Querida Carrie,
Todo mundo já chorou antes de dormir.
Eu choro toda a noite, por pelo menos vinte minutos, até pegar no sono. Eu sei que tem algo muito errado comigo. Já senti isso antes. É uma tristeza profunda, sentimento de inutilidade, muita raiva e revolta, doses de mágoa e rancor, e pouca vontade de viver.
Eu queria poder sucumbir como da outra vez. Deitar na minha cama e morrer aos poucos. Matar o resto de vida social que ainda respira com ajuda de aparelhos. Não me arrumar, roer as unhas até o toco, deixar meu rosto apodrecer de espinhas. Nem lavar o cabelo.
Eu queria não existir, já que minha vida não faz muita diferença. Ou pior, meu ser incomoda a todos.
Mas eu não posso sucumbir dessa vez. Se eu sucumbir, perderei minha mãe. Ela precisa de mim, agora mais do que nunca. Eu tenho que ser forte, tenho que engolir os desaforos e brigas do meu pai e da minha avó, por ela. Tenho que ficar quieta, como uma ovelha, que apanha, mas não pode retrucar. Tenho que perder minha opinião, meus sentimentos, minha falta de vontade de existir. Ela, só ela, precisa de mim.
Mas não é fácil fazer isso sem o Pedro. Carrie, se ele estiver com você, mande ele voltar para mim. Eu preciso dele. Ele é o único que vai me fazer sobreviver a isso, sem machucar ninguém. Por favor, diz pra ele que eu o amo. Diz que não é justo o que ele está fazendo comigo. Coloque um pouco de juízo na cabeça loira e perfeita dele. Diz qualquer coisa, mas faz ele voltar a me amar.
Obrigada por me ouvir, já ajuda.
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Querida Carrie...
Короткий рассказCartas de uma esquizofrênica para uma amiga que não existe.