capítulo ONZE

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ESTAVA EU NA sacada outra vez. Respirei fundo, senti o ar de fim da tarde. Lembrei-me do professor Eron, e curiosa me peguei olhando para o apartamento no outro lado da rua, mas só via o balançar das cortinas.

Estava começando a acreditar que tudo aquilo era coisa da minha cabeça, que nem sequer existia um professor de biologia. Não estava com muito saco para isso, na verdade, depois de tudo que passei... Eron era o menor dos meus problemas.

Mas tudo mudou quando ele abriu a vidraça. Caminhou descalço até a sacada, esgueirou-se para acender um cigarro. Ele estava sem camisa, e meu coração pulando pelo peito. Eron parecia distraído, olhava o movimento dos carros na avenida ao fundo, tragava a fumaça bem devagar, exalando com cuidado, apreciava o sabor da nicotina.

Então seu olhar tornou para cá, para o meu andar. Seu rosto estava coberto pela fumaça, e percebi quando ele piscou. Piscou e permaneceu olhando. Senti meus olhos se arregalarem, o coração doendo, a adrenalina correndo o corpo; meus dedos tremiam.

Meu deus, o que esse cara tá fazendo?

Eu estava ficando furiosa, isso sim, e não estava entendo mais qual era a daquele professor. Peguei o celular, as mãos ainda trêmulas, entrei no SMS que recebi naquele dia, disquei para o número. Botei o telefone sobre o ouvido, aguardei a chamada.

E chamou uma.

Duas.

Três vezes.

Eron, do outro lado, tirou o celular do bolso e atendeu, vi um sorriso em seus lábios.

As palavras não conseguiam sair pela minha boca, conseguia ouvir a respiração dele, a fumaça escapando pela boca.

Desliguei, e na mesma hora senti as bochechas queimando. Ele guardou o telefone de novo, acendeu outro cigarro, piscou novamente.

Eu, Ana Lúcia, estava pálida, pálida e vermelha, parecia requeijão com goiabada. Senti o queixo mole na boca... e teria de vê-lo depois das férias, encará-lo. Meu deus, que climão! Isso é assédio? Qual é a desse cara?! Mas que merda!

Transformei a vergonha em raiva, fui para o quarto, li a mensagem que Eron havia me enviado aquele dia... eu responderia alguma coisa?

Decidi que sim, e enviei:

Por que está fazendo isso?

Aguardei a resposta por um tempo.

Vem aqui do outro lado que eu te mostro.

Foi o que ele respondeu.

Tá bem, agora quase enfartei. É sério isso? Reli a mensagem por mais oito vezes, e ainda assim não acreditava no que estava lendo.

Você vai lá, Ana Lúcia?

Tinha dois diabinhos nos meus ombros, e os dois me tentavam, mas havia um anjo, entretanto, um pequenino celeste pousado sobre minha cabeça, e ele balançava as pernas, dizendo:

Não, Ana Lúcia, chega de fazer cagada!

E então respirei fundo, ouvi o juízo e recuei. Não, eu não iria aceitar o pedido do Eron, eu não iria lá. E se ele fosse abusar de mim? Lembrei de Antônio, uma angústia começou a percorrer a minha espinha. Decidi que era melhor ignorar a mensagem... ficar longe disso.

É uma péssima ideia, Ana Lúcia! Vou sair com a Bárbara, quem sabe desse jeito eu esfrio a cabeça!

Será Que é Desejo? (HISTÓRIA COMPLETA)Onde histórias criam vida. Descubra agora