— Certo — Draco falou, se sentando na mesa do professor.
Ele logo em seguida se levantou e passou a mão na própria calça e também na mesa. Fez uma cara de nojo ao perceber o quão suja ela estava. Isabelle se sentou em uma das mesas para alunos menores que ficavam de frente e arqueou uma das sobrancelhas.
— Você vai ficar em pé? — ela perguntou.
— As mesas estão imundas, Belle.
— E? Vamos ficar aqui por um bom tempo, Draco.
— Certo — ele tornou a repetir, dessa vez com um tom de derrota, enquanto voltava a se sentar na mesa. — Estou curioso.
Isabelle tinha lhe mandado uma mensagem pouco mais de uma semana depois que as aulas tinham começado, falando que queria conversar com ele. Ninguém nunca diz que precisa conversar com outra pessoa quando o assunto é bom. Isso é uma verdade universal já conhecida por, bem, todos os seres do universo.
Logo, ele sabia que era algo delicado. E já imaginava o quê. Ou melhor: sobre quem. Ele sabia que duas pessoas seriam citadas naquela conversa; seu pai e Ginevra Weasley.
— Tá legal. A ideia não é que essa seja uma conversa determinante. Eu gostaria de te propor, na verdade, uma série de encontros.
— Uma série de encontros?
— Eu quero te ajudar, Draco. Você é um cara legal, eu consigo ver isso em você. Por mais que você pague de idiota e mesquinho por aí, é muito óbvio para mim que você tem um coração bom e se importa com as pessoas. Principalmente quando eu vejo a forma como você age com os seus amigos. Até mesmo quando eu vejo a forma como você age com as mulheres.
Draco cruzou os braços, mas não de forma hostil. Ele estava pensativo e intrigado, até mesmo surpreso com o quão claramente Isabelle tinha lido sua personalidade em tão pouco tempo de convivência.
— Eu já fui em festas o suficiente para perceber que você não é o garanhão frio que você gosta de dizer que é. Até mesmo a sua paciência com a Pansy está ao seu favor. Você pode não ser carinhoso, romântico ou até mesmo gentil, mas você trata todas elas com respeito. Às vezes mais do que elas mesmas.
— Estou positivamente surpreso com a sua análise. E essa série de encontros seria com o propósito de me ajudar a ser um cara mais sensível?
— Não. Honestamente? Estou pouco me fodendo se você é sensível e carinhoso ou frio e prático. Eu sou fria e prática; não posso exigir nada diferente de ninguém. Só quero te ajudar a lidar com esse fantasma que é o seu pai.
— Ele não—
— Nos poupe, Draco. Eu sou esperta demais e você não é inocente o suficiente para que a gente finja que o seu pai não atormenta a sua mente.
Aquilo era mais do que ele estava esperando. Draco já sabia que Isabelle era perceptiva, muito mais do que a maioria, e que sabia ler as pessoas muito bem. Mas ele adorava a sensação de ser particularmente enigmático e misterioso; quase ninguém percebia suas intenções, suas dores ou o peso que ele carregava. Blaise talvez soubesse parte do que se passava na sua mente, mas só porque ele mesmo tinha decidido compartilhar um pedaço de sua história com o amigo.
Isabelle, depois de pouco tempo o conhecendo, conseguia perceber o quão profundamente o pai ainda o incomodava. Mesmo morto; mesmo enterrado a sete palmos abaixo do chão.
— Tudo bem. Não vou mentir: o meu pai ainda me perturba. Como você acha que pode me ajudar com isso, Belle?
— Você só precisa de alguém para conversar, Draco. Alguém que seja forte o suficiente para compartilhar essa dor com você e corajoso o suficiente para jogar na sua cara todas as vezes que você for um estúpido.
— Esse alguém é você?
— Esse alguém sou eu — ela respondeu, firme.
— Ok. Podemos tentar.
Isabelle voltou a arquear a sobrancelha, mas sorriu.
— O quê? — ele perguntou.
— Eu estava esperando um pouquinho mais de resistência.
— Por alguma razão, eu sinto que qualquer resistência seria inútil. Você não me parece disposta a desistir, e eu confio em você o bastante para pelo menos testar a sua teoria. O pior que pode acontecer é ela não funcionar.
— Ela vai funcionar.
— Como é que você sabe?
— Eu não falho.
— Mas isso não depende só de você.
— Eu não falho — Isabelle repetiu.
E por alguma razão, de alguma forma, Draco soube que aquilo era verdade. Não só que ela não falhava; mas que aquelas sessões de conversa iam dar certo. Elas acabariam em algum lugar, teriam um propósito e ele seria um homem melhor no final delas.
— E como isso vai funcionar? Nos encontramos toda semana para uma sessão de terapia?
— Mais ou menos isso, com exceção do deboche. Vamos nos encontrar uma vez por semana por uma hora e você vai me contar a sua história. Você vai me contar quem foi o seu pai, como foi a sua infância, todas as coisas que você aprendeu com ele. Depois, eu vou te questionar sobre tudo o que você acredita, até que a gente consiga separar quais são as suas opiniões e quais são as opiniões do seu pai.
— Depois?
— Vamos conversar sobre o seu problema com os Weasley e sobre todos os preconceitos que estão implícitos nas suas falas. Vamos conversar sobre essa estupidez de Grifinória versus Sonserina, e sobre como algumas coisas que você diz fazem de você um menino.
— Ou seja, vou levar um bocado de tapas na cara.
— Sim. Você estava esperando uma ida ao parque de diversões? Você também me conhece bem para saber que eu não sou delicada e nem gentil. E é por isso mesmo que essas conversas vão funcionar.
— Contanto que eu não descubra que todo esse papo de "me ajudar a ser um cara melhor" é só um plano seu de me juntar com a Weasley, está tudo bem — Draco brincou.
— Meu bem, se você não tivesse essas opiniões pré-históricas se repetindo como um loop na sua cabeça, você já estaria apaixonado pela Gina.
— Não concordamos nessa, Delacour. Eu não gosto da Gina por outros motivos que vão além das opiniões repassadas pelo meu pai.
— Se você quer se enganar, tudo bem. Não precisamos nem vamos discutir isso agora.
— Digo o mesmo.
Os dois sorriram um para o outro.
— Podemos começar? — ela perguntou.
— Eu que te pergunto. Está preparada para ouvir os relatos sobre a vida e a paternidade de Lucius Malfoy?
— Mais preparada do que jamais vou estar — tendo dito isso, Isabelle saiu da mesa e puxou duas cadeiras, colocando uma de frente para a outra.
Convidou Draco a se sentar em uma delas, o que ele aceitou, e se sentou também.
Assim começou a série de encontros que criaria um laço tão forte e inquebrável entre ele e Isabelle. A mesma série que faria com que ele, aos poucos, se abrisse para outras pessoas e outras oportunidades. Que ele conseguisse conviver com realidades diferentes e não agisse de forma tão defensiva o tempo todo. Que ele não julgasse os outros pela casa da qual eles faziam parte ou por sua realidade sócio-econômica.
A série de encontros que tornaria possível que ele, um dia, se apaixonasse por uma Weasley.
***
Se segura que lá vem chuva de capítulos! Vou postar vários hoje aos poucos! 💗
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Who You Love | ✓
Fanfiction"And I've tried to run before, but I'm not running anymore, because I fought against it hard enought to know that you love who you love." Não importa o quanto você tente, é impossível dar ordens ao coração. E às vezes isso significa se apaixonar pel...