Capítulo XV Parte I

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Em meados de janeiro de 1915 Isabeli Bennett, Justine Bennett, Robert Sanders e a sua esposa, Mary, desembarcara em Liverpool, onde se hospedaram na residência da Sra. Gisele King Sanders, irmã do senhor Robert que era casada com Henry King um importante e respeitado lojista da cidade de Liverpool. O objetivo da viagem estava mais do que claro, afastar as garotas do Brasil e, sobretudo impedir Isabeli de se aproximar do infeliz italiano.

Embora tudo andasse na mais perfeita ordem à estadia das senhoritas Bennett na Inglaterra não agradava nem um pouco as mesmas, com ênfase na teimosa Isabeli. Já no Brasil, através de uma carta o Sr. Emanuel Lessa recebia o comunicado que o empresário e amigo Robert Sanders desistia da parceria, o mesmo, agradecia pela confiança e amizade, mas agora era necessário um tempo visto que o bem-estar de sua família era primordial. Não há como negar, a notícia pegou a família Lessa desprevenida, na verdade, a parceria com o gigante investidor britânico era a salvação dos mesmos, visto que por trás daqueles ares de realeza que conservavam, eles escondiam o que há muito tempo se esperava: "a falência". A família Lessa estava quebrada e manter aquele modo de vida imperial nos dias republicano foi o maior dos seus pecados.

— Isso não pode ser verdade. — A baronesa viúva estava toda preocupada, pois, o modo de vida que sempre levou estava prestes a mudar. Eu, não aceito, eu sou uma mulher de dignidade e sobre tudo de valores. — Comunicou com toda a ênfase.

— Estamos quebrados mamãe. — O desapontamento de Emanuel era ainda pior, pois ele jurou no túmulo de seu pai que manteria o legado de sua família para sempre e ao analisar o real estado que os Lessa se encontravam só lhe fazia recordar o quanto o seu fracasso era sem tamanho.

— Mas você é um barão. — Indagava à Sra. Adália Lessa. — Eu sou uma baronesa; viúva, mas ainda sou uma baronesa esse título é o legado de nossa família, não se pode destruir um legado do dia para noite. Entenda-me, Emanuel. Ajude-me a lhe ajudar. — Assegurou a mesma.

— Acabou, minha querida sogra. — Heloísa servia-a se de uma xícara de café e desta forma tentava separar a fantasia da realidade para que sua família entendesse que os tempos mudaram e que o império já era um passado, ou seja, uma lembrança de um Brasil que não regressaria mais.

— Me desculpe, Heloísa, minha querida nora. Mas, eu não posso aceitar. Existem princípios e valores que precisam ser mantidos e querendo ou não prefiro manter-me como meu pai me educou até o dia de minha morte. — Completou a baronesa servindo-se de uma dose de conhaque.

— Na verdade, acabou quando o povo proclamou a república em 15 de novembro. — Argumentou. — O problema foi à gente que infelizmente não quis aceitar, mas como dizia a nossa querida Berenice a monarquia talvez não volte mais e, é preciso aceitar, os tempos estão mudando e querendo ou não precisamos mudar nosso estilo de vida. — Apresentou Heloísa obtendo um olhar horripilante da baronesa como resposta.

Um choque, uma barbaridade, de fato o novo estilo de vida que os Lessa deveriam levar era intolerável para os mesmo, mas se não se adaptassem o mais rápido possível seu império que já se encontrava fragilizado estaria em pouco tempo apenas nos livros de história ou talvez não passassem de lembranças e meras fotos de museu.

Como podemos imaginar, eles não aceitaram o seu novo estilo de vida e então organizaram aquele que ficou conhecido como o último baile real do palacete Lessa.

"Será o último baile, de fato, é o nosso fim...".

Enquanto se admirava no espelho, dona Adália recordava-se das festas que foram realizadas naquele castelo, não se podia negar no passado os grandes homens do inesquecível império do Brasil passaram por aquelas paredes e as grandes festas e por sequente as suas noites foram inesquecíveis. Mas como diz o ditado; tudo tem um começo, um meio e um fim, e agora estava na hora de encerrar aquele ciclo com chave de ouro, pois, o último baile real do palacete Lessa seria nos tempos da república, um pouco irônico, mas acredite essa era a realidade.

— Deixe-me a sós, Haidê, por favor.

— Como desejar senhora baronesa. — Assim que se retirou Haidê, enfim, acreditou que essa noite seria a última, pois, quando o sol raiasse na manhã seguinte o império Lessa já estaria ruído, e nesse caso, essa era hora de sair do encanto e acordar para a nova realidade que se avizinha. 

Em seu quarto e logo após uma breve reflexão do tempo que serviu a família o Sr

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Em seu quarto e logo após uma breve reflexão do tempo que serviu a família o Sr. Josef Müller, já em sua idade avançada e com seus cabelos grisalhos preparava-se para o seu último desafio, nesse caso, a sua última batalha, desta forma estava disposto a morrer, mas jamais ceder à derrota, pois assim como seu pai que serviu no exército imperial ele de imediato teve uma breve recordação de sua participação na guerra do Paraguai, ou seja, aquele homem iria para o baile e estava pronto para dar o seu melhor, na verdade, seria o melhor do seu melhor, findaria a guerra como um campeão, um vencedor, embora a realidade dissesse o contrário, ele finalizaria como um desbravador.

— Senhores: uma pequena palavra. — Josef, observava a criadagem que se formava em ciclo para ouvir as sábias palavras daquele que era a inspiração de muitos naquela casa. — Foi uma honra servir com vocês nessa residência, porém, como todos sabem amanhã será um novo dia, e nesse caso, muita coisa irá mudar, eu agradeço a todos e peço desculpas se em algum momento de minha carreira falhei com vocês e prometo que nós vemos brevemente nessa jornada da vida. Muito obrigado!

Assim que encerrou todos desferiram uma salva de palmas e sobre as palavras entoadas por Leonardo Ricco, caminharam para o último baile da realeza.

Foi uma noite digna de reis e rainhas, os cavalheiros mais influentes da São Paulo da primeira década do século XX estavam presentes e sobre tudo os remanescentes simpatizantes da antiga monarquia brasileira.

No dia seguinte, os jornais davam ênfase à noite de glória no palacete Lessa, mas acima de tudo afirmavam que aquela festa foi à última força de reação da monarquia deixando bem clara a realidade, eles afirmavam que o modo de vida que se levará naquele casarão estava ultrapassado, ou seja, obsoleto, e concluindo, os Lessa estavam literalmente falidos e tudo o que lhe sobrará eram dividas e títulos de nobreza que já não tinham mais nem um valor. 

 No jardim da mansão Emanuel Lessa e sua esposa Heloísa Lessa contemplavam o horizonte e dessa forma despediam-se daquela vida

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 No jardim da mansão Emanuel Lessa e sua esposa Heloísa Lessa contemplavam o horizonte e dessa forma despediam-se daquela vida. Se nesse mesmo período pudéssemos estender uma grande janela poderíamos ver a chegada de Isabeli Bennett ao Brasil, a moça retornou para resgatar o seu amor e por um basta naquelas mentiras e desvendar ao lado de Paolo Furlani os verdadeiros segredos de sua vida.

— Você voltou! — Afirmou Paolo com os olhos repleto de lagrimas, mas com uma diferença, essa emoção era de felicidade.

— Sim, eu não poderia desistir de você querendo ou não fizemos uma promessa para a vida toda...

Isabeli mal terminou de falar e Paolo segurou em suas mãos e juntos exclamaram a velha frase conhecida por ambos e símbolo do seu grande amor.

"Seu bem-estar depende de mim, e, eu, dependo de você. Se você morrer, eu moro! Se você ficar, eu fico! Se partir, eu também partirei". 

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