Querida Carrie,
Estou perdendo o controle das minhas emoções.
Cada dia que passa, minha vida parece cada vez mais triste. Minha avó ontem jogou na minha cara que eu não tenho carteira de motorista por culpa minha. Eu deveria ter rebatido, dizendo que a culpa não era minha, e sim dela. Ela me fez de idiota. Prometeu por anos me dar a carteira, mas quando chegou a hora, disse que não ia desperdiçar dinheiro comigo, porque eu sou uma inútil medrosa. E não é exagero meu, ela disse isso mesmo.
Eu realmente preciso dessa carteira, e ela sabe disso. Minha mãe está doente, quase não pode andar. A própria avó está doente, precisa dos remédios, mas depende da minha mãe que dirige para buscar. Eu não compreendo como ela pode dizer essas coisas para mim. Eu vejo minha família padecendo, e sei que poderia estar ajudando, mas não posso!
Eu vejo minha casa desmoronando cada vez mais. Agora meu pai está sob o risco de perder o emprego por corte de gastos. Ele está estressado, e desconta isso brigando comigo e com minha irmã por coisas idiotas. Eu tento ser compreensiva e paciente, mas minha cabeça não está mais suportando tudo isso.
Hoje o feijão azedou durante o cozimento. Não temos dinheiro, então cortei a grama do quintal. Minhas pernas estão doendo demais. Eu chorei por causa desses dois motivos. Inconsolávelmente. Não eram motivos para uma pessoa chorar. Eu deveria ser mais forte que isso. Mais madura que isso. Mas já são meses nessa loucura. Minha cabeça está prestes a explodir. Estou com medo de, quando isso acontecer, eu fazer uma besteira. E isso não pode acontecer, não seria justo com ninguém.
Carrie, eu sinto tanta falta do Pedro! Nessas horas, ele me abraçava, sussurrava no meu ouvido dizendo que tudo ia passar, e sua voz grave me acalmava até eu parar de chorar, me recompor e tomar o controle da situação. Mas está cada dia mais difícil viver sem ele.
Obrigada por me ouvir, já ajuda.
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Querida Carrie...
Short StoryCartas de uma esquizofrênica para uma amiga que não existe.