Querida Carrie,
Hoje me aconteceram duas coisas.Primeiro, Junior ficou muito triste. Ele estava muito mal, e eu passei umas duas horas tentando consola-lo, ou achar uma maneira de fazer ele pensar em outra coisa, qualquer coisa. Parece que é nesses momentos que é bom ser uma nerd idiota, eu faço brincadeiras, piadas e coisas idiotas. Ele sempre diz que ajuda.
O problema é que eu sou uma idiota. Que tipo de garota estúpida não sabe dar conselhos sobre relacionamentos? Eu. A maior parte das mulheres sabem e gostam de tagarelar horas sem fim sobre relacionamentos amorosos, trocar conselhos e parecerem maduras emocionalmente. Acontece que eu não sou uma delas. Noite passada, Junior riu enquanto me dizia que eu parecia a Brigitte Jones, e que finalmente entendeu por que eu insisti que ele assistisse o filme.
Na verdade, não sei bem se me senti feliz ou triste quando ele disse isso. Eu só tinha pedido pra ele assistir porque queria algumas músicas do filme e ele é bom em reconhecer trilhas sonoras. Mas isso me intrigou. Será verdade? Eu sou mesmo a Brigitte Jones? Eu pareço uma garota inglesa estabanada, meio doida, meio depressiva, que sempre tira conclusões precipitadas e se mete em situações constrangedoras?
Talvez. Segundo o Junior, parece que sim. Mas ainda existe um porém. Mesmo estando errada, Brigitte Jones consegue compreender relacionamentos amorosos. Eu não. Eu sei que deveria, mas a ideia de ter alguém que se preocupe comigo de verdade, que queira estar perto de mim, e que goste de mim pelo que eu sou, não sei, parece que eu não mereço. De verdade. Meu destino é ficar sozinha, assim não machuco ninguém. E ninguém pode me machucar.
A outra coisa que eu queria contar, é que eu conversei com ele essa semana. Pois é. Simplesmente estava andando da faculdade até uma lanchonete, quando ouvi ele me perguntar como o Junior estava, se estava bem, se estava superando.
Agora eu me pergunto se não devia ter sido grossa com ele, perguntar se ele não tinha alguém para ajudar ou se estava voltando agora por pena de mim. Mas, por mais que eu esteja furiosa com o fato de que ele decidiu me deixar, eu nem pensei em fazer nada disso. Conversar com ele para mim é natural como respirar, aquela voz doce controla minha garganta, a resposta é automática. Conversamos por todo o trajeto, mas desta vez ele não se calava quando vinha alguém, parecia não se incomodar. Mas como eu me incomodo de ser chamada de louca pela faculdade, eu sempre fico quieta.
Será um bom sinal ele ter voltado, Carrie? Ou será que eu estou ficando louca?
De qualquer forma, obrigada por me ouvir. Já ajuda.
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Querida Carrie...
Short StoryCartas de uma esquizofrênica para uma amiga que não existe.