Será Que é Desejo? (HISTÓRIA COMPLETA)

capítulo CATORZE

alguns meses depois

SIM, ERA TUDO desejo. Eron, no fim das contas, só queria me comer, e me comeu... algumas vezes. Minhas aulas acabaram, agora é a vez da faculdade. Talvez eu curse Letras ou Direito... quem sabe Veterinária! Bom, ainda dá tempo de escolher.

Meu professor de biologia não me importuna mais, não me envia mensagens, não me liga, nem me segue na balada. Às vezes ele pisca para mim lá da sacada, mas já não é a mesma coisa. Depois daquele dia o juízo de Ana Lúcia retornou. Ainda saio com a Bárbara, é verdade, mas não vamos mais para baladas. Matheus a fez sossegar um pouco, agora os dois passam a noite vendo Dragon ball na tevê.

Eu, por outro lado, fico em casa, lendo, dormindo, pensando nas irresponsabilidades da vida. Nunca mais vi o Guilherme, talvez o veja algum dia outra vez. A cidade não é tão grande assim como se pensa, aliás.

Meu irmão continua o dia todo trancado no quarto, meu pai sempre trabalhando e minha mãe sendo a pessoa maravilhosa que é. Agora, no entanto, estou aqui olhando para o teto, deitada na cama, refletindo sobre tudo isso.

Foi quando ouvi a campainha. Minha mãe atendeu o interfone, e depois gritou para mim:

— Ana! Tem alguém aqui querendo falar com você!

Saí do quarto, franzi o cenho, perguntei quem era, minha mãe disse apenas que era um amigo, e que ele não dissera o nome.

Desci as escadas, saí do apartamento, e um rapaz alto e de cabelos raspados me esperava do lado de fora.

— Oi, Ana.

Gelei de repente, nenhum músculo da minha boca foi capaz de se mover.

— O-oi — sorri, meio sem graça, tão surpresa quanto espantada. O rapaz carregava algumas flores, um belo buquê colorido.

— São pra você — ele estava meio sem jeito, um tanto vermelho.

— Obrigada, Thomas... eu... eu — e então fui interrompida pelo beijo, o mesmo beijo que ele me dera naquela noite na praia. Senti-o apertando minha nuca, não com desejo, mas com carinho, a delicadeza do amor.

— O que está fazendo aqui? — perguntei quando o beijo acabou. Estávamos mais confortáveis agora.

— Estou vivendo na casa do meu irmão mais velho, consegui um emprego faz uns dias. Estou na cidade tem uma semana.

— Mas por quê?

— As coisas ficaram feias por lá... com o Antônio, sabe. Decidi que era mulher vir embora, tentar uma nova vida, quem saber ficar com a garota dos meus sonhos.

Minhas bochechas coraram.

Convidei-o para entrar, nos beijamos de novo. Desde então começamos a namorar, e Ana Lúcia finalmente encontrou o seu juízo. Alguns meses depois a faculdade começou, e decidi pela veterinária! Thomas também decidira fazer o vestibular, e tentaria engenharia mecânica, o seu grande sonho desde a infância.

Agora descobri que tudo era só desejo, e que o amor, muitas vezes, está mais perto do que pensamos. Às vezes é necessário se aventurar, conhecer pessoas, algumas ruins, claro, outras boas... muito boas. Algumas serão gostosas e babacas como Eron, outras serão um amor como o Thomas. Mas é assim, é só desse jeito, Ana Lúcia, que você aprendeu a viver. Aprendeu errando, fazendo merda, assim como todo mundo...

FIM