"Magníficos Olhos Verdes"

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Holanda ficava um pouco tímida quando Leandro estava no mesmo compartimento que ela, embora ele não a olhasse duas vezes sequer. A solução quase sempre era tentar disfarçar, fingir uma coragem nas suas falas e não olhar em demasia para aquele rosto bonito. Também passou a detestar aquele vestido azul que mostrava seu corpo cheio, marcava sua barriga e seus braços gordos. Pelo menos os sapatos lhe deixavam mais alta.

─ Não posso acreditar que você realmente vai casar. ─ Ela disse sentada num banco redondo de veludo. Cruzou uma perna e arranjou o lenço que estava em seu pescoço.

Camilo estava em pé em frente do espelho. Usava um terno preto e camisa branca por dentro, assim como uma gravata. O pai fizera questão que usasse os mesmos punhos dourados que havia colocado no casamento com a mãe deles, coisa que Leandro não parecia concordar de ânimo fácil.

─ Estão tocando tambores lá em baixo! ─ O irmão mais velho exclamou. O que o diferenciava nas vestes é que vestia uma camisa azul escura. ─ Tambores! Não posso acreditar.

─ Não vai durar para sempre. ─ O noivo respondeu a mostrar que não se importava com os ritmos que soavam lá de baixo. Na verdade até os achava muito encantadores, mas não se deu ao trabalho de explicar.

─ Ainda não posso compreender. ─ Leandro tinha feito a barba, seu cabelo escuro estava bem penteado e os olhos castanhos esverdeados mostravam uma certa incredulidade. ─ Essa mulher deve ter dormido com meio mundo antes de acertar um idiota como você e se deixar engravidar.

Holanda se irritou.

─ "Se deixar engravidar?" ─ Não resistiu a perguntar e fez o sinal de aspas com os dedos dobrados. ─ Eu não morro de amores por essa Valquíria, mas se ela dormiu com meio mundo não é da nossa conta.

─ Não falei com você. ─ Leandro foi rude e sequer virou a cabeça para trás para olhá-la. Na verdade não compreendia como o irmão mais novo se misturava com tantas pessoas que não pertenciam ao círculo social a que estavam inseridos.

─ Não vamos mais conversar sobre isso. E por favor, não fale assim com a Holanda. ─ Camilo era um poço de serenidade, um lago cristalino e isolado numa noite brilhante e silenciosa. Distante de tudo e de todos.

─ Ainda vai a tempo de desistir. ─ O mais velho parecia não ouvir nada do que lhe era dito. Contornava o irmão com precisão, apenas para tentar olhá-lo directamente, mas Camilo se esquivava com facilidade. Se movia para dar os últimos retoques na sua arrumação. ─ Nem sequer confirmou se o filho é seu!

─ É. Eu já disse que é. ─ Respondeu a pentear seus cabelos e a passar a loção para a barba. Depois passou o perfume caro que cheirava muito bem.

Holanda continuou sentada, não podia compreender como Leandro podia ser tão chato e o seu chefe ainda assim o aturava com paciência. A verdade é que ele parecia ter um escudo protector que fazia todos à sua volta serem tolerantes, inclusive ela que mal conseguia falar quando estava por perto.

─ Como pode saber? Ela pode ter dormido com outro na mesma altura ou um dia antes, e então?

─ A Valquíria era virgem. ─ A voz baixa e suave apanhou a todos de surpresa. Ainda assim, manteve o mesmo semblante, terminou de colocar o relógio no pulso e ignorou a cara de indignado do irmão. ─ Podemos ir agora?

Tinha escolhido os dois como seus padrinhos, e Viviane e Palmira tinham entrado em acordo quanto ao casamento. Ia ser de um dia apenas, mas iriam manter algumas das tradições nigerianas.

Deixaram Holanda sair na frente para fora do quarto e desceram em conjunto até ao jardim que estava repleto de mesas brancas com vasos de cristal compridos cheios de flores, cadeiras da mesma cor e muito bem decoradas. A dona da casa tinha cuidado de tudo ao máximo detalhe e com certo requinte, até uma banda conhecida tinha sido convidada para cantar ao vivo. Milhares de tulipas ornamentavam o lugar em arcos pendurados ou unidas em cantos estratégicos e também a formar o caminho para o grande altar todo branco com um cortinado acetinado. O bufê que estava numa mesa longa de vidro, servia apenas entradas de todos os tipos e gostos, pois o famoso Chef de cozinha, Vicenzo Valverdi, iria confeccionar pratos para servir na hora do copo de água.

GLACIAL - O Golpe Do Ano [DEGUSTAÇÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora