Eu (não) sou um psicopata. Capitulo 15. Carlos Daniel.

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O gosto do café hoje é mais amargo. Lucy e Laura ainda dormem, talvez eu tenha acordada cedo demais para elas. Abro as cortinas e aos poucos vou sentindo o sol penetrar a casa. Me sinto diferente depois da morte de Lee, mais atento, sinto que meus sentidos aguçaram. Termino os preparativos para a aula de hoje e decido caminhar, são quase sete da manhã e minha barriga ainda reclama de fome. Entro na padaria onde eu e minha vó comíamos. Sento na cadeira da bancada e peço por um sanduiche e um copo grande de café.

O garoto que está ao meu lado escreve em uma agenda. Meu café não demora muito e logo chega. Tomo alguns goles e ele continua ali.

- Você parece gostar disso... – vou colocando açúcar no café.

- Talvez essa seja a única coisa boa desse lugar - ele ri. – É um livro na verdade.

- Você já provou o café? – Rio – interessante. O tom de sua voz é meio baixo e levemente aguda, talvez seja sua sexualidade, ou apenas alguns hormônios. Seu corpo se posiciona segura e friamente na cadeira. Ele não para de escrever naquilo.

Recebo um pouco da arrogância do atendente ao deixar cair um pouco do café na mesa. O garoto se revira como se você rir.

- O que foi engraçado?

Ele engole seco. Me levanto e termino o café. Começo a caminhar em direção a minha casa, ao virar a esquina escuto alguns passos nas minhas costas, são passos rápidos, acompanham o meu. Continuo caminhando e acelero o passo. Quando estou na frente de casa eu paro e viro de costas.

- Qual é a sua garoto? – Ele congela com medo.

- Eu só... só... queria te relatar no livro, só isso... – desconfio.

Puxo ele pelo casaco.

- Precisava me seguir? – Ele treme – vamos, me mostra isso.

Ele me entrega a agenda e eu o empurro para dentro. Leio rapidamente mas ignoro as passagens.

- Você vai acabar com isso agora. – Coloco as mãos na cintura e bato a porta.

- Oque? Tudo bem, tudo bem... – ele continua tremendo, confesso que gosto disso.

Ele se escora no sofá.

- Agora, acaba com isso.

Ele começa a rasgar uma das páginas.

- Pronto?

- Obrigado. – Estou pronto a manda-lo embora quando Lucy me interrompe da cozinha.

- Pelo menos de agua aos convidados. – Ela surge com um copo nas mãos – qual seu nome?

- Car-carlos Daniel...

Eu quase peço desculpas mas ignoro-os. Vou indo para as escadas secando o suor com a camiseta que tirei. Enquanto subo escuto alguns sons esquisitos e de repente cacos de vidro no chão. Corro de volta para a sala e o vejo tentando juntar alguns cacos e pedindo desculpas. Lucy começa a varrer. Me ajoelho próximo a ele e começo a ajudar. Ele me encara por alguns segundos e apoia a mão em alguns cacos.

- Porra! – Ele grita.

Tento ajuda-lo a tirar os cacos das mãos, mas ele escorrega e bate a cabeça nos estilhaços do chão. Já tem sangue por todo lado. Lucy tenta ajudar e eu tento ligar para a ambulância. É tudo que passa pela minha cabeça.

- Não vai dar tempo. – Lucy me assusta.

Tremo ao digitar os números. Seus gemidos já estão mais lentos e ele começa a chorar. Jogo o telefone no chão e vou até eles. Sua veia aorta tem um enorme pedaço de copo. Grito alguns palavrões e soco seu estomago. Laura começa a descer e me vê com as mãos ensanguentadas. Meu corpo todo está sujo. Ela se mantem na escada e sua expressão me revela como assassino mais uma vez.

Tento me explicar rapidamente, mas tudo que sai de minha boca são gaguejos. Ela sai para o quintal e bate à porta. Digo a Lucy para conversar com ela e vou trocar de roupa. Alguns minutos mais tarde faço um buraco para ele e o arrasto até lá. A arvore parece agradecer por mais adubo. Limpo o chão da sala e não vou para aula mais uma vez.

Vou para o banho no final da manhã, a agua que escorre do chuveiro parece me livrar daquela situação, mas meu prazer é quebrado ao ver o sangue escorrer pelo ralo. Termino e me enrola na toalha, encaro o espelho e começo a escovar os dentes, minha visão parece ficar turva, tento focar apenas no ralo da pia, mas fico cada vez mais tonto. Minha testa lateja e minha cabeça começa a doer. Uma dor que aumenta a cada movimento que eu faço, coloco toda minha força na pia e caio no chão. Tudo fica escuro e me reviro. Acho que já passou um minuto assim até que a dor passa, me levanto fraco e olho o espelho, meus olhos estão vermelhos e meu nariz sangrando. Lavo meu rosto e deito na cama ainda com as veias latejando.

Apressão vai se aliviando aos poucos e algumas horas depois acordo. Meu telefoneestá tocando na cabeceira e já é a quinta chamada. Atendo. É minha mãe e tudoque escuto são choros. Me sento na cama e ela explica a situação. Como ela é aresponsável legal por mim recebeu uma intimação da polícia. Eu deveriacomparecer ao tribunal e procurar pelo juiz responsável pelo caso 213. Meu tioiria me levar o documento à noite.

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