Capítulo XII

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— Basta. Acredito que já tivemos o suficiente por uma noite. Senhores: recomendo que se retirem, por favor. — Graças a Heloísa aquela confusão sessou, caso contrário já poderíamos imaginar o banho de sangue e mágoas que jorraria por aquela casa.

— É sempre assim: Todo dia, toda hora em todo instante tem um, porém, mas um dia, enfim um dia a verdade não poderá ser calada e será nesse dia que tudo irá ruir por terra; doa a quem doer; aconteça o que tiver, mas a verdade virá. — Com a voz ofegante e tendo um semblante de completa derrota, Berenice Lessa, subiu as escadarias e trancou-se em seu quarto impedindo que qualquer um adentrasse no mesmo.

Os Bennett se retiraram, mas a dúvida viajou com os mesmos. De todos, o mais incrédulos era Isabeli, a mesma sabia que alguma coisa estava acontecendo, ela não sabia ao certo o que de fato seria, mas tinha total convicção que seus pais a quem ela tanto amava sabiam de algo que eles juraram jamais revelar, mas para ela esse segredo já não era só de seus pais, fazia parte de alguma forma daquela tradicional família Lessa e de alguma forma esse segredo era também seu segredo.

— Alguma coisa deve estar acontecendo. — Era Rita ajudante da cozinha com seus eternos e sombrios comentários sobre a vida dos patrões.

— Eu já lhe falei, por favor, cale-se: contenha-se. Se ao menos deseja ter seu emprego suplico que não se meta na vida dos patrões. — Finalizou a velha cozinheira logo voltando sua atenção para o fogareiro.

— Dona Margarida, não precisa ser tão rude. — Disse Rita achando que teria o apoio, mas infelizmente se enganou, na verdade, ela não esperava que Rose chefe das empregadas estivesse escondida ouvindo toda a conversa.

— Falava alguma coisa, Rita? — Perguntou à Sra. Rose. A tal pergunta fez a pobre mulher estremecer e se atrapalhar toda com os pratos da cozinha já que a mesma organizava a louça de jantar da baronesa viúva, peças trazidas exclusivamente da França. Ou seja, para a baronesa viúva aquelas peças representavam muito mais já que, todavia, fora um presente de seu falecido marido.

— Deixe a menina trabalhar, Rose. — Desabafou Margarida secando suas mãos no velho avental a qual vestia.

— Dessa vez seu pedido é uma ordem Margarida. — Apesar de ter atendido ao pedido, Rose seguiu olhando tenebrosamente para Rita, que seguia, de igual forma, toda tímida e envergonhada. Toda séria e mais rígida e brava que um coronel a Sra. Rose foi ao encontro de Cristina e perguntou se a mesma já tinha ido cuidar de sua Lady.

— Não, eu ainda... — Cristina perdeu as palavras, devido ao medo que a senhora Rose empunhava as pessoas.

— Agora mesmo cumpra sua tarefa se é que não deseja passar essa noite e outras que virão no olho da rua! — Proferiu a mesma muito zangada.

Vestindo-se de seu vestido negro que cobria todo seu corpo e jamais denunciava um resquício de sensualidade Cristina subiu apressadamente ao segundo andar do palacete, em suas memorias, o desejo de um dia vencer as barreiras do preconceito e se assim desejar o todo poderoso, vestir-se dos mais lindos, belos e coloridos vestidos que sua lady já desfrutou. Um sonho e em meio a esse mar de pureza e inocência a realidade que destruía e lhe apresentava qual era seu verdadeiro lugar na sociedade.

— Acorde garota! — Sussurrou, Rose. — A porta não se abre sozinha e muito menos a lady cobrira-se só de sua nudez.

— Senhorita Berenice, por favor, abra a porta... — As palavras de Cristina se repetiram por um largo momento até que Leonardo Rico, o sub-mordomo e valet pessoal do barão que passava pelo corredor e ao observar o desespero da jovem perguntou se algo de grave estava acontecendo. E, de fato, estava.

— Srta. Berenice! Srta. Berenice... — Ao mesmo tempo, em que Leonardo chamava, ele batia na porta. Ao certo, ele acreditava que a filha do barão poderia não estar lhe ouvindo, e dessa forma, agindo com um pouco de brutalidade e escândalo poderia chamar sua atenção.

— Por favor, senhores, o que está acontecendo? Qual o verdadeiro motivo dessa gritaria? — Cheio de fúria e com objetivo de algo pior em mente, Emanuel Lessa, o barão desejava uma explicação aplausível para aquela algazarra.

— É Berenice, Sr. barão. Ela não abre a porta e temo que algo tenha acontecido. — As palavras de Cristina acalmaram aquela fera, mas no mesmo instante uma preocupação mortal abateu-se sobre aquele homem ordenando a Leonardo que rompesse a porta para que ele mesmo pudesse averiguar o que estava acontecendo.

Ela estava morta... Berenice Lessa, havia se suicidado. A filha mais nova do rico e influente empresário do café, prestigiado e conhecido no país como um símbolo da riqueza do antigo império brasileiro, não resistiu à pressão, e para ela, todavia aquele fardo de mentiras e soberbas era algo grandioso, algo tenebrosamente impossível de conviver. A morte que era naquele momento uma tragédia, um fardo que a família levaria, para Berenice, foi um escape, foi à conquista de sua liberdade.

Ela cortou os pulsos, adentrou na banheira e pouco a pouco sentiu a liberdade pairando sobre o seu corpo. Dizer que a mesma não pensou nas consequências dos seus atos, é tolice, por que, na verdade, foi ao pensar nas consequências que ela chegou a exatamente a está decisão.

Sobre sua cama havia um envelope, o mesmo fora encontrado por Lorena. O dito envelope era destinado à família, mas nele continha uma mensagem que abalou aquela mulher profundamente.

"Hoje eu saio do anonimato e entro para história". Não foi como desejei, mas foi à única maneira encontrada para poder trazer paz a essa família. Acredito que minha missão esteja comprida e no momento, eu lamento muito, mas é hora de partir. Chega um momento de nossas vidas que é preciso tomar uma atitude, a gente erra, a gente ama, a gente se odeia, mas, no fundo, a gente só quer ser compreendida. E, às vezes para ser compreendida, uma pessoa precisa morrer, para enfim poder conceber sua liberdade. Eu amo essa família! Mas essa família precisa ser amada, ela precisa amar ou infelizmente minha morte será inútil. Acredito que não é isso que desejam? Que minha morte tenha sido uma tolice, mas que minha morte tenha sido o início percussor da paz que se avizinha. Por isso, peço a liberdade, e que a verdade seja dita, por que viver nesse mar de mentiras e segredos não terá futuro algum, pois, o único destino será a dor e a desgraça que infelizmente rodeiam as nossas vidas.

A mesma carta foi lida em seu velório, uma carta que chocou a todos e devido ao seu alto grau de complexidade só demostrou o quanto aquela moça estava sofrendo. Para a grande maioria aquelas palavras não faziam sentindo, mas para uma pessoa em especial todas aquelas letras tinham um sentindo.

 Para a grande maioria aquelas palavras não faziam sentindo, mas para uma pessoa em especial todas aquelas letras tinham um sentindo

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Para Lorena Lessa aquela carta era apenas a ponta do iceberg, na verdade, a gota d'água na tempestade que estava faltando. Ou seja, mais uma morte, mais uma perda, tudo isso era demasiadamente intenso. Seu segredo estava saindo muito caro, e de fato, o seu pecado havia afetado muitas pessoas inocentes que infelizmente estavam pagando pelo seu erro, e nesse caso, estava na hora de pôr um basta ou todo o sacrifício de sua irmã não havia passado de uma teimosia, ou algo que lembrasse a tolice.

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