Capítulo III

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O dia do batismo daquele gracioso bebê havia finalmente chegado. Nesse quesito, tanto o senhor Lessa como sua mãe haviam finalmente concordado em algo, e olha que isso era raro de acontecer, ainda mais se falando de assuntos financeiros, não se poderia poupar nem um gasto se quer pois segundo os mesmos esse bebê deveria ser tratado como um príncipe, na verdade, como uma princesa.

Não há como negar, a mansão Lessa havia se tornado centro das atenções nas reuniões de fofocas, nos cafés, e nos mais requintados centros indo até ao mais humilde dos estabelecimentos. De fato, eles eram um modelo a ser seguido, visto que, muitos dos imigrantes italianos, alemães, espanhóis e sobre tudo portugueses invejam o alto padrão de riqueza da família. Na colônia portuguesa, a família Lessa era o ponto de referência, pois, de certa forma seus membros também vieram de Portugal.

Enfim de todos os membros o mais aflito e preocupado era o coronel Luiz Miguel. Aquele jovem senhor caminhava de um lado para o outro e de certa maneira já não sabia mais o que fazer para controlar sua ansiedade, ele estava pior que um adolescente. Foi então que dona Adália o encontrou perambulando pela mansão.

— Desculpe, meu senhor, mas poderia saber o motivo que a leva a essa infortuna aflição? — Toda elegante, e com um vocabulário requintado perguntou a senhora ao coronel.

— É o batizado de minha filha... Senhora baronesa viúva! — Finalizou o jovem cavalheiro vestindo-se de seu uniforme militar.

Apesar de o império ter ruído há a mais ou menos quase um ano, dona Adália, não havia se habituado às regras da república, então ordenava que até sua morte devesse ser chamada como sempre foi: baronesa.

— Meu digníssimo coronel... Esse não será seu primeiro e último filho? Estou certa disso. — Perguntou.

— Tem toda a razão... — Assentiu. — Outros virão, e, se depender de mim, serão vários... Pretendo lotar essa cassa com gritos e choros de criança. — Sorrira timidamente diante do opressor olhar da senhora baronesa.

— Disso eu não tenho a menor dúvida. — Com um breve e curto sorriso a senhora baronesa alcançou um chá ao coronel que no mesmo instante não ousou em recusar. — Então, meu jovem, saia para caminhar, faça um daqueles passeios de carruagem a qual tanto gosta e depois de sentir-se calmo retorne, pois, esse batizado será um batizado da realeza em plena república.

— A senhora tem toda a razão! Com sua licença, senhora baronesa. — Assim que fez sinal de respeito à mesma, todavia ele esbravejou e gritou pela casa e disse bem alto que já voltaria. No final: dona Adália comentou com o Sr. Josef Muller, Mordomo chefe da mansão, que aquele jovem lhe cativava e como respeitava a educação do mesmo e ainda admirava os requisitos de nobreza que havia em seu tom de falar e se apresentar. Ou seja, uma rápida referência aos tempos do império.

Luiz Miguel Palhares era um homem que respeitava o passado, mas amava a tecnologia e tudo que remetesse ao futuro lhe encantava. Foi assim; que naquela manhã ele ignorou a carruagem e colocou seus olhos sobre o seu carro importado diretamente da França. Sobre o veículo pode se dizer que era feio esteticamente, nada prazeroso e, no final, muito barulhento, mas era algo que chamava a atenção. Distraído e perdidamente cantando uma canção pela estrada ele não percebeu o ruído estranho vindo da hidráulica do motor do veículo, passado alguns segundos, ele desceu por uma ladeira, mas o veículo não tinha freios e sua alegria virou aflição. Foi então que o inevitável aconteceu, ele saiu da estrada, capotou diversas vezes, e só depois dessa fatalidade que seu carro venho a parar.

E, como diz nossos avós e tias, notícias de tragédia não demoram em chegar. Já era meio-dia e o almoço estava sobre a mesa. Mas algo aconteceu, no final, todos se preocuparam com a demora do coronel, mas de início não deram importância a não ser a sua esposa, Sra. Lorena. Todavia, ela estava indisposta com um pouco de dor de cabeça e recomendou a Salete sua empregada pessoal que a avisasse a todos que naquele exato momento não desceria.

Não demorou muito o oficial de polícia avisava por intermédio do Sr. Josef, que o coronel Palhares havia se acidentado com seu veículo, e estava em estado delicado no hospital. A notícia impactou a todos tanto que a princípio, dona Adália era contra em avisar a Lorena. Mas contrariando a todos, Berenice, a caçula, foi ao quarto da irmã e lhe entregou a infeliz notícia.

— Você só pode estar brincando... Diga-me que isso não passa de mais uma de suas travessuras. — Lorena não acreditava em nenhuma palavra de sua Irmã, mas, no fundo, ela sabia reconhecer quando a mesma estava mentindo e quando ela estava dizendo a verdade, e nesse caso, ela dizia a verdade.

— Como ousaste em perturbar sua irmã, Berenice? — Furioso e vermelho como um tomate o senhor Emanuel Lessa estava se remoendo de tanta fúria.

— Por favor, senhor meu marido, nossa filha precisa saber a verdade. — Disse dona Heloísa contrariando seu marido e defendendo a atitude de Berenice.

— Não! Não devia... — Esbravejando como um louco Emanuel desceu as escadarias e ordenou que Josef lhe preparasse a carruagem, pois, ele iria ao hospital. E como ordenou assim aconteceu, o velho e fiel Josef foi até aos fundos e pediu a Otaviano que se organizasse, pois, ele levaria o senhor barão até ao hospital.

O barão não foi sozinho, junto dele, sua filha Lorena lhe acompanhou nesse triste e longo caminho. Ao chegar ao hospital foram informados do real estado de Luiz Miguel, e pasme, seu estado era crítico.

O último beijo foi dado, naquele quarto o último adeus se concretizou... 

— Eu só queria dar um passeio

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— Eu só queria dar um passeio. — Gaguejou.

— Eu sei... — Acariciando rosto de Luiz Miguel, Lorena demonstrava todo seu amor e compaixão com o mesmo.

— Me perdoe... Eu te amo Lorena Lessa Palhares! E, novamente me perdoe, mas eu não poderei ver nosso filho crescer... — Uma lagrima rolou dos olhos de Luiz Miguel e no mesmo instante ele faleceu levando sua esposa Lorena aos prantos.

— E, agora, o que será de mim? O que eu irei fazer? — Questionando-se a si mesmo, ela fora respondida por seu pai que, todavia ela tinha uma filha para cuidar e foi então que ela paralisou por um breve segundo e furiosamente respondeu a seu pai as seguintes palavras: — Eu tinha uma filha... Hoje, eu, também a o perdi no dia em que seu pai morreu.

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