capítulo SETE

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OUTRA RESSACA? Mas o que você está fazendo da sua vida, Ana Lúcia? Desse jeito não terá mais fígado antes dos vinte!

Esfreguei os olhos, senti a luz machucando as órbitas. Acho que estou me tornando um vampiro. Tomei um banho quente, Emily me esperava lá embaixo, tão inchada quanto eu. A mãe dela fizera omelete, o aroma era delicioso.

— Como foi a noite ontem? — perguntou a mulher. — Se divertiram muito?

— Foi muito bom, mãe — Emily bocejou.

— Dá próxima vez tentem não beber tanto — ela me entregou um comprimido para o estômago. — Já disse para você, filha, não exagera!

— Eu sei, mãe, eu sei...

— Sabe que eu deixo você com suas loucuras porque sei que se proibir é pior. Eu era igualzinha na sua idade — ela colocou dois pratos na mesa, jogou os ovos sobre eles. — E você também, Ana, enquanto estiver aqui, sou a responsável por você.

Assenti, mastigando pão com a massa.

— Não se preocupe, dona Carla, nós vamos nos comportar — respondi, a boca ainda cheia. Emily franziu um cenho.

Depois do café da manhã descansamos na sala, assistimos desenhos, alguns antigos, que nos lembravam a infância; outros pareciam mais novos, um tanto estranhos para o nosso gosto. No almoço, entretanto, comemos lasanha, e logo depois dormimos novamente, por boa parte da tarde.

Já ameaçava anoitecer quando levantamos, fui acordada pelo celular, que vibrava com alguma notificação.

"Te vejo na sacada, Ana"

Era o que dizia o SMS. A princípio não acreditei, pensei ser o número de um amigo... mas aí lembrei que ninguém sabia dessa história, nem mesmo a Bárbara. Por um instante não sabia se respondia ou não, mas, por fim, criei coragem, perguntei quem era e o que queria dizer com aquilo.

Mas não houve resposta. Esperei alguns minutos, até que desisti. O coração queria saltitar pela boca, Emily bateu na porta.

— Ei, garota, levanta! Tem festa hoje!

Festa? Mais uma?!

— Não sei se estou a fim de ir em festas hoje... — respondi, a voz ainda por trás da porta.

— O Thomas vai estar lá — Emily disse depois que a porta se abriu, deu um sorriso para mim.

— Isso é jogo sujo.

— Nem, vem! Eu vi que vocês dois saíram juntos, não quer vê-lo de novo?

A quem eu queria enganar?

— Sim, pode ser.

— Sabia! — ela me puxou. — Vamos! Você precisa me ajudar a escolher com que roupa eu irei!

E assim foi por quase uma hora. Emily me mostrava peças e mais peças de roupa, não suportava mais assisti-la vestir a todas.

Um novo SMS chegou no celular, senti o coração disparar no mesmo instante. Abri a tela e logo percebi ser alguma mensagem da operadora.

Emily pareceu notar o meu espanto.

— O que foi? — perguntou ela. — Tava esperando a mensagem do crush?

— Não, não é nada... Pensei que fosse minha mãe.

Emily ergueu a sobrancelha, desconfiada, e tornou a chafurdar o armário por trás de mais roupas.

— Achei! — gritou ela de repente, tirando do cabide uma blusa vermelha, discreta e bonita. — O que acha?

— Achei linda!

— Ótimo! — ela pôs a roupa rente ao corpo. — E ainda deve servir!

Será Que é Desejo? (HISTÓRIA COMPLETA)Onde histórias criam vida. Descubra agora