Desabafos

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Erik

Quando acordamos, foi uma tragédia. Andrea andava de um lado para o outro da casa de fazenda, colocando suas roupas, me xingando, dizendo que nunca mais iria se repetir e toda aquela conversa que estamos cansados de ler e saber.

Agradecemos ao senhor por nos ter concedido a casa e voltamos para o lugar onde deixamos o carro. Ai a coisa também ficou feia. Tive que chamar um guincho para virem pegar meu carro, o que levou 1 hora para chegar, que rendeu tapas no braços e gritos histéricos de uma loira louca e nervosa. Por muito tempo eu prendi o riso, porque se eu rice, não estaria vivo agora.

O cara do guincho deixou Andrea primeiro em casa e depois me deixou em casa. Claro que naquele dia, nenhum dos dois foi trabalhar, e ainda por ser sexta, teríamos, hoje, sábado e domingo para descansar.

Me jogo no sofá da minha sala e abro um sorriso, acho que estou fazendo um pregresso com ela. Por mais que ela me odeia, e queria muito me matar, consegui momentos incríveis com Andrea. Momento que sei que a muito ela não tinha. Ainda não consegui que ela me falasse sobre seu passado, muito menos da sua época de adolescente pervertida. Mal consigo acreditar que transamos de novo, algo que achei que só em outra dimensão isso iria acontecer (nos meus sonhos).

Me aguarde Andrea, nós vamos viver momentos incríveis juntos, nem que para isso eu tenha que fazer da sua vida um inferno. Não tenho mais medo dela (mentira), enquanto eu tiver aquelas fotos, terei uma chance de ficar perto dela.

Segunda-feira, 8:30 do amanhã

Passei o sábado e o domingo inteiro tentando falar com Andrea, mas sempre cai na caixa postal as chamadas, e ela não respondia minhas mensagens. Eu entendo.

Eu sei que pareço um psicopata indo atrás dela, mas não consigo evitar. Todos os meus instintos anseiam por seu toque, por sua voz, para ver seus olhos maravilhosos. Agora mesmo estou esperando em minha mesa sua chegada, o que não demorou muito.

Assim que Andrea passou por mim, antes de entrar na sala, ela simplesmente disse:

-Meu café em 5 minutos, traga os papeis para mim que está no seu e-mail – e entrou na sala.

Fiquei encarando a porta. Era isso? Depois de tudo que passamos, é essas palavras que eu escuto? Nenhum xingamento? Estou desapontando. Fui até a cafeteria perdido em pensamentos. Fiz o que ela pediu, dando uma lida por cima pelos papeis, mas não encontrei nada que disse demissão de ninguém, ou seja, a minha. Ufa.

Bati em sua porta, e só entrei quando ela permitiu. Sua sala estava a mesma, Andrea estava na mesma posição que sempre ficava, atrás da mesa, lendo os papeis com seus óculos, que em geral ela não usa, só quando as letras são pequenas demais, e sim, eu reparei nisso também. Se tem uma coisa que fico mais encantado nela, é sua inteligência. Coloquei a xícara em cima da mesa, e do lado os papeis. Fiquei parado ali, tentando dizer alguma coisa, mas nada vinha na minha mente. Percebendo isso, Andrea levantou os olhos dos papeis e me encarou fria.

-Algum problema Sr Turner – agora voltamos as formalidades. Ruim. Muito ruim.

-Achei que sei lá, iria me xingar, ou brigar comigo, até mesmo fazer piadinhas sarcásticas sobre o que aconteceu na sexta – cruzei os braços aguardando sua resposta.

-Era isso que você esperava que eu fizesse?

-Pensei que iria fazer alguma dessas coisas. Só fiquei surpreso pelo seu silêncio.

Andrea em um suspiro, tirou seus óculos, e me encarou séria.

-Erik, sinceramente, sexta feira foi algo bem diferente para mim. Da pior forma possível, você me fez sair da rotina, fazendo algo que eu nunca pensei que fosse acontecer comigo, como cair na lama ou passar a noite em uma fazenda no meio do nada – dei um risinho de lado, mas logo o desfiz por conta da sua expressão – Mas isso é passado. E o passado fica lá, pare de tentar vasculhar o passado para ficar o relembrando. Siga em frente, e continue seu trabalho.

Decepção é como uma balde de água fria que foi jogado em mim. Apenas me viro e saio da sala, me sentando em meu lugar. Dou uma olhada na porta fechado, sabendo que ninguém de lá iria sair para pedir desculpas reconsiderando tudo o que havia dito. E ela tem razão. Mas não quero fazer isso, não posso.

O dia passa entediante. Faço as mesmas coisas de sempre, nada de especial acontece, nem mesmo uma chamada em sua sala. No final do expediente, quando entrei no elevador, vi Andrea sair de sua sala, e achei melhor segurar o elevador para ela. Aaah...aquele silêncio filho da mãe. Estava um ao lado do outro, esperando o elevador descer, nenhum se olha. Mas é claro que Deus não vai facilitar as coisas, estaria muito fácil. Quando estávamos chegando no décimo andar (o nosso ficava no vigésimo andar), as luzes do elevador ficaram piscando e se apagaram, e o elevador parou.

-Mas que porra é essa? – levo um susto pelo grito de Andrea.

-Acho que o elevador parou, deve ter acabado a energia ou algo assim – me encosto em uma das paredes suspirando. Ótimo.

-Maravilhoso. Era só o que me faltava – Andrea ligou o celular e colocou no ouvido – Sr Anderson, sim Senhorita Harris, tem alguém no prédio? Preciso que mande o segurança para os elevadores, estou presa em um -silêncio – COMO ASSIM 40 MINUTOS, EU PRECISO PARA AGORA – silêncio – Certo. Certo. – ligação finalizada.

-Estamos presos aqui por 40 minutos então – me sento no chão relaxando. Que queria ficar as sós com ela, mas não dessa maneira. Ouvi um barulho, e sinto que Andrea sentou também – Certo, então, o que fez no sábado? Tentei falar com você, mas não consegui.

-Foi porque eu não queria falar com ninguém, principalmente com você.

-Qual é Andrea. Sei que ficou puta da vida, mas sei que gostou também, por mais que tenha caído na lama. Porque não deixa de ser tão fria e apenas me responda normalmente. – não conseguia ver seu rosto por conta da escuridão, porém de algum modo, senti como se tivesse relaxado.

-Eu apenas descansei. Fui a um SPA, me acalmar, apenas isso. Feliz agora?

-Não. Ainda não tenho o que eu quero.

-Mas que porra mais que você quer Erik? Já não basta todo o terrível encontro que tivemos? Isso não foi prova o suficiente para mostrar que não tem jeito de termos alguma coisa? E olha só o que aconteceu agora, o elevador parou. Mais uma prova que devemos ficar longe um do outro.

-Se foi tão para mostrar que não podemos ter algo, porque então no final transamos? E agora, é só uma prova que temos que conversar, não quero que fique uma situação tensa desse jeito. Aquela noite não saiu como eu planejei.

-Saiu sim. Você conseguiu transar comigo. – irá dominou o meus corpo. Ela acha que eu apenas sai com ela para foder?

-Agora você é que está me ofendendo. Acha que só sai com você para no final tê-la na minha cama? É isso que pensa de mim?

-Sim, é isso mesmo que eu penso.

Passo dobro minhas pernas ainda sentado, e passo a mão pelos meus cabelos. Ela vai me deixar louco. Depois de tantas vezes dizendo que eu apenas queria saber sobre ela, ela me diz isso? A escuridão me dá coragem para falar e desabafo.

-Eu realmente pensei que fosse melhor que isso Andrea. Em momento algum eu disse que estávamos saindo para depois foder, deixei bem claro para você minhas intenções. Te conhecer melhor, mas parece que você está afundada em tanto ódio e frieza por tudo, que não consegue enxergar mais nada que não seja você. Você egoísta Andrea. Não sei o que deu em mim, para ficar tão ...assim...por você.

-Eu não pedi para se aproximar, não pedia para que tivesse esse tipo de coisa por mim. Eu estava muito bem sozinha.

-Pois é, a gente não escolhe por quem nosso coração vai gostar. Se eu pudesse, eu juro que mudaria isso, mas não posso. A merda já foi feita, e vai demorar para deixar levar.

Um novo silencio se estabeleceu por todo o elevador. O único som, era de nossas respirações. Fui sincero em cada palavra que eu disse. Sou louco por ela sim, mas até mesmo eu sei quando alguém é ruim ou egoísta.

-O que você falou – suas palavras baixas me pegam de surpresa – é verdade?

-Tudo o que eu disse para você Andrea, é verdade. Nunca menti para você, até quando fiz algo que não deveria, como mexer nas suas coisas, eu lhe contei.

-Então...você...- ela parou e disse o final em um leve suspiro – realmente gosta de mim? De mim?

-Sim. A muito tempo eu sinto isso. Só nunca tive uma oportunidade para falar, para ser sincero, nunca pensei que tivesse essa oportunidade. – escuto um barulho dela se mexendo.

-E se não tivesse encontrando aquilo, você nunca teria me dito? O que sentia – suas palavras são receosas.

-Provavelmente eu terei pedido demissão e gritado para o prédio inteiro saber o que sinto por você.

Mais barulho de roupas se mexendo, e sinto algo ao meu lado. Andrea sentou do meu lado. Porque?

-Eu tinha 10 anos quando minha mãe foi diagnosticada com câncer de mama. Meu pai cuidou dela até certo ponto, depois apenas mandava o dinheiro de seus tratamentos. Mas o tumor já estava em um estágio que não tinha mais jeito. Ela faleceu quando eu tinha 11. Foi ai que comecei a dar tudo de mim para esse cargo, porque sabia que uma hora ele seria meu. Precisava deixar minha mãe orgulhosa. Fiz questão de jogar na cara do meu pai que foi e sou melhor do que ele pensava. Acho que foi daí que meu ódio pelos homens cresceu. Meu pai simplesmente parou de ver minha mãe, colocou a empresa em primeiro lugar, e a família em segundo. Quando assumi meu posto de chefe, fiz questão de fazer a mesma coisa. Faz muito tempo que não o vejo. Sobre minha infância, não tem muito o que contar. Nunca fui uma pessoa fácil de socializar, por isso sempre estudei em casa com tutores, para que não precisasse ir para a escolinha e conviver com outras crianças. Fui conviver com pessoas só na faculdade, e bem, eu não conhecia aquele mundo, eu só queria saber o que era viver no meio do povo, de adolescentes, mas as companhias que escolhi não foram boas. Festas, maconha e muita bebida. Você viu nas fotos. Por 2 anos, eu fui alguém que eu sempre quis ser. Livre, feliz, e não precisava do meu pai. Quando terminei a faculdade, abandonei tudo, e criei um murro para tudo ao meu redor. E hoje, eu sou assim.

Enquanto Andrea falava, fiquei quieto e encarei a escuridão que achei que fosse seu rosto. Em nenhum momento ela vacilou, nem tropeçou em nenhuma palavra. Foi um discurso de uma líder. E meu coração mais uma vez quer sair dali e abraçar o coração dela. Jamais pensei que ela pudesse ter uma vida assim. Principalmente sobre sua mãe.

-Obrigado. Sabe, por me contar. Entendo melhor você agora.

-Estava entalado na minha garganta, desdá primeira vez que você me perguntou, mas não consegui dizer. Estava brava e chateada demais com as coisas que você tinha feito.

-Meus pêsames pela sua mãe. – uma pergunta pairou sobre minha cabeça, e aproveitando o momento, perguntei – Mas, não teve nenhum romance, nenhum amor?

Foi quando as luzes piscaram e se ascenderam. Levantamos rápido, antes que as portas se abrissem, Andrea sussurrou.

-Quem sabe eu te conto, no sábado na minha casa as 21:00 – antes que eu pudesse argumentar, as portas se abriram.

Dois seguranças disseram que as luzes tinham caído em todo o quarteirão. Agradecemos e saímos do local. Quando os homens foram embora e eu estava com meu taxi esperando, avistei Andrea quase entrando em seu carro do outro lado da rua.

-Ei – chamei sua atenção, a mesma meu olhou – Porque decidiu me contar naquele momento?
-Porque eu também gosto de você Erik – abriu um sorriso de lado e entrou em seu carro.

Espera.....O QUE?



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Espero que tenham gostado, continue acompanhando que eu garanto muitos coisas vindo por ai. Beijooos e até a próxima. 

A Minha ChefeOnde histórias criam vida. Descubra agora