3 - 25 de Maio - Dezoito anos

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Esfreguei os olhos com as costas da mão, estiquei os braços, desliguei o alarme do celular e olhei as horas. 08h01, também vi a data: 25 de maio.

– Droga! É meu aniversário.

Levantei, cruzei a sala em silêncio para que minha mãe não viesse correndo me dar os parabéns, entrei no banheiro, 15 minutos depois, quando eu saí, minha mãe me agarrou quando entrei na cozinha.

– Feliz aniversário, meu amor! – Ela disse com uma voz doce e me cobrindo de beijos.

– Obrigado, mãe – Ela pegou uma sacola que estava em cima da mesa e tirou de dentro um embrulho verde.

– Pra você – Me entregou o embrulho verde.

– Não, mãe, você sabe que odeio aniversários. Você não deveria ter se preocupado em me dar presente – Na verdade para mim tanto faz o presente, mas não posso dizer isso a ela. Mas gosto do carinho dela. Esse é o melhor presente.

– Não seja bobo. Aniversários são divertidos, é a maior data do ano. Você deve ficar feliz por estar completando mais um ano de vida.

– Aniversários só servem para mostrar o quanto você está ficando velho e mais perto da morte. É como se dissesse "Hey! Parabéns, você não morreu, sobreviveu a mais um ano, mas seu dia está chegando".

– Credo, Adam – Disse ela com uma cara de desaprovação. – Eu queria tanto fazer um bolo, comemorar, mas você nunca deixa.

– Eu sempre fico deprimido e demora um tempo até eu me acostumar com a nova idade.

– Estamos falando dos seus dezoito anos.

– Se bem que tem um lado bom em estar fazendo dezoito, porque a partir de agora eu posso encher a cara sem cometer um delito, posso sair e chegar a hora que eu quiser, não preciso de sua autorização pra nada, eu estou livre – Falei com voz de provocação, e não contive o riso.

– Como se você já não fizesse tudo isso, mas agora você também já pode responder legalmente pelos seus erros – Falou ela rebatendo o que eu disse.

– Nossa, agora você fez parecer que eu sou um marginal – Eu disse, e nós não conseguimos conter os risos.

– Você deu seu grito de independência aos quatorze anos, quando assumiu ser gay.

– Eu tenho que admitir que eu fui radical nas minhas atitudes. Mas foi necessário, você queria me prender.

– Eu estava apenas tentando lhe proteger. Já conversamos sobre isso, Adam.

– Não era me prendendo que você ia conseguir me proteger, eu sei que na verdade você só queria me afastar de Cleiton, porque você achava que ele tinha me influenciado a ser gay.

– Não foi isso, era tudo novo pra mim, na época eu não tinha o conhecimento que tenho hoje.

– Cleiton foi muito importante pra mim, ele me ajudou muito, se não fosse por ele eu não teria me assumido e estaria hoje vivendo em um casulo infeliz.

– Eu sei, mas senti que ele estava te roubando de mim, você passava mais tempo com ele do que com sua família.

– Ele era meu namorado, normal que eu quisesse passar um tempo com ele, isso não significa que ele estava me roubando.

– Você era muito novo, Adam, só tinha quatorze anos.

– Mas foi bom eu ter me assumido cedo, porque hoje você já entende e aceita, se eu esperasse pra me assumir agora, aos dezoito anos eu não sei se teria coragem, e teríamos que passar por toda aquela fase.

– Tudo tem sua hora certa de acontecer e, mesmo que passássemos por tudo agora, iria ficar tudo bem, porque eu te amo, filho – Disse ela me beijando na bochecha.

– Eu também te amo, mãe – Falei retribuindo o beijo.

– Espero não estar atrapalhando nada – Disse Andresa entrando na cozinha. O cabelo dela estava tão desgrenhado que parecia um ninho de passarinho.

– Bom dia, Andresa.

– Bom dia – Respondeu ela com voz rouca. Ela jogou um punhado de cabelo para de trás da orelha, mas não adiantou, os fios caíram de novo sobre o rosto.

– Eu faço aniversário e você que fica de mau humor?

– Hoje é seu aniversário? Como pude me esquecer? – Ela deu um tapinha na própria testa.

– Não se dê ao trabalho de me dar os parabéns ou presente, você sabe que eu odeio esse dia.

– Quem falou em presente? Eu deveria ter comprado uma caixa de ovos para quebrar na sua cabeça.

– Você não é louca. Você sabe que eu faria bem pior no seu aniversário, que, aliás, é o próximo.

– Você tem sorte por seu aniversário cair em um domingo, pode fazer o que quiser o dia todo – Disse ela.

– Eu dei sorte mesmo, tudo que eu quero fazer o dia todo é evitar todo mundo, já desativei o Facebook, desliguei o celular e agora vamos fingir que é um dia qualquer.

Já estava anoitecendo, eu fiquei a tarde toda jogado no sofá assistindo filme com Andresa, aquele foi mais um dia tedioso sem nada de especial. Ouvi o barulho da campainha, mas permaneci imóvel no sofá. Andresa me olhou esperando alguma reação da minha parte, mas não movi um músculo. A campainha tocou novamente. Andresa soltou ar pelas narinas como se fosse um cão raivoso e foi abrir a porta. Saltei do sofá, quando vi através do vidro da porta que era Jhon, corri até o banheiro, escovei os dentes, lavei o rosto, passei a mão no cabelo, tentando deixá-lo da forma que costumo pentear, mas não conseguia abaixar o volume, saí do banheiro em seguida e retornei à sala, onde Jhon me esperava com um largo sorriso no rosto, ele segurava um embrulho, eu o cumprimentei com um abraço e me sentei do lado dele no sofá.

– Olha, amor, eu sei que você me fez prometer... – Eu o interrompi.

– Por favor, não torne esse dia pior do que ele já é pra mim.

– Mas, amor, eu fico me sentindo péssimo por não lhe dar um presente de aniversário.

– Já conversamos sobre isso, Jhon.

– Ok. Mas pegue, prometo que não é de aniversário – Ele disse me entregando o embrulho. Eu fiquei chateado por ele não respeitar a minha bad, mas ele estava sendo sincero e me fez sentir um pouco culpado, então recebi o presente, mesmo sabendo que era de aniversário.

– Só porque não é de aniversário – Falei dando uma piscadinha pra ele.

Ele me abraçou forte e me deu um beijo.

– Feliz dia qualquer – Disse ele no meu ouvido, abracei-o mais forte.

Ficamos no sofá assistindo o final do filme que eu tinha começado assistir antes dele chegar. Colocamos outro em seguida, depois fomos para a casa dele e ficamos no quarto conversando até tarde. Eu dormi lá naquela noite.


O QUE ME TROUXE ATÉ AQUIOnde histórias criam vida. Descubra agora