Capítulo 1.1.

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Ester acordou, eram 3:40 da madrugada, ela vinha acordando esse horário todas as noites já fazia umas duas semanas e já não aguentava mais, toda noite era a mesma coisa, deitava e tinha um pesadelo horrível com a morte de seu pai, ela estava começando a achar que estava ficando louca. De qualquer forma ela se virou para o lado e voltou a dormir.
Aos 19 anos, Ester era uma das mulheres mais bonitas da cidade, embora ela mesma se achasse nada atraente:

- Levante, Ester!
- Eu já estou acordada, mamãe! – Gritou Ester de dentro do quarto
- Não precisa gritar, desça e tome seu café antes que acabe se atrasando para o trabalho
- A menos que eu monte em uma tartaruga e vá trabalhar em cima dela eu não vou chegar atrasada
- Essa menina está ficando muito mal criada – Disse Catarine para o marido Antony.
As duas trabalhavam juntas no banco, mas a mãe de Ester já não aguentava mais trabalhar, ela estava lá todos os dias desde que tinha 16 anos, quando começou a trabalhar como balconista no banco, agora já tinha 38 anos, não era a mesma moça cheia de energia mais. Catarine e Antony concordaram que ela não trabalharia mais pois ele tinha dinheiro o suficiente para sustentar 10 Catarines durante 10 vidas gastando absurdamente e mesmo assim sobraria dinheiro. Com o passar dos anos Antony e Ester foram criando um laço de pai e filha, quando Ester o chamou de papai aos 15 anos ele não conseguiu se conter e começou a chorar na sua frente, para ele Ester era sua filha desde o momento que a conhecera:

- Papai, posso usar seu carro hoje? O meu está sujo e pedirei para que Joseph o deixe com o rapaz que limpa carros
- Pode sim Ester, mas qual carro você vai usar?
- Não sei, pensei no Maseratti, você não o usa muito e eu gosto dele
- Tudo bem, embora eu achasse que você gostasse mais do Rolls Royce
-Papai, por favor né? Aquele carro é para velhos igual o senhor e a mamãe
- Mas o quê? - Disse Antony espantado
- É verdade querido, aquele carro não tem a cara dos jovens, o Maseratti tem mais a cara da juventude
- Por Deus, Catarine! É um carro maravilhoso, extremamente requintado. E outra, é um carro.. ele não tem idade pra ser usado.
- Tem sim papai, tem sim – Disse Ester pegando um pedaço de bolo e saindo da mesa
- Eu não entendo mais nada, ou estou muito velho, ou sou muito burro.
Catarine deu um beijo no pai, outro na mãe e saiu da sala em direção a garagem, era incrível como cabiam 6 carros naquela garagem, embora ela achasse a maioria horrível. Ela pegou as chaves do Maseratti, entrou no carro, colocou sua bolsa no banco de passageiro, colocou seus óculos de sol e ligou o som, quando abriu o portão da garagem pode ver o sol que estava lindo, radiante bem em sua frente. Decidiu que aquele dia estava bonito demais para ir trabalhar

- Acho que vou fazer umas compras. Não vou gastar esse dia maravilhoso dentro de uma sala fechada, rodeada de concreto e de gente que só fala comigo por causa do dinheiro do meu pai.

Abriu o teto do carro e saiu em direção ao centro da cidade, havia uma avenida onde o par de brincos mais barato custava em média U$10.000 e era lá que ela adorava fazer compras. O lado bom de se ter um conversível é que se pode aproveitar o vento maravilhoso que bate em seu rosto, o lado ruim é ... não existe lado ruim em ter um conversível.
Parou o carro próximo a loja que queria ir, o manobrista veio em direção a ela e pegou o carro, começou a andar até a loja quando observou Diana vindo correndo abrindo os braços pra ela

- Droga, essa insuport... Oi, Diana
- Oi Ester, que saudade, como você está?
- Estou ótima e você?
- Estou bem também, vim comprar umas roupas pois vou sair com o Dean hoje
Ah! Claro, dois sem vergonhas se merecem mesmo – Pensou Ester – Tem muito tempo que estão saindo juntos?
- Não, na verdade duas semanas
- Bom, espero que dê certo, torço por você querida
- Obrigada, amiga
- Preciso ir Diana, estou com muita pressa hoje, um beijo pra sua mãe
- Ok querida, outro pra sua

Ester era uma atriz digna de um Oscar, ela odiava Diana e odiava ainda mais Dean, os dois bem que se mereciam mesmo, ela era uma piranha que havia saído com um ex namorado de Ester enquanto namoravam ainda, elas eram melhores amigas na época, desfez a amizade com ela e terminou com o namorado. Dean era um sem vergonha que saía com uma garota por semana e que não olhava nem na cara da mesma se a visse na rua no dia seguinte, Diana sabia disso mas mesmo assim gostava dele, além de piranha ela era burra.
Mesmo depois de muito tempo sem se falarem, Ester acabou cedendo e voltou a conversar com Diana, era melhor assim ou ela acabaria tendo um ataque de nervos de tanto que Diana tentava voltar a conversar com ela.
Entrou na loja e logo avistou um vestido de seda preto longo, com renda na parte dos seios, foi paixão na mesma hora. Ela mal entrou na loja e a atendente que já sabia de quem se tratara veio falar com ela

- Boa tarde Srta. Mulley, o que vai querer hoje? Chegaram vários vestidos que são a sua cara!
- Bom dia Lauren, quero aquele alí da vitrine mesmo, o pretinho de seda
- Ah! O Chanel, imaginei que gostaria mesmo e reservei um para você ontem
- Muito gentil de sua parte, Lauren, pode pegar pra mim?
-Agora mesmo
Ester experimentou o vestido e parecia que ele havia sido feito especialmente para ela, ficou perfeito. As curvas ficaram suavemente marcadas, os seios ficaram volumosos e bonitos.
- Vou levar!
- Ok, vou colocar na sua conta, vai querer mais alguma coisa?
- Não, por hoje é só... vou comprar um par de brincos que fique bem bonito com ele ali na Tiffany&CO
- Isso, vai ficar perfeito! Você é maravilhosa ao se vestir
- Fico agradecida pelo elogio Lauren, você é muito gentil, vou lhe dar um presente por isso. Pode escolher qualquer item da loja, tanto daqui ou de qualquer outra loja... só pedir para colocar em minha conta.
- Imagina, Srta.Mulley, jamais faria isso
- Lauren, é um presente, não se recusa um presente! Pode escolher, não me importo com o valor e não me chame de Srta.Mulley, pode chamar de Ester
- Mas Srta...digo, Ester, tudo nessa avenida é muito caro, os mais baratos custam por volta dos U$10.000 dolares
- Meu bem, eu não me importo, papai não se importa também! Que custe U$100.000, pode por na conta e é seu, ou melhor... gostaria de ter um limite máximo? Assim você pode comprar mais de uma coisa até atingir o valor
- Não sei, será que é certo?
- É sim! É sim! Você terá U$150,000 para gastar no que quiser. Já gastei muito mais em um dia nessa avenida, papai não vai se importar
- Realmete, já chegou a gastar aqui duas vezes o valor da minha casa.
- Então negócio fechado, fique a vontade. Na sexta feira você sairá comigo, vamos em alguma casa noturna nos divertir, tudo na minha conta... passarei para te buscar as 10:00, vamos jantar e depois nos divertimos. Você irá usar seus presentes!
- Ester, isso não é muito mais do que eu mereça?
- Não, você me trata bem desde que começou a trabalhar aqui 5 anos atrás, nenhuma outra atendente foi tao legal comigo como você. As outras sempre estavam interessadas em fazer vendas comigo, não importando se ficaria bom ou não o que eu estivesse experimentando, você sempre deu palpites e uma vez até chamou uma blusa de horrivel, você sempre foi sincera. Agora você é minha amiga! Passo na sua casa na sexta, mande o endereço junto com o vestido para minha casa.
Ester era uma moça alegre, mas de poucos amigos. Não gostava muito de se relacionar com pessoas pois tinha medo de que fossem embora assim como seu pai. Mas a moça da loja sempre fora tão gentil e doce com ela que merecia ser amiga dela, merecia alguém para proporcionar a vida que ela não teria trabalhando ali onde o salário dela era 10x menor do que qualquer vestido da loja. Ela estava satisfeita consigo mesma, havia feito uma amiga e sabia que podia fazer muito por ela. A moça era negra, e Ester sabia como o mundo era com algumas pessoas só por serem negras, ela já havia visto muitas vezes gerentes de lojas tratarem alguém mal só pela cor, e ela sempre quisera fazer amizade com a atendente mas achava que ela era fechada demais, sempre a chamando de senhorita, sempre sendo muito discreta e cordial... Ester tinha que conseguir ser amiga dela, ela não sabia porquê, mas tinha algo dentro dela implorando a amizade de Lauren.
Por sua vez, Lauren estava com medo. Ela sabia que atendentes de loja e jovens milionárias não eram amigas, pelo menos não pra sempre. Lauren era a única filha mulher de um casal com 4 filhos, seus três irmãos eram muito trabalhadores e davam duro para sustentar ela e os pais até ela conseguir o emprego na loja, ela era uma mulher incrivelmente linda, com a pele negra e os olhos num tom mel que chegavam a ser quase amarelos, ela deixava qualquer um de queixo caído, tinha lábios carnudos e um black power muito estiloso, a gerente não gostava muito de seu cabelo, mas era assim que ele era e ela não mudaria isso só por causa de uma gerentezinha metida de loja. Além de linda, Lauren era muito segura de si, embora algumas vezes se sentisse como um gatinho acuado. Ela morava num bairro simples mas muito bonito, cheio de flores e os vizinhos eram muito solícitos uns com os outros. Lauren estava muito ansiosa para comprar seus presentes, ela ficara tão feliz que esquecera de atender a senhora que entrou pela porta.
- Lauren! - gritou a gerente da loja - Você não vai atender a Sra. Bailey? Está muito desatenta hoje, se continuar assim vou demitir você
- Desculpe, isso não vai ocorrer novamente
- Bom mesmo, para o seu bem.
Lauren sentiu raiva e cerrou os olhos para a gerente que já havia lhe dado as costas, ela nunca entendera como aquela mulherzinha horrível pudesse se tornar gerente da loja, talvez ela tivesse que se tornar a mesma megera para poder subir de cargo mas ela não estava disposta a perder sua essência por um emprego, se fosse pra subir de cargo seria por merecer e não por se tornar alguém horrível. No mesmo dia Lauren fechou a loja ás 18:00 como de costume e foi para casa, no caminho ela foi pensando no que poderia fazer com todo aquele dinheiro que Ester havia lhe presenteado, pensou por horas e chegou a sua decisão final, ajudaria sua família.

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