Capítulo 9

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Estava numa sala escura. Com todas as paredes pintadas de preto. Não me mexi, sabia que não valia a pena. Não tive que esperar muito e num piscar de olhos as paredes começaram a arder e segundos depois tinha o Sr. Crawley à minha frente na sua aparençia humana. Os seus olhos eram pretos com uma chama a arder no meio. Uma coisa própria do diabo. O máximo que os meus fazem é ficar vermelhos em ocasiões especiais.

-Olá, pai. -A nossa relação era parecida a qualquer relação de pai e filha... O máximo que podia ser tendo em conta o nosso contexto é claro. -Como é que vai o Inferno?

-Sarah, aposto que sabes o porquê de eu estar aqui, certo?- Ele estava calmo. Raras eram as vezes em que não o estava. Assenti positivamente com a cabeça. -Neste momento não só Lyria, mas também o Inferno inteiro está um caos.Os rumores sabem-se depressa e o meu trono esta a ser ameaçado. E isso também te afeta! Eu não tenho tempo para ter uma reunião de urgência com a Morte porque tu impediste o trabalho de um dos seus devoradores. E tu sabes o quanto eu odeio ter que aturar a Morte, a mulher não se cala. -Tal filha tal pai.

-Era só uma criança! O devorador podia estar a levar idosos e não crianças com a vida inteira pela frente! -Eu não gritava com ele. Podia afirmar o meu ponto de vista mas não conseguia gritar com ele. E ele também raramente grita comigo. Dá-me muitos sermões mas não é muito cruel comigo.

-Sabes bem que os idosos não lhes servem para nada. Mata-los é simplesmente isso mesmo. Não há oportunidade nenhuma para eles no inferno e a alma deles é perdida. Crianças, Jovens e Adultos são quem eles gostam de levar. São nos úteis aqui, e conseguem adaptar-se bem.

-Era injusto. O miúdo só foi para o meio da estrada por minha culpa.

-Não, não foi. Sarah... -Olhou para mim e continuou.- O corpo dele esta doente. Ele ainda não sabe mas o cancro já lhe esta a consumir os pulmões e daqui a 6 meses morrerá numa cama de hospital. -Não reagi. Não conseguia. -A morte dele prematura era uma bênção que só eu lhe podia dar. 

-Desculpa. Eu não devia de deixar emoções perturbarem o meu raciocínio lógico. -É triste o que iria acontecer ao miúdo mas eu não podia ficar triste. A culpa não é minha. A culpa é de Deus. Amostra de anjo egoísta!

-Tu um dia chegas lá. Eu também demorei algum tempo até ter pleno controlo das minhas emoções. 

-Demoraste quanto tempo? 

-Ora bem eu tenho 5 mil anos... -Começou a contar pelos dedos. Ai este homem...-Eu devia de ter uns 126 anos.

-126 anos?! Vou demorar uma eternidade.

-Provavelmente vais conseguir chegar lá em muito menos tempo. Só tens que te esforçar mais para poderes agir sem seres influenciada por nenhum tipo de sentimento. Quando o conseguires fazer a 100% ai sim estarás preparada para observar o meu trabalho mais de perto para um dia seres capaz de o fazer por mim. 

-Se a Ordem de Fogo ganhar isso não será possível. 

-Ganhar? Não há nada que eles possam ganhar de mim. O meu sangue criou o inferno e só o meu sangue o pode governar. Fim da história. Já te disse para não te preocupares com o assunto. Não foi por esse motivo que me pediste para ir para a terra. Agora acho que está na hora de voltar a lidar com os problemas diabólicos que tenho para resolver. Porta-te bem... Mal... Tu percebes-te. -E em um piscar de olhos estava a encarar o teto do meu apartamento. Levantei-me e foi até à cozinha onde um Oliver cozinhava algo sem notar a minha presença até eu abrir o frigorífico.

-Porra, assustaste-me! -Gritou enquanto eu bebia uma garrafa inteira de água.

-O que é que estas a fazer aqui? 

-"Obrigada Oliver por não deixares ninguém levar o meu corpo inanimado para o hospital onde iriam reparar que eu não sou humana"-Disse numa tentativa de imitar uma voz feminina. -Já agora devias de comer menos! Sabes o quanto me custou arrastar-te até aqui?! 

-A culpa é minha por teres a força de um frango mal morto?

-Vou ignorar esse comentário. -Acabou de cozinhar e pós um prato cheio de panquecas em cima da bancada da cozinha. Não precisei da sua autorização para começar a comer. -Foi muito bom da tua parte teres salvo o miúdo. 

-Eu não salvei o miúdo. 

-O miúdo que agora está em segurança e vivo em casa diz o contrário. -Começou a comer também.

-Vai morrer daqui a 6 meses. Cancro. Era a sua única oportunidade de morrer sem sofrer e eu estraguei-a. 

-Como é que sabes isso? -Olhei para ele em vez de responder- Ah pois... Os demónios comunicam entre si. Mas pelo lado positivo, o miúdo vai passar o resto da sua vida... Morte... o que raio for no céu.

-E isso sim será um pesadelo. 

-Como assim? Supostamente o céu é bom e o inferno é mau. 

-Isso é o que todos pensam. É o que é ensinado a todos mal nascem. Mas não é totalmente correto. Deus é uma alma desprezível e o Diabo teve bons motivos para o abandonar e criar o seu próprio reino. Deus que é "supostamente " bom é quem mais faz as pessoas sofrerem. Ele não leva a alma de ninguém até ao final natural das suas vidas. Ele obriga as pessoas a sofrerem anos e anos com doenças terminais em vez de ter piedade e dar-lhe uma morte rápida. O Diabo pelo contrário não leva nenhuma alma de morte natural, ele dá uma morte rápida e sem dor a almas que o mereçam.

-E o que é que as almas fazem no inferno e no céu? 

-No céu não fazem nada, passam a eternidade numa ilusão de paraíso. Têm tudo o que querem. No inferno têm a oportunidade de ter uma vida parecida a que tinham na terra. As almas mais bem sucedidas até conseguem viver em Lyria, a capital do inferno. Quando chegam todas as almas vão para campos de treino e a partir daí vão sendo colocados em diversas áreas de trabalho dependendo do tipo de alma que tenham ou do nível que cheguem nos campos de treino. 

-E quem não conseguir entrar nem no céu nem no inferno? 

-As almas demasiado fracas que não conseguirem entrar nem no céu nem no inferno tornam-se almas perdidas. 

-Obrigada pelo esclarecimento. Já posso agora continuar a não gostar de nenhum dos partidos tendo um melhor conhecimento sobre eles. 

-Mas mesmo assim não odeias o Diabo. -Comentei. Tudo seria mais fácil se ele o conseguisse odiar. Pouparia-me tempo. 

-A única coisa que eu odeio é cenouras. O Diabo teria que se esforçar muito para chegar ao nível das cenouras. -Veremos... 























A filha do Diabo. ✔Onde histórias criam vida. Descubra agora