Capítulo 7

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   Já era de manhã quando Oliver começou a voltar aos seus sentidos. Não precisei de parar de fazer o meu treino matinal para o descobrir pois ele tem um ótimo humor matinal. 

-O que é que me fizeste?! E porque raio é que estou dentro de uma jaula?! Pareço-te como um animal selvagem?! -Gritou batendo nas grades da velha jaula enferrujada mas poderosa. 

-Não te canses, essa jaula é à prova de idiotas. -Parei e olhei para ele que me encarava curioso e irritado. -Pensando melhor, cansa-te à vontade. 

-De certeza que a tua família não é conhecida pela vossa hospitalidade. -Ironizou. 

-A minha família são demónios, nós oferecemos um reino inteiro aos nossos convidados. É um reino muito quente e cheio de diversão... -Continuei utilizando o saco de boxe. Não era completamente mentira, tirando o facto de a minha família ser o próprio Diabo mas ele não precisa de saber isso. 

-E tens comida nesse reino? É que está jaula dá-me uma fome dos diabos. Oh expressão errada. -Disse a última parte num volume mais baixo. Tirei as luvas e tirei uma caixa de donuts do frigorífico. Atirei a caixa para dentro da jaula e sentei-me numa cadeira à frente dele. Tentei ignorar o olhar dele sobre o meu corpo apenas tapado por uns calções e um sutiã desportivo. 

-Humanos... -Murmurei revirando os olhos. 

-Porque é que me obrigaste a fazer aquilo ontem? 

-Eu ajudei-te e tu gostaste. Se não fosse eu nunca na tua vida ias conseguir curtir com uma mulher daquelas. 

-Talvez eu não queira uma mulheres daquelas. Era demasiado falsa. 

-Eu sei, demasiados implantes mas é o que os homens humanos gostam. Para a próxima arranjo-te uma melhor e desta vez não haverá namorado para vos interromper. 

-Eu não preciso de ajuda com as miúdas!

-Como queiras macho boy. -Peguei no cartão que estava no bolso dos calções e mostrei-lhe a parte em branco. -Vês alguma coisa? 

-Não. Era suposto? 

-Acho que sim. Não odeias o Diabo? 

-Mais ao menos. Devia?-Respondeu com algum receio e intriga.

-Sim devias! -Levantei-me bruscamente fazendo a cadeira cair. -Tu tens que o odiar se me quiseres ajudar minimamente!

-Eu não consigo odiar uma pessoa sem motivos forte! -Já estava de pé contra as grades. 

-Então eu dou-te os motivos! -Estava com raiva e a ficar sem tempo, ele precisava de odiar toda a minha família. Os meus olhos ficaram vermelhos e ao olhar nos dele ele começou aos gritos e a agarrar a cabeça. Era uma das piores dores possíveis, diretamente da filha do diabo, se eu quisesse aquela dor podia ser o suficiente para o matar. Mas eu precisava dele vivo. Depois de uns segundos dos seus gritos infernais parei. Abri a jaula e entrei lá para dentro abaixando-me ao nível do seu corpo enrolado no chão. A sua respiração estava acelerada e a sua cabeça entre as suas mãos. Puxei-lhe os cabelos e obriguei-o a olhar para o cartão na minha mão. 

-Já vês alguma coisa?! -Gritei novamente

-Não! -Gritou com todas as forças que ainda tinha. Dei-lhe um soco e a sua cabeça encontrou o chão novamente. -Fechei a jaula novamente e sai do apartamento por algumas horas. Precisava de me acalmar e quando regressei ao apartamento já estava magoada o suficiente. Tinha a cara vermelha e com sangue em algumas partes. Só um bando de tarados que estavam no lugar errada à hora errada. Oliver estava sentado no mesmo sítio da jaula em que eu o tinha deixado caído. Peguei em alguns livros que estavam em cima da mesa central e folhei-os. 

-Podes ir. -Disse ao mesmo tempo que abri a jaula estando de costas e a vários metros dela. Ele não saio a correr do meu apartamento como esperei. Consegui ouvi-lo a andar devagar mas não era em direção à porta. 

-Eu não te posso ajudar em relação ao cartão. Mas talvez possa ajudar de outras formas. Só precisas de me explicar o porquê de ser necessário que eu odeie o Diabo.-Ele apareceu ao meu lado mas sempre calculando as suas palavras. 

-Podes ir. Não voltarei a entrar em contacto contigo e não serás apanhado no meio desta confusão. -Não o encarei. Não o conseguia fazer. 

-Já estou no meio da confusão e sou demasiado teimoso e curioso para sair agora. Embora eu não saiba o que raio se está a passar.

-Eu torturei-te. Podia te ter matado tão facilmente com tu respiras. 

-Mas não mataste. E eu nunca esqueço quem não me mata mesmo tendo essa oportunidade na palma da mão. -Já conseguia voltar a ouvir um pouco da harmonia presente na sua voz. Eu não lhe respondi e continuei a ler o que sei que não me ajuda em nada. Oliver afastou-se e quando voltou a sua mão tocou no meu rosto, antes que eu tivesse tempo de a afastar ele obrigou-me a olhar para ele e ao mesmo tempo uma toalha molhada tocou-me no sobrolho e lavou o sangue que ali devia de estar. Ele também tinha uma bochecha roxa do soco que eu lhe dei. A toalha desceu e ele cuidadosamente limpou o sangue de um corte que eu tinha no lábio. O contacto físico estava-me a incomodar, ele é demasiado intenso. Fechei os olhos e quando os abri já todas as minhas feridas tinham desaparecido. 

-Porque é que não fizeste isso mais cedo!? 

-Porque a dor ajuda-me a pensar melhor. Acalma-me. Pelo menos até a um certo ponto de dor, demasiada dor é mau e já não consigo nem me curar tão bem e muito menos pensar claramente.- Quando acabei de falar já estava virada de novo para a mesa cheia de livros.

-E ajudou?-Ele perguntou momentos depois. Depois de ver a minha cara de interrogação, explicou-se melhor.-Conseguiste pensar melhor?- Pensei antes de responder. Será que consegui pensar melhor?

-Não sei. - Ou talvez saiba.

-Tenho a certeza que tu consegues la chegar. Lá que és teimosa, és. -Pegou num dos livros e abriu-o. -Eu vou ajudar-te. Não tenho mais nada para fazer de qualquer das formas.

-Não tens aulas na universidade ou outra coisa qualquer que um rapaz normal tenha para fazer?

-O meu pai fez questão de não ter um filho normal e estou de férias da universidade.-Disse ao sentar-se no sofá confortavelmente. 

-Vai ser um longo caminho... -Murmurei para mim mesma.





A filha do Diabo. ✔Onde histórias criam vida. Descubra agora