EPÍLOGO

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Quatorze anos depois.

Não consigo decidir qual vinho comprar. Mesmo depois de tanto tempo ainda não sei escolher entre uma coisa ou outra, por mais simples que seja a escolha. Às vezes minha indecisão é tamanha que acabo não escolhendo nenhuma das opções, a vida de adulto é corrida demais para essas indecisões de adolescente. Pego qualquer vinho, não olho qual foi o escolhido. Jogo no carrinho e sigo pelo corredor de queijos, aqui não há indecisões, pego o queijo camembert. Comecei a gostar de queijos depois que namorei James, um britânico que conheci no Tinder, uns 10 anos atrás. Ele me ensinou a degustá-los, e o camembert se tornou o meu favorito.

Eu deveria levar um fondue, está tão frio nos últimos dias. Eu penso. Pego o fondue e acabo levando também um gouda e um brie. Jogo tudo no carrinho que já está cheio. Acho que agora chega. Está na hora de ir para casa. Fazer compras em supermercados é tão entediante, não sei como eu ainda consigo passar mais de duas horas aqui toda semana.

Um rapaz branco se aproxima, ele tem cabelo castanho um pouco crescido caído sobre a testa. Não consigo ver o rosto direito, mas parece familiar. Ele está com um bebê dependurado por alças canguru sobre seu peito. Olho duas vezes antes de reconhecê-lo.

Não consigo acreditar. É Eduardo. Sinto um turbilhão de emoções cair sobre mim. Me lembro da última vez que o vi, ele estava preso em uma cama de hospital inconsciente. Depois disso não o vi mais. Tive que conviver todos esses anos com essa terrível lembrança dele. E agora sinto-me aliviado vendo que ele está bem.

Fico parado observando-o, ele segura aquela criança com tanto cuidado, olha para ver se ela está bem e brinca fazendo-a rir. Posso ver que é uma menina pela toquinha rosa.

Ele passa direto pelo corredor de queijos, vindo em minha direção.

Oh, meu Deus! O que eu faço?

Virei-me para a prateleira ao meu lado, abaixei a cabeça fingindo ver os produtos.

– Droga! – Eu disse quando vi que estava em frente à seção de leites.

Ele parou ao meu lado. Esse seria o momento de falar com ele, se eu tivesse coragem. Minhas pernas estão bambas, não tenho voz. Ele se aproxima mais, ergue o braço e pega uma lata de leite em pó. Respiro fundo. Tento tirar coragem de onde não tenho. Abro a boca, mas nada sai. A bebê olha para mim com seus olhos enormes. Dou um sorrisinho para ela.

Ai, meu Deus, ela vai me entregar.

Mas Eduardo não olha para mim, ele parece bem concentrado lendo o rótulo da embalagem. Em seguida ele se vira, coloca a lata de leite no carrinho e sai andando.

Sinto um alívio, mas ele logo é substituído pelos sentimentos de culpa e arrependimento. Eduardo se afasta, está cada vez mais distante de mim.

O QUE ME TROUXE ATÉ AQUIOnde histórias criam vida. Descubra agora