Querida Carrie,
Às vezes eu me sinto o pior e mais hipócrita dos seres que habitam esse planeta.
Eu amo o Junior. Ele é meu melhor amigo. Ele me faz rir, com suas idiotices e palhaçadas, me faz companhia nas madrugadas, com ele sempre sinto que posso escapar da realidade, e me acalmar. Quando eu estou conversando com o Junior, quase sinto que posso viver sem o Pedro.
Até mesmo quando tenho pesadelos que me acordam de madrugada, eu posso falar com ele porque sei que ele estará lá, acordado para me ouvir.
Isso faz com que eu me sinta responsável por ele, e tento sempre fazer de tudo para que ele se sinta melhor, aconselho ele sobre seus problemas, faço companhia quando ele está mal. Tenho certeza de que, se o destino fosse favorável conosco, e morássemos na mesma cidade, bem pertinho; não importaria a hora, eu iria consolá-lo pessoalmente sempre.
Mas eu quase nunca falo meus problemas pra ele.
Eu geralmente não gosto de falar sobre meus problemas, porque eu penso que, com a maior parte deles, parece que eu os estou revivendo. E isso me apavora. Me apavora pensar que eu tenho problemas, que sou e sempre fui fraca demais para resolvê-los, e que estou incomodando a outros por ser uma lady in danger.
Só que essa semana os meus problemas estavam me enlouquecendo ao extremo, e eu estava desesperada. E quando, em um momento de fraqueza, eu deixei transparecer que estava mal, ele fez uma brincadeirinha, e pareceu não se importar. Eu fiquei tão frustrada e tão furiosa! Eu precisava dele, precisava desesperadamente, queria que ele cuidasse de mim e me ouvisse da mesma forma que eu sempre faço com ele.
Eu briguei com ele.
E ele se machucou.
Não era minha intenção. De verdade. Não queria que ele me odiasse, que se odiasse, que pensasse que fracassou comigo. Ele é a pessoa mais doce que eu já conheci. Eu o amo. Preciso dele.
Eu me sinto muito culpada. Não foi justo exigir tanto dele, assim, do nada. A verdade é que eu nunca disse pra ele o que eu queria. Nunca disse que o quero ao meu lado, que me ame e me ouça, se importe comigo da mesma forma que me importo com ele. Eu nunca expliquei, por isso nunca devia ter exigido. É hipócrita da minha parte.
Ah, Carrie... O que devo fazer? Tenho medo de magoar ele. Não é justo.
Obrigada por me ouvir, já ajuda.
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Querida Carrie...
Short StoryCartas de uma esquizofrênica para uma amiga que não existe.