Capítulo VII

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Isabeli Bennett


— Acorde minha irmã, hoje nós iremos embora desse mausoléu. — Justine era discreta, sim, mas na frente de mim, ela não precisava fingir, pois eu sabia muito bem como ela era e longe dos holofotes seu sarcasmo era sem sombra de dúvidas o seu maior talento. E após ouvir aquelas palavras, tenho que afirmar, era uma ótima notícia.

— Dona Isabeli, Srta. Justine... O senhor e a senhora Lessa, desejam que vocês desjejuem com eles, antes de, se retirarem para sua casa. — Anunciou Cristina toda alegre.

Depois daquela formalidade real, não me contive, eu até tentei me segurar, mas Justine me impediu e ordenou a Cristina que parasse com aquela cerimonia, pois nós não estávamos em um palácio real. E, de fato, eu tinha que concordar, aquilo era muito estranho, e nessa minha estadia pela residência Lessa, não posso negar; sentiria muita falta da Lady Cristina a minha fiel e querida valet.

— Senhoritas: espero que retornem a essa casa. A companhia das mesmas foi muito agradável, especialmente você minha jovem, Justine.

Não! Eu não estava escutando aquilo. A baronesa viúva pedira que nos retornássemos aquela residência, e, em especial, a minha irmã. O mundo estava perdido, ou, eu estava tendo alucinações. Enquanto isso o general dos generais, a rainha da amargura fez um sinal com o rosto, a qual seu fiel cão de guarda imediatamente atendeu. Elegantemente o Sr. Josef fez outro sinal com as suas sobrancelhas e em instante os lacaios começaram a servir a mesa.

— Desculpe minha filha, mas estou-me sentindo no Brasil Imperial. — Salientou, Mary Bannett. De igual forma ela era uma mãe observadora e suas palavras foram as minhas, ela apenas cochichou em meu ouvido, contudo foi o suficiente para a rainha das trevas se pronunciar e perguntar se algo estava nos incomodando. 

 

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Ainda bem que Robert contornou aquela situação, mas Lorena Lessa não parava de encarar-me, parecia até que eu o incomodava, ou fazia-lhe se sentir mal, bem eu não sei explicar, mas essa mulher escondia algo muito grave, isso tenho total convicção.

A raiva que brotava daquela mulher espantava qualquer pessoa, pior para o pobre Paolo, ele acabou se atrapalhando e infelizmente acabou derrubando a bandeja no chão. Foi o suficiente para Lorena explodir e humilhar aquele jovem chamando-o de ignorante, fraco, e que no final, os seus serviços eram horríveis.

Aquela mulher nunca ouviu um não? Em que mundo ela fora criada. Parece que esses barões do café saíram da monarquia, mas a monarquia não sairá deles, eles vivem como lordes, reis, e seu prazer de humilhar os mais humildes eras de fato seu maior orgulho. Naquele exato momento meu sangue ferveu, olhei para meu pai e minha mãe e nem percebi que Justine fazia uma careta para que eu me controlasse, mas nada disso adiantou, eu alevantei-me e bati na mesa e roguei por basta, pois, já estava cansada daquelas humilhações, eu não aguentava mais.

— Isabeli... Isabeli... Isabeli...

Os meus pais, além de Justine, falavam comigo, mas eu não os escutava. Naquela bendita manhã a senhorita dona Lorena Lessa iria escutar-me.

— Que tipo de mulher é você? O que lhe falta? — Perguntei indignada. — O dinheiro que tu tens, já não lhe basta, é realmente necessário humilhar as pessoas?

— Por favor, Isabeli se acalme. — Rogou a mesma.

Bem agora ela queria calma, mas eu não deixaria essa história assim e exigi que a mesma se desculpasse com Paolo, e ainda, frisei que caso isso não acontecesse jamais retornaria aquela bendita casa.

— Desculpar-me... — Ela encerrou com uma gargalhada e no final chamou-me de menina insolente e mimada e que tudo aquilo era teimosia, pois, eu estava tendo um caso com aquele empregado a qual eu tanto defendia.

Todos os olhares estavam sobre minha cabeça. O meu destino estava traçado. Porém, eu havia me esquecido, eu ainda tinha uma família que lutava e brigava por mim. Justine foi a primeira a apoiar-me e de imediato questionou a Lorena, pois, que direito tinha a mesma de acusar-me, ou inventar calunias, afinal, sobre minha vida pessoal não lhe merecia nenhuma explicação.

Quem também não ficou calada foi minha mãe, mesmo estando do outro lado da mesa ela ordenou a Lorena que retirasse suas palavras, ou teria que tomar atitudes drásticas, pois tudo aquilo que pronunciou não passavam de puras mentiras de uma mulher orgulhosa, fria e sem amor no coração. Lorena estava vermelha, e bufava como um leão. Todavia, meu pai o, Sr. Robert se alevantou da mesa e foi na direção de Paolo, ambos trocaram uma pequena mirada e, no final, gentilmente meu pai ajudou o mesmo a juntar a bandeja do chão.

— Me desculpe senhor e senhora Lessa, mas os negócios entre mim e o senhor estão definitivamente encerados. — Justificou Robert com o seu português demasiadamente carregado devido a sua influência inglesa.

— Por favor, Sr. Bennett... — Argumentou o barão Lessa com a face resplandecendo desapontamento.

Meu pai não deixou Emanuel continuar e disse que não havia motivo para continuar com aquela relação, pois os senhores do Brasil eram retrógrados e estavam acabando com uma nação. Sendo assim: a parceria entre eles estava encerrada, pois o respeito era à base de tudo e isso infelizmente ele não encontrou na família Lessa.

Saímos daquela residência e fomos morar na nossa casa. Nossa nova morada não era um palácio como detinha a nobre família Lessa, mas era tão bela e aconchegante, de certa forma, eu achava muito melhor que aquele palácio de trevas.

Meu pai, Robert Sanders, era um homem de negócios, começou sua fortuna com investimento nos fundos do governo americano, virou parceiro de empresários ingleses e alemães, tendo se tornado sócio da companhia John Brown & Company; o seu grande trunfo, empresa está que fabricava navios, tendo como destaque os RMS Lusitania e Arquitania os mais famosos e celebres rivais do saudoso RMS Titanic e Olimpic.

A nossa vinda ao Brasil tinha um único objetivo, meu pai estava de olho no futuro industrial da nação e queria construir aqui nestas terras uma fábrica que levasse o café brasileiro pronto para ser utilizado nas casas, hotéis e restaurantes da Europa e dos Estados Unidos. Porém, o que o senhor Robert necessitava era de um parceiro brasileiro, assim, ele acreditava que com está imagem ganharia a confiança dos demais senhores deste país.

Entretanto, resumindo, eu estava entediada então resolvi dar uma saída, e logo descartei a presença de minha irmã, Justine. Andando pelas ruas e bem distraída, quando percebi estava na frente do palacete, Lessa. A vontade de ver Paolo foi mais forte, então tomei uma atitude ariscada, desta vez contei com ajuda de Cristina e assim pude adentrar na casa.

Para minha surpresa Paolo havia sido demitido, seu primo, Felipo que também trabalha lá, logo, dera-me à notícia. Lembrando-se de minha esnobe atitude, senti-me demasiadamente culpada, e decidi que precisava fazer algo. Caminhei pelo jardim da mansão e ao fundo sentada isoladamente de todos avistei Lorena. Ela chorava e parecia bem diferente da amargurada e rude mulher de outrora, concluindo, não sabia o real motivo, mas vê-la daquela maneira fez-me sentir culpada. Estava na hora de retroceder e ao menos tentar ouvir o outro lado da história. Afinal, que segredos, Lorena Lessa poderia esconder? 

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