21 - 16 de Março - Um passo

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Estou bem, o dia está calmo, calmo como toda manhã de domingo. Já passa das 09h00, nesse horário em outros domingos eu ainda estaria dormindo, mas hoje eu acordei, e estou tão ansioso que não volto a pegar no sono. Estou ansioso porque depois de oito meses de namoro – depois de grandes momentos ao lado de Eduardo, e a maioria desses momentos sendo marcados por desentendimentos – nós decidimos que hoje seria especial. Vamos fazer o segundo grande encontro do nosso namoro. Vamos refazer os mesmos passos do nosso primeiro encontro.

Nós deveríamos ter levantado mais cedo, mas estávamos abraçados tão aconchegadamente que ficamos o dia todo fazendo maratona de séries, dando pausas apenas para comer alguma coisa. Quando o último raio de sol atravessou o vidro da janela, a casa ficou com um tom amarelado, como se estivesse com um filtro vintage, de filme antigo.

Optei por vestir uma camisa branca e calça jeans escura. Calcei um tênis preto de Eduardo. Essa é uma das vantagens de namorar alguém do mesmo sexo.

– Leva um casaco. Eu vi no Climatempo que vai esfriar – Eduardo recomendou.

Lembrei-me do meu casaco favorito, seria um bom momento para usá-lo, mas vai saber por onde ele anda...

– E então? – Disse Eduardo, se virando do espelho até mim. – Como estou?

– Bonito! – Respondi.

– Isso é tudo o que você tem pra me dizer? Só bonito?

– Você está sempre bonito. Desculpe! Sou péssimo com elogios.

– Tudo bem. Ah! A propósito você também está bonito – Eduardo me puxou com força, me prendendo com seus braços em volta de sua cintura. Eu o beijei, ele mordeu meus lábios e me apertou em um abraço. Eu o afastei, quando ele passou a mão em minha cabeça, bagunçando o meu cabelo, que demorei um tempão para deixar bonito.

Uma rajada de vento frio veio contra mim quando Eduardo abriu a porta, um arrepio tomou meu corpo. Eduardo me olhou como se dissesse "Eu disse que faria frio". O céu, porém, estava limpo, e as estrelas brilhavam como luzes de Natal. Eduardo olhou para o céu por alguns segundos, como se procurasse algo, desde que ele viu a primeira estrela cadente, agora ele olha com frequência para o céu, mesmo assim não viu nenhuma estrela de novo.

Seguimos andando até o centro da cidade, há muitas pessoas na rua, não tem muita coisa pra fazer por aqui em um domingo à noite, as pessoas costumam ir à missa das sete, depois dão voltas na praça e se entopem nas barracas de acarajé e nos carrinhos de churros. Não tem mais nada além dos mesmos rostos de sempre. Seguimos até o coreto, mas ele está cheio de hippies e uma galera alternativa. Não encontrando lugar pra sentar, ficamos parados em frente a uma antiga fonte, que hoje está seca e abandonada. Seguro na grade que dá a volta cercando a fonte, me inclino sobre ela apoiando o peso do meu corpo.

– Foi aqui o nosso primeiro encontro. Você estava sentado ali – Disse Eduardo, apontando para um banco onde tinha uma galera de preto, com skates e BMXs. – Você estava incrivelmente lindo, nunca vou esquecer aquela imagem, porque foi naquele momento que te vi ali me esperando, que eu tive certeza que você seria meu.

– Quando você veio andando em minha direção, você estava com o mais doce sorriso, você caminhou timidamente até mim, e eu não acreditava que aquilo era real. Você acabou comigo naquele momento – Eu disse, chegando mais perto dele. Ele tocou meu rosto e me beijou, foi o suficiente para atrair olhares até nós. Mergulhei nos braços de Eduardo, quando percebemos que estávamos sendo observados, ficamos desconfortáveis.

– Odeio isso. Odeio esses olhares de julgamento – falei.

– Isso é muito chato. Quando vamos ser vistos como um casal qualquer?

O QUE ME TROUXE ATÉ AQUIOnde histórias criam vida. Descubra agora