20 - 14 de Março - Insônia

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Já passa das 03h00 da manhã, e eu ainda não dormi, me reviro na cama, e nada de sono.

– Não dorme, fica comigo – Disse Eduardo.

– Eu preciso dormir, tenho que acordar cedo. Mas o sono parece que está do seu lado – Eu disse.

Eduardo está sentado ao meu lado assistindo Please Like Me no notebook. Ele está usando fones de ouvidos pra não me incomodar.

Mas o que realmente me incomoda é não ter uma rotina saudável com ele, deitarmos e dormirmos juntos, acordarmos no mesmo horário, tomarmos café da manhã enquanto falamos do que vamos fazer durante o dia, sairmos juntos para o trabalho e nos despedirmos até o final do dia. Eduardo odeia rotina, por isso não me apego a esses desejos, mas eu temo pelo nosso futuro. Ele quer que cada dia seja diferente do anterior, dessa forma fica difícil de ele conseguir um trabalho que se encaixe a essa rotina, ainda mais quando a cidade que você mora é Poções. Mas o que me deixa triste é que ele quer isso, mas não faz nada pra ter, ele não corre atrás, simplesmente fica nessa zona de conforto, que torna tudo isso irônico, ele quer dias diferentes, mas deixa os dias serem todos iguais.

O sono vai me tomando aos poucos, e como um apagão não vejo mais nada.

Uma voz distante grita "Adam, socorro!". Devo estar sonhando. Mas a voz aumenta cada vez mais, agora estou acordando, a voz é real. Abri os olhos com o último grito, o mais alto. Olhei do lado da cama, Eduardo não estava, meu coração acelerou. Levantei em um pulo, corri até a sala que estava escura, uma luz vinha do banheiro, eu corri na direção dela, a porta estava apenas encostada, abri rápidamente, a luz forte ofuscou minha visão, ouvi gemidos com soluços, a primeira imagem que vi foi Eduardo caído no chão, tremendo.

Me joguei de imediato ao lado dele.

– O que aconteceu? – Perguntei. Agora eu também estou tremendo. Eduardo continuou chorando, eu o virei pra mim, e abracei seu corpo nu e molhado. Havia um cheiro forte de borracha queimada, era sufocante de tão forte.

– Me diz o que aconteceu? – Eu insisti.

– O chuveiro – Disse ele, apontando na direção do chuveiro, que estava chamuscado, e a tomada estava dependurada, derretida e com manchas pretas. As mesmas manchas estavam nas mãos de Eduardo.

– O que aconteceu?

– Primeiro um barulho e um clarão, em seguida eu não tinha mais controle sobre meu corpo. Um choque muito forte, parecia que meu corpo estava se desintegrando. Quando consegui me mexer arranquei a tomada.

– Meu Deus! Calma, agora está tudo bem – Eu o abraçei, ele finalmente começou a se acalmar. Embrulhei-o em uma toalha e o levei até a cama. Coloquei roupas secas nele, mas ele não parava de tremer.

– Por que você não foi logo? Eu poderia ter morrido se dependesse de você – Disse Eduardo.

– O quê? Eu estava dormindo – Respondi confuso.

– Se você estivesse acordado poderia ter desligado a energia e me ajudado de imediato.

– Mas eu estou aqui, não estou? E são quatro da manhã, eu estava dormindo, e você tomando banho. Não venha colocar a culpa em mim. Foi um acidente – Eu explique.

– Me desculpe – Disse ele.

– Tudo bem. Mas temos que parar de brigar, isso está acabando comigo.

– Eu também não aguento mais. Vamos nos entender de agora em diante?

– Sim, vem cá? – Disse ele me puxando pra junto de si. Ele me beijou.


O QUE ME TROUXE ATÉ AQUIOnde histórias criam vida. Descubra agora