28 - 20 de Outubro - Meia-volta

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– Acabe com esse mal de amor, antes que ele acabe com você – Disse o meu chefe quando eu estava saindo do trabalho. Eu apenas sorri e continuei andando. Quem contou a ele? Será que está tão visível que eu sofro do "mal de amor"?. Isso me deixa um pouco envergonhado.

– Estará aqui no horário, amanhã? – Ele perguntou por último.

– Sim – Respondi balançando a cabeça.

– Posso confiar? – Ele disse erguendo as sobrancelhas, como se fosse uma espécie de desafio.

– Sim – Respondi por fim. Me afastei antes que ele perguntasse mais alguma coisa.

– Até amanhã – Disse ele, mas eu não respondi.

Apesar de não poder ver o sol se por, vejo o seu último raio cruzar o céu. Tenho olhado muito pro céu nos últimos meses, olhado com mais frequência, como se algo de extraordinário fosse acontecer, não sei dizer o que, mas é só porque preciso disso, preciso de algo que me tire dessa monotonia na qual me encontro.

Nem mesmo Don't stop the music da Rihanna consegue me pôr pra cima. Meu MP3 está no modo aleatório e me sugere essa música, será que ele também quer que eu saia do "mal de amor"? Sempre que vem uma música animadinha eu pulo imediatamente. Não estou com saco. Se a vida está uma bosta, quero pelo menos escolher a trilha sonora.

Não tem ninguém em casa, foi o que eu pensei, mas logo ouvi risadas saindo do quarto da minha mãe, reconheci a voz que era da minha tia Vany, ela quase não vem aqui por causa do trabalho, mas sempre que acha uma brechinha na sua rotina vem nos visitar.

Vou direto até meu quarto, ninguém não vai nem perceber que eu cheguei. Jogo a mochila no chão, atiro os tênis do meu pé, eles se chocam contra a parede. Estou indo mal em não querer que ninguém perceba que eu cheguei. Desmorono na cama, posso sentir meu sangue circulando pelo meu corpo, aos poucos sinto meu corpo relaxar, uma sensação de alívio junto com prazer toma conta de mim. Estou tão relaxado e sonolento, meus olhos aos poucos vão se fechando. É um dos prazeres da vida. Aos poucos eu me rendo.

Estou em uma sala de aula, rostos conhecidos estão em volta, um deles é mais familiar, branco, olhos castanhos e cabelos escuros, as maçãs do rosto estão levemente rosadas e um largo sorriso está aberto. Ele está olhando pra mim, eu estou sorrindo de volta. Ele é tão lindo. Penso em ir falar com ele. Um barulho tomou conta da sala, parecia um motor, com pequenos intervalos, parecido com um motor de carro velho. Cada vez ficando mais alto. Era um sonho. Eu acordo e o teto do meu quarto é tudo o que vejo. Meu celular vibra no bolso esquerdo da minha calça. Enfio a mão no bolso para pegá-lo, mas ele não está mais vibrando. Na tela tem uma mensagem dizendo que tenho uma ligação perdida, não reconheço o número. Meu celular vibra novamente, dessa vez é um SMS, do mesmo número que me ligou.

– Oi, Adam. Desculpa minha ousadia de te ligar, eu queria falar com você, se não for incômodo.

Na mensagem não dizia quem era, mas só poderia ser uma das duas pessoas. Jhon, que insiste em me encher o saco. Ou Eduardo, que eu não falo desde a noite no parque.

É o Eduardo quem fala.

Disse em outra mensagem logo em seguida.

Fiquei desesperado, desorientado, melhor dizendo. Não esperava esse contado dele, eu não estava preparado pra isso, não tenho estrutura psicológica pra isso. Fiquei por uns segundos imóvel olhando pro teclado, sem ter ideia do que responder. Fiquei em choque por alguns segundos, não sabia o que responder. Nesse intervalo de tempo ele mandou outra mensagem.

O QUE ME TROUXE ATÉ AQUIOnde histórias criam vida. Descubra agora