Capítulo 17

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   Sem ter tempo para não perceber mais uma vez o que é que ele estava para ali a falar fomos atacados por guardas e o Oliver rapidamente ficou inconsciente no chão enquanto eu lutava inutilmente contra os 6 guardas que me estavam a tentar arrastar e que eventualmente o conseguiram fazer. 10 minutos depois eu já estava na sala do trono com as mãos acorrentadas por cima da minha cabeça à placa de metal a que eu estava encostada. À minha volta estavam tubos e outros materiais médicos em cima de duas mesas de metal. Ao lado de uma das mesas estava uma cama. Ainda inconsciente preso a uma parede estava Oliver. Havia uns quantos guardas espalhados pela sala. A porta abriu-se e Max entrou com mais guardas atrás de si que empurravam o meu pai e um homem com uma bata branca vestida.

-Querida Sarah, como é que tens estado? -Perguntou Max a sorrir sarcasticamente.

-Maravilhosa. - Enquanto os guardas prendiam o meu pai ao lado de Oliver, Max e o médico aproximavam-se de mim. Max estalou os dedos e Oliver abriu os olhos.

-Vais querer ver isto, traidor. - O médico espetou uma seringa ligada a um tubo numa das veias do meu braço. - Eu até fazia um discurso mas acho que não é necessário. -Max virou-se para mim. -Ultimas palavras?

-Era uma vez um menino que escrevia tudo o que lhe acontecia no dia a dia num caderno. No primeiro dia escreveu que acordou às 8 da manha e tomou o pequeno almoço às 8:10. Depois preparou-se - Max interrompeu.

-Okay chega. Este jogo não é teu. - Deitou-se na cama e o médico começou a fazer-lhe o mesmo que me fez a mim, até estarmos ligados pelo mesmo tubo. -Vamos despachar isto.

   Com a autorização de Max o médico carregou num botão e o meu sangue começou a escorrer pelo tubo. Olhei para o meu pai que estava com uma uma expressão de calma no rosto, já Oliver parecia estar mais assustado enquanto olhava para mim. O meu sangue estava a centímetros de entrar no corpo de Max e quando finalmente  entrou sorri.

-Este jogo nunca foi teu.

-O quê? -Perguntou confuso e começou a gritar de dor. -O que é me está a acontecer?! - Tentou levantar-se da cama mas sem forças caiu ao chão. Arrebentei com as correntes que me prendiam. O meu pai livrou-se das dele e das de Oliver, fiquei confusa com tal gesto.

-O teu corpo não é forte o suficiente para aguentar o poder deste sangue. Nunca foi. Este sangue é nosso e só nós somos fortes para o ter nas veias. - Aproximei-me dele. -Todos os teus esforços sempre foram ridículos, uma tentativa patética de teres o poder que não mereces. Mesmo que conseguisses o meu sangue, não és homem suficiente para reinar o inferno. Irias falhar. 

Max tentava levantar-se mas as dores agoniantes não o deixavam. Estava a ser queimado por dentro.

-Como é que te atreves-te a pensar sequer que eras digno de ter este sangue nas veias? Sangue do Diabo, criador do inferno! -O meu pai gritava com Max como eu nunca o vi gritar. Oliver abraçou-me. Olhei para ele confusa.

-Eu e o teu pai tivemos uma conversa. Ele é simpático. -Max com a ultima força que tinha no seu corpo estalou os dedos e caiu morto no chão. Os guardas que estavam na sala começaram a atacar-nos. Estávamos em minoria e o meu pai tentava quebrar o feitiço sobre eles. Durante uns minutos foi o caos total na sala. Fui empurrada contra as paredes, o chão e até acho que voei umas 2 ou 3 vezes para o outro lado da sala. Estes guardas são bons, onde é que Max os encontrou? Oliver caiu-me aos pés. Ajudei-o a levantar-se. A sua cara estava coberta de hematomas e até algum sangue. Oliver levou a sua mão à minha cara para limpar algum sangue supostamente mas fomos brutalmente afastados um do outro e reencontrei novamente uma parede. Um barulho metálico chamou-me à atenção. Um dos guardas tinha uma espada. Ele começou a andar mas não era na minha direção. Ia em direção de Oliver. Nesse momento algo explodiu dentro de mim e bati em todos os que se ponham no meu caminho. Corri o mais rápido possível para ele que olhava para mim. Não vi o guarda perto dele mas mesmo assim quando cheguei ao pé dele abracei-o para o proteger com o meu corpo e foi ao sentir os braços dele ao meu redor que senti o que não queria sentir. O meu pai que estava agora sentado no trono conseguiu quebrar o feitiço e os guardas voltaram ao seu estado mental normal deixando de tentar nos matar. Mas foi tarde de mais. O mal já estava feito. Olhei para baixo, para os nossos corpos colados, ligados pela lamina da espada. Eu sentia dor, mas ele sentia mais. Ele não precisou de olhar para baixo conseguiu ver pela minha cara o que se passava. Ele não começou a chorar apenas limpou as minhas lágrimas. Ele não queria fazer mais nada do que apenas olhar para mim e acalmar-me.

-Não! Vão buscar o médico! - O meu pai ordenou aos guardas. -Vou tirar a vossa dor.

-Não. É real, é bom. Eu quero sentir tudo neste momento. -Não tirou os seus olhos dos meus enquanto falava.

-Não não não não. -Comecei a chorar ainda mais.

-Não faz mal, podes chorar. -Oliver colocou a minha cabeça no seu ombro.-Vai ficar tudo bem, vai ficar tudo bem. Estou aqui, vou sempre estar. 


1 ano depois....

   Nova Iorque estava gelada obrigando-me a usar demasiada roupa para o meu gosto. Parei para comprar uma bebida quente num café que frequento habitualmente.

-Bom dia Sarah! O habitual? - Mary era uma rapariga simpática que conheci há uns meses a trás num concerto.

-Sim por favor. -Paguei logo.

-Um Salted Caramel Mocha para levar.

-Olá Sarah! - Recebi um 'Olá' rápido dos restantes empregados que já me conhecem.

-Como vai a universidade? -Mary perguntou enquanto não havia ninguém na fila atrás de mim.

-Vai boa, vamos expor algumas das nossas fotografias numa galeria no próximo mês.

-Posso ir ver?

-Claro, eu arranjo bilhetes para vocês todos. -Referi-me aos restantes trabalhadores do café.

-O Salted Caramel Mocha é para quem? -Disse um rapaz que eu nunca vi a trabalhar ali.

-É para mim. -Deu-me o copo de plástico fechado.

-Ah Sarah acho que ainda não conheces o novo empregado. Este é o Evan. Evan é a Sarah, ela vem cá todos os dias de manha e pede sempre o mesmo.

-Prazer em te conhecer. - O loiro do seu cabelo ficava bem com o castanho dos seus olhos.

-Sim igualmente. - Olhei para o relógio na parede. - Bolas já estou atrasada para a aula. Até amanha!

   Fiz o resto do percurso a correr e a tentar não escorregar ou derramar a bebida. Sou metade humana. Perdi tanto sangue naquele dia que o meu pai teve que tomar uma decisão. Ou eu morria ou usavam sangue humano para me salvar. Aqui estou eu. Mortal, sem poderes. Não posso regressar ao inferno, com o meu corpo totalmente humano não aguentava lá muito tempo.

   Oliver morreu naquela noite. Não o conseguiriam salvar a tempo, então ele sendo o mesmo Oliver de sempre, quis que o pouco sangue que ainda lhe restava me salvasse a mim. Eu não tive voto no assunto. Mas agradeço a sua decisão. E todos os dias tento ser a melhor pessoa que consigo ser. Graças a ele tento viver cheia de sentimentos e emoções, pois estou viva e quero me sentir como tal.

Um pouco de mim morreu com Oliver e um pouco de Oliver nasceu comigo.

Fim. 













A filha do Diabo. ✔Onde histórias criam vida. Descubra agora