24 | Aquele em que Hermione Cria Coragem

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Enquanto seguia nos corredores frios de Hogwarts, sua mente ia de um absurdo a outro—tanto à pessoa a quem pediria informação, quanto ao fato de estar cabulando aula para resolver um simples problema pessoal. Infelizmente, tinha tido um súbito ataque de coragem e sabia que não podia deixar passar, não quando a idéia de ter essa conversa ecoava em sua mente todos os dias, sem exceção, desde o aniversário de Gina.

Mas será que aquilo era mesmo absurdo? A parte de cabular aula ela sabia que sim, ainda mais para seus próprios parâmetros. Mas quanto ao conselho... 

Claro que não a achava o melhor exemplo de pessoa ajuizada, e a achava um tanto quanto excêntrica quanto às suas vontades, além do interesse constante por homens mais velhos ou com os quais ela não deveria se envolver. Mas também sabia que não havia ninguém melhor naquele castelo, não quando se tratava de homens.

— Pode abrir — ouviu a sua voz, quando bateu na porta do quarto.

E lá estava ela sozinha, estudando.

— Mione? — seu tom de voz era de surpresa. Lógico. Ela sabia que seu namorado estava em aula, logo, Hermione também deveria estar. — Aconteceu alguma coisa?

Hermione viu um brilho de desespero passar por seus olhos azuis.

— A Gina tá bem? — perguntou, séria.

— Sim — Hermione suspirou e se sentou educadamente na beirada da cama de Isabelle — O problema é comigo.

— O que aconteceu? Quer que...

— Não. É com você mesmo que eu quero falar.

Isabelle arqueou a sobrancelha esquerda. Aquilo sim era interessante. Hermione matando aula porque queria conversar com ela? Muito interessante.

— Desembucha.

Hermione respirou fundo antes de começar a história. Orgulhava-se de ser uma pessoa direta, e como a coragem para chegar até ali ela teve—cara a cara com Isabelle—agora era literalmente sentar e desembuchar.

— Eu e o Rony não estamos bem, como você já deve ter percebido. E desde o aniversário da Gina as coisas ficaram um pouco piores.

— Sempre soube que algo tinha acontecido naquela festa.

— Bom — Hermione prosseguiu, ignorando a interrupção — Acontece que eu e Rony tínhamos combinado previamente de se encontrar. A gente conhecia mais ou menos o salão, pelo que Gina tinha explicado, e sabíamos de cor e salteado a roupa um do outro. Apesar de a Gina ter nos avisado que era capaz de não dar para distinguir a roupa assim tão bem, então era para gente focar no lugar.

Isabelle concordou. Ela mesma não conseguiu distinguir roupas.

— E eu estava no segundo andar, esperando Rony aparecer, quando me puxaram. Eu achei que aquilo era um pouco estranho, porque afinal eu não esperava que ele me puxasse daquele jeito. Não estou dizendo que foi grosseiro, só...

— Eu entendo.

— Quando aquela pessoa me beijou, eu tive certeza que não era o Rony. Era um beijo muito diferente, muito mais... Não sei explicar. Mas não era o beijo do Rony. E essa pessoa chegou a me puxar pela cintura, coisa que Rony não costuma fazer.

— E aí?

— Eu levei cerca de dois segundos para raciocinar, mas quando dei por mim já corria para o banheiro do segundo andar igual uma desesperada. Esqueci até de tentar descobrir quem era. Fiquei no banheiro até ligarem as luzes e então fui procurar o Rony.

Você saiu correndo?

Não era bem a reação que Isabelle esperava de Hermione. Ela costumava encarar os problemas de frente; esperava ouvir que Hermione tinha, não sei, exigido uma resposta ao assédio repentino daquela pessoa desconhecida, ou pelo menos andar decidida, mas não sair correndo.

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