capítulo SEIS

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O MAR NÃO passava de um breu. Emily se vestiu de forma simples, de short curto e regata; eu a acompanhei no estilo, mas optei por uma camiseta branca e de estampa florida.

Saímos pela orla até encontrar uma fogueira crepitando na areia, ao redor, jovens sentavam no chão, bebendo engradados de cerveja, rindo e contando histórias.

Emily me apresentou aos amigos.

— Fala, galera! Essa aqui é a minha prima da capital, Ana. Ana, esse aqui é o Luís, aquele ali é o Rodrigo, Rafaela, e aquele é o Thomas.

Assenti para todos, eles sorriram de volta. Me sentei ao lado de um rapaz sem camisa, definido, os cabelos raspados e a barba rala. Era o Thomas, ele parecia alguns anos mais velho, usava um crucifixo prateado no pescoço.

— Ana? — Emily me ofereceu uma lata de cerveja. Aceitei.

Fazia frio à beira da praia, um vento fresco que não incomodavam os ossos, mas que causavam arrepios. Em volta do fogo, os amigos de Emily conversavam sobre tudo, principalmente quando o bong começou a passar de mão em mão. Quando chegou a minha vez, hesitei por um instante, olhei para todos ali, encorajando-me. Tomei fôlego, suguei a fumaça para dentro dos pulmões, tossi, senti a pressão baixar por um instante.

Eles riram, bateram palmas para mim.

— Isso aí, garota — disse Emily, exalando anéis de fumaça pela boca.

Comecei a sentir as coisas de forma diferente, me senti livre, mais do que já estava. Sem me dar muita conta, o papo já estava sobre viagens no tempo, e paradoxos que o Luís fazia questão de afirmar. Ele, por outro lado, era magro, mas não definido, os cabelos cacheados e sem barba.

Thomas, diferente dos outros, tinha um sorriso lindo, a voz suave e confiante; fez perguntas a mim, perguntou onde nasci, como era viver na cidade grande, e Emily, claro, com a grande boca que tem, começou a contar nossas histórias de infância, como tudo era mais bobo, assustador e curioso.

Ao final da noite, já passando madrugada adentro, Emily começou a se agarrar com Rodrigo, o loiro da turma, e eu acabei sendo esquecida. Rafaela havia saído com o Luís, sobrara apenas eu e o Thomas...

— Você quer dar uma passeada pela praia? — ele me convidou, um tanto desconfortável com os amassos acontecendo bem ali diante da fogueira.

Era como se ele lesse minha mente. Thomas me agarrou pela mão e me guiou pela orla da praia, me contou sobre como era a vida de menino ao lado do mar, sobre como aprendeu a surfar cedo, como a família passava por dificuldades para manter a casa, e também sobre sua prancha favorita, da qual não venderia nem por um milhão de reais.

Sentamos à beira da água. Ele tirou da bermuda um baseado, acendeu-o com o isqueiro, me ofereceu, aceitei. Ainda tossi um pouco, mas já havia melhor me acostumado. Conversamos ainda por um bom tempo, a respeito do futuro, do passado e como era estranho o presente. Ele parecia um cara profundo, e eu estava doida para beijá-lo; ao meu ver Thomas era um príncipe, não parecia real.

Foi depois de um longo silêncio que ele me segurou pelo queixo, beijou-me com delicadeza, como a quem quisesse sentir o momento. Havia mais do que desejo em seus lábios, havia também carinho e confiança, a sinceridade no olhar.

Foi mágico.

Estava acima de qualquer transa. Era como se namorássemos a anos, como se fôssemos um casal apaixonado. Mas não era nada disso. Ele ainda era um estranho, mas um estranho real, com defeitos, sonhos e pensamentos. Era uma pessoa como eu, e talvez mais profunda que a maioria de nós.

Sim, eu queria tê-lo para mim àquela hora, mas não com pressa, mas sim com zelo, carinho.

Senti-o deitar-se sobre mim, a areia envolta aos nossos corpos. Seu toque era o mais doce e experiente que sentira, não havia pressa em seus dedos, nem em seus lábios. As mãos deslizavam como seda pelas minhas coxas, demoravam-se a tocar no sexo, mas não para me provocar, e sim porque gostaria de ir com calma, aproveitar o momento.

Thomas beijou o meu corpo inteiro como se o venerasse. Ficamos nus ali mesmo, banhando-nos sobre o oceano. Estava frio, mas não importava. Ele me agarrou, parecia ter medo que a garota da cidade grande se perdesse em meio àquela escuridão pacífica.

No entanto, eu já estava perdida. Perdida sobre seus olhos castanhos, sobre seu toque e seu beijo. Ele me prendeu com delicadeza, nós dois de pé, as ondas espumando sobre as canelas. Depois nos deitamos na areia molhada, nossos corpos tremendo de frio, se aquecendo aos poucos um sobre o outro.

Thomas me segurou por detrás da nuca, afastou minhas pernas, as ondas ainda deslizando sobre nós. Não sabia se era o efeito da erva ou do álcool, ou se eram os dois combinados. Mas me senti mais livre do que nunca, e uma sensibilidade que jamais fosse possível existir.

O senti entrando em mim com calma, o sexo se esfregando no meu como numa dança, e depois nos entrelaçamos num nó; minhas pernas cruzadas sobre as dele, ele em cima de mim, beijando-me, indo para frente e para trás, unindo-nos em uma só alma.

Foi a melhor transa que já tive, a mais suave e a mais intensa ao mesmo tempo. Ele não ejaculou em mim, mas eu, por outro lado, molhei-o mais do que a água do próprio mar. Me senti encharcada, de alívio e de prazer.

Por fim, andamos até o carro do Thomas, a prancha dele sobre o teto. Ele me enrolou numa toalha, me deixou na casa da Emily, que ainda me esperava na porta, babando sobre si mesma, o queixo apoiado no peito.

Antes de partir, ele me beijou na testa, um beijo de agradecimento, porém não pelo sexo, mas sim pela conversa, pela conexão que tivemos. Sorri para ele, ainda trêmula, e depois cutuquei minha prima, que pareceu acordar de repente, assustada.

— Onde é que você tava? — a voz dela era um misto de embriagues e sono.

— Tendo uma noite maravilhosa — respondi, agarrando-a pelo ombro e pegando a chave embaixo do carpete. Deitei-a na cama. Eu, no entanto, me troquei, tomei um banho quente, os lábios de Thomas ainda na memória, a água escorrendo pelo corpo como se fossem os dedos do rapaz.

Que noite...

Será Que é Desejo? (HISTÓRIA COMPLETA)Onde histórias criam vida. Descubra agora