capítulo OITO

655 70 39
                                    

DAVA PARA OUVIR a música de longe. Desta vez a festa não foi à beira da praia, mas sim numa das mansões de um dos amigos de Emily, uma casa enorme, de traços poligonais e muros de vidro. Minha prima tocou a campainha, fomos recebidos por uma garota mais nova, talvez entre os quinze anos.

Andamos até os fundos, onde, em volta da piscina, rapazes e moças bebiam em volta. As garotas usavam biquíni, os caras apenas de bermuda, outros de sunga. Tinha pelo menos vinte e poucas pessoas ali, baldes com garrafas e gelo por todos os cantos.

— Divirtam-se! — disse a anfitriã.

Emily não parava de cumprimentar as pessoas, enquanto meu coração pulsava forte, meus olhos perscrutando a mansão em busca do Thomas. Por um segundo havia esquecido o estranho SMS, nada mais importava agora.

Sentei-me na beirada da água, as canelas dentro da piscina. Distraída, pensando se o Thomas estaria por aí, um rapaz de cabelos compridos saiu de um mergulho e me assustou.

— Desculpa! — disse ele, jogando os cabelos castanhos para trás. — Te assustei?

— Você me molhou, isso sim! — esfreguei as mãos na blusa, toda respingada por água. O tecido já começara a grudar no corpo.

— Você não é daqui, é? — ele me perguntou, se sentou ao meu lado e apoiou os braços nos joelhos.

— Sou prima da Emily.

— Ah, você é aquela da capital! — ele colocou uma mecha para trás outra vez. — Passando as férias, é?

— Uhum.

— Curtindo?

— Bom, até agora estou gostando — sorri.

— Me chamo Antônio, prazer — ele me estendeu a mão molhada.

— Ana Lúcia, prazer — retribui, mas aquilo mais parecia um gesto de brincadeira do que algo formal.

— Prima da Emily... — ele olhou para a garota do outro lado da piscina, conversando com uma das convidadas. — Bacana, a Emily é gente boa, mas parece que ela te esqueceu um pouco. Quer algo para beber?

— Estou bem, obrigada.

— Certeza? A tequila tá geladinha.

— Bom, pensando assim... — dei de ombros.

Caralho, Ana Lúcia! É o que diria meu fígado para mim... caso fígados tivessem voz, é claro. Senti que ele me xingava em silêncio.

— Pronto — ele trouxe a garrafa e dois copos. — Vai devagar, viu?

Beberiquei um gole. Estava forte, fiz cara feia.

— Eu falei para ir devagar... — ele bebeu um gole também.

Continuamos conversando por um tempo, fomos para o lado de fora, a música não tão alta. Nos beijamos ali mesmo, um beijo quente e firme. Podia sentir o desejo sobre ele, como se um animal estivesse esperando para abater a presa. As mãos do rapaz roçavam pelo meu corpo, apalpando a bunda, segurando meu seio, os dentes mordiscando meu lábio. As coisas iam bem, até que senti a mão dele passar por debaixo da blusa, os dedos tentando afagar o meu sexo. Eu o impedi.

No calor do momento, continuamos a nos beijar, e por mais duas vezes ele tentou o mesmo ato, e eu o reprimi. Antônio me afastou com delicadeza, parecia desapontado, mas compreensível.

— Desculpa — disse ele. — É a tequila. Posso ir buscar uma coisa para nós?

Eu assenti, um tanto constrangida. Aproveitei aquele momento sozinha para respirar um pouco, para imaginar onde estaria Thomas àquela hora, pois Emily havia prometido que ele estaria aqui.

Antônio voltou com as bebidas, conversamos mais um pouco, até que senti uma pontada no estômago. As coisas começaram a girar de repente, uma sensação diferente do álcool. Tentei correr para o banheiro... mas esqueci de tudo logo em seguida. Meu corpo amoleceu, vi Antônio assustado, agarrando-me pelas costas.

Quando me dei por conta, estava chapada, muitos já haviam ido embora, Emily dormia no chão, desmaiada. Eu estava à beira da piscina. Antônio ajudou a andar, me levou para dentro, para o quarto.

Deitou-me na cama, eu mal conseguia sentir os músculos, tudo girava; era como estar anestesiada. Senti o corpo dele em cima do meu, a boca pelo meu seio, os dedos roçando pelas coxas... mas não conseguia me mover.

Não, eu não estava a fim de transar naquela noite. Eu mal havia conversado com Antônio, e agora ele estava aqui, em cima de mim! Se mexe, Ana Lúcia, meu deus!

Eu não conseguia me mover. Os braços dele me pressionavam, prendiam os meus pulsos. Senti o calor do hálito dele pelo meu pescoço, as mordidas na orelha, o membro enrijecido, esfregando-se em mim. Tentei gritar, mas era como se não houvesse voz, como se estivesse sendo sufocada pelo silêncio.

Eu o vi tirando a bermuda, abaixando a cueca, o sexo para fora, pronto para entrar em mim. Ele abriu minhas pernas, e nada mais senti. Quando me dei conta outra vez, Thomas estava no quarto, o rosto de Antônio não mais que uma poça de sangue.

— Ele te machucou? — perguntou Thomas enquanto me sacudia. — Ana, ELE TE MACHUCOU?!

— N-não — disse, sem ainda entender muito bem. Eu não sentia dor alguma, apenas confusão, um vazio dentro de mim.

Ele me carregou sobre o colo. Fitei-o no rosto enquanto me deixava dentro do carro, a Emily do lado, desmaiada. A voz dele saía abafada:

Vou deixar vocês duas em casa... — e percebi que ele me beijara na testa, a expressão preocupada, desapontada. Ouvi a porta batendo, senti o movimento do carro, as luzes embaçadas pela janela, o mundo girando e girando...

Será Que é Desejo? (HISTÓRIA COMPLETA)Onde histórias criam vida. Descubra agora