por apelido
- Você mora por aqui, Ray? Acho que nunca o vi no clube
- Não, mudei para cá tem apenas duas semanas mas mal tive tempo de sair por causa do exército, sabe... eles não gostam que nós soldados fiquemos muito soltos pelas cidades pequenas, as pessoas costumam falar muito....
- Acho que entendi, não querem que vocês saiam com as meninas da cidade para que não hajam falácias depois?
- Sim, também...o problema é que não querem nenhum tipo de desonra relacionada á qualquer um de nós, dizem que não é bom para um soldado ter seu nome espalhado com coisas ruins em comum
- É... realmente não seria bom
- Mas nunca falaram nada sobre ir comer em uma lanchonete com uma garota bonita, você gostaria de ir?
- Sim – Disse Catarine com tom eufórico – Estou morta de fome, poderia comer um búfalo
- Acho que um búfalo eu não posso lhe pagar, mas um sanduíche e um refrigerante sim .Os dois saíram por aquela noite e por muitas outras, até que então começaram a namorar finalmente, Catarine mal se continha de tanta felicidade quando Raymond a pediu em namoro para seus pais, naquela época ainda se fazia isso. Namoraram por 2 anos e resolveram casar, ela com 20 anos e ele 25. Logo na noite de núpcias Catarine engravidou, 9 meses depois nascera a pequena Ester. Foram os 12 anos mais felizes da vida de Catarine, ao lado do marido e de sua filha até que um dia ela estava em casa descansando lendo um jornal quando tocou o telefone:
- Alô – Atendeu Catarine
- Alô, Cat?
- Sim, sou eu
- É o Ed, preciso falar com você...- ele hesitara um momento – Ray sofreu um acidente na estrada a caminho da cidade
- Como assim? O que aconteceu – Catarine já se encontrava chorando
- Infelizmente ele não sobreviveu, o acidente foi muito grave e ele não teve chance alguma
- Oh! Meu Deus, o que vou fazer, onde estão levando o corpo?
- O corpo será levado para o saguão da prefeitura, nós trataremos de todo o velório e enterro, você não precisa se preocupar com nada. Iremos vela-lo até as 11 da manhã e depois iremos enterrar o corpo, tentaremos comunicar todos os parentes, eu e todos os homens do batalhão lamentamos muito a sua perda, acredite, a perda foi nossa também
- Tudo bem, muito obrigada sargento, estaremos eu e minha filha lá amanhã cedo para prestar meu último papel como esposa de Ray.
- Mandarei um carro busca-las as 10:30
- Ok, obrigada Ed.
- Não há de que, Cat, não poderia deixar de fazer isso por vocês.
Catarine desligou o telefone e caiu no chão aos prantos, ela gritava tanto que Ester acordou assustada achando que haviam entrado na casa, quando desceu a escada viu sua mãe ajoelhada no chão com as mãos no rosto de debulhando em lágimas:- Mamãe, o que aconteceu? – Disse Ester ajoelhando na frente da mãe e pegando em seus ombros
- O papai, Ester... O papai... – Ela mal conseguia falar – Seu pai bateu o carro minha filha, o papai se foi... o papai se foi
Ester começou a chorar mas percebeu que a mãe estava terrivelmente abalada, ela tomou a primeira decisão adulta de sua vida, deixou seu sofrimento de lado e foi acudir a mãe, ficaram abraçadas no chão por um longo tempo, depois Ester ajudou a mãe a se levantar, levou-a pela escada e a colocou na cama, deu um calmante e água para a mãe:- Tome mamãe, você precisa muito descansar hoje
- Ah meu bebê, que noite terrível, que dia horrível será amanhã
- O amanhã não deve ser pensado com antecedência mamãe, tome o remédio e irá dormir, pelo menos um pouco.
A mãe tomou e dormiu logo em seguida, Ester então pode ir para o seu quarto e chorar. Chorou por toda a noite até que amanheceu e precisara ser forte de novo, não por ela mas sim pela mãe.
O caixão era fechado, infelizmente não sobrou muita coisa de Raymond, ele foi dilacerado pelas engrenagens do carro e sua cabeça esmagada pela lataria. Catarine não pode nem ao menos ver uma última vez o marido, Ester não quis ficar próxima ao corpo, ela sabia que o pai não estava mais ali, era só a carcaça destruída dele
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Nada é o que parece.
Mystery / ThrillerEster sempre teve uma vida regada de luxo e maravilhas, mas quando seu pai começa a trair sua mãe e acaba tendo outro filho com a amante deixando tudo o que tinha para ela antes de sua morte, Ester tem sua vida totalmente mudada. O que será da pobre...