-Estás a gozar comigo Oliver?! -Empurrei-o. Limpou o sangue que lhe escorria do lábio com a palma da mão.
-Vou vos deixar uns minutos a sós. -Max saiu rindo à gargalhada e deixando 2 guardas à porta.
-Estiveste este tempo todo a enganar-me?! - Sinto-me traída por quem mais confiava. Eu já devia de saber. Não deveria ter deixado ele se aproximar. Nem ele nem ninguém. Confiar é um luxo que não posso ter.
-Não, estive este tempo todo a confiar em ti mas tu nunca me contaste a verdade! - Gritou comigo, a sua voz estava mais triste que irritada. -Tu preferiste torturar-me do que me contar a verdade!
-Contei o que precisavas de saber e o que eras capaz de perceber!
-Eu precisava de saber quem tu és! E até nisso me mentiste. Mas acho que é normal sendo filha de quem és. -Começou a andar em direção à porta.
-Não era importante saberes quem eu sou, apenas te ia pôr mais em perigo. - Andei atrás dele.
-E desde quando é que tu te importas com alguém que não seja do mesmo sangue que tu? -Não olhou para mim antes de sair da sala nem voltou atrás quando gritei com os guardas por me agarrem e arrastarem para as masmorras.
Eram umas masmorras bastante comuns, escuras, frias e cheias de celas. Atiraram-me para dentro de uma cela na ala A que estava sem prisioneiro nenhum quando normalmente costuma estar sempre cheia. Existem 4 alas cada uma com 10 celas. As masmorras são para prisioneiros importantes, que não mereçam a morte ou que precisem de sofrer antes de morrerem. Pelo lado positivo, até antes de morrer sou VIP.
Depois de 4 dias apenas a ingerir um comprimido e um copo de água por dia já não queria ser VIP. Estava encostada às grades da cela com os olhos fechados a tentar dormir quando ouvi a porta a abrir para me darem a dose de comprimidos diária.
-Sabem que mais acho que não quero ser VIP durante mais tempo, podem matar-me logo. -Como não recebi uma resposta mal humorada que recebo todos os dias abri os olhos e olhei para onde deveriam estar os 2 guardas habituais. Mas não estavam. À porta da cela com os comprimidos e um copo de água na mão estava Oliver.
-O que é que estás aqui a fazer? Onde é que estão o idiota °1 e o idiota n°2? -Levantei-me ficando à sua altura.
-Estão ocupados. -Ele disse e eu agarrei no copo e no comprimido que ele tinha na mão.
-Para que servem estes comprimidos afinal? -Engoli o comprimido e bebi o copo de água todo.
-Fortalecer o teu sangue enquanto o teu corpo enfraquece.
-Oh... -Fiz uma pausa para ver se ele estava a dizer a verdade. A maneira como ele olhava para mim confirmava a situação.- Parece que está a resultar então. Bom... faz com que já venham os caras de lata amanhã, eu não gosto de ti. - O olhar dele não mudou, era frio mas triste ao mesmo tempo.
-Sarah... -Dava para reparar que ele estava a ganhar coragem para falar - Não vai haver amanhã para ti.
-Já? -Ele acenou positivamente com a cabeça. - Há alguém que me odeia ainda mais que tu, impressionante.
-Achas que é uma boa altura para fazeres piadinhas? - O seu olhar era de repressão mas triste.
-Estou prestes a ser arrastada para a morte pelo único humano que eu não quis matar mais de 2 vezes por dia, o mundo vai acabar como nós o conhecemos e o meu pai vai ser obrigado a trabalhar como escravo na versão ridícula que será o inferno 2.0, por isso sim, tenho que aproveitar enquanto posso para dizer as minhas "piadinhas".
-Dá uma oportunidade ao inferno 2.0, ouvi dizer que vai chover algodão doce uma vez por mês. -Ensinei-o tão bem, já posso morrer um pouco mais orgulhosa. O relógio que ele tinha no pulso fez um pequeno barulho.
-Está na hora não está? -Perguntei-lhe mesmo sabendo a resposta. Saí de dentro da cela aproximando-me dele.
-Estás pronta? - Perguntou sério.
-Estás a gozar certo? Eu nasci para isto. -Ele agarrou-me no braço mas sem muita força, apenas para me guiar para fora das masmorras.
-Vais ter que fugir depois de eu morrer. -Disse-lhe ao subir o primeiro degrau.
-Porquê?
-Acredita, mesmo que estejas do lado do Max não vais querer estar no inferno durante muito tempo depois de ele subir ao poder. Tens que voltar para a terra e afastares-te das populações o máximo possível. Vai para um sitio onde seja difícil te encontrarem e tenhas boas fontes de água e comida.
-E se eu não quiser fazer isso?
-Se fores assim tão estúpido podes ficar cá a apoiar o teu precioso chefe durante uns dias e depois morrer uma morte dolorosa por algum demónio que não goste de humanos.
-Não, e se eu não quiser mais só sobreviver? Sobrevivi a minha vida toda sem nenhum objetivo até tu chegares à minha vida e me dares uma carrada de objetivos para alcançar. - Ele falou baixinho e percebi que esta parte da conversa não era para ser ouvida por mais ninguém.
-Tens a certeza? É que a única coisa que fiz foi gozar e gritar contigo.
-Fizeste muito mais que isso. - Os olhos dele brilharam ao olhar para mim. Adoro quando ele olha para mim assim mesmo que não saiba a razão.
-Então faz como eu digo e sobrevive para alcançares esses objetivos.
-Não os posso alcançar sem ti.
-Aww uma declaração? Agora que estou a 5 minutos de morrer?
-Não, claro que não. Sem ti o mundo sofre um apocalipse e que raio de objetivos é que eu posso alcançar a fugir pela vida num mundo completamente arruinado? -Chegamos ao fim das escadas e estávamos agora a percorrer um dos muitos corredores. -Mas sabes que mais? Vou te deixar ficar com a versão da declaração.
-Não devíamos ter virado à direita? -Calculei que se me fossem matar deveriam-no fazer na sala do trono, pelo menos morro em grande estilo.
-Nunca duvides das capacidades de um humano apaixonado. - Piscou-me o olho e voltei a ver o Oliver que conheci na terra.
-O quê? Um humano apaixonado? Onde?! - Em vez de me responder e de me explicar o que ele estava a falar apenas se virou para mim e disse baixinho "Até já".
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A filha do Diabo. ✔
FantasiaDeus mandou o seu filho para a terra para salvar a humanidade. Agora é a vez do Diabo mandar a sua filha fazer o oposto...