"Ilusão Perfeita"

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Aurora bateu na porta do quarto de Camilo e aguardou do lado de fora. Aqueles dias tinham sido corridos para os Vaughan, não se lembrava de os ver em tamanho estresse desde que o Leandro deixara de dar problemas. Tudo tinha se transformado numa paz total, uma família cheia de uma harmonia contagiante, nem com o nascimento de Cecile que sempre estava metida em alguma malandrice, conseguiam sair dos eixos como daquela vez. E com o filho que menos esperavam.

A governanta se lembrava do dia que o menino nasceu, tão bonito e angelical. Tinha aprendido tudo direito, nada era preciso que lhe ensinassem duas vezes, era obediente e carinhoso com todos a sua volta. Fazia o que os pais queriam cegamente, sem refutar e tinha um talento nato para agradar os demais, ser gentil e muito elegante. Um verdadeiro príncipe, até aquela estranha noite que mudou por dentro. Viviane Vaughan dizia que era dos dezoito anos, pois os rapazes mudavam e começavam uma nova forma de encarar aquilo. Tinha demorado a perceber uma ausência de brilho nos olhos do filho, mas Leandro dava tantos problemas que sempre preferiu acreditar que o problema de Camilo iria passar.

Aurora podia jurar de pés juntos que era a primeira vez que ele dava uma dificuldade aos pais ao se casar com a moça mal falada pela casa - Golpista era como a chamavam pelos cantos. Todos sabiam o quanto Viviane adorava cozinhar, mas nunca a tinham visto tão infeliz a comandar a cozinha e as refeições que seriam servidas no almoço.

─ Entre.

Girou a maçaneta com vagar e empurrou a porta de lado. Camilo terminava de organizar seus cabelos e a sua barba maravilhosamente volumosa e muito bem cuidada. Gastava rios de dinheiro para mantê-la limpa, cheirosa e elaborada.

─ Os convidados já estão a chegar. ─ Aurora queria poder dizer muito mais. Quem sabe ampará-lo? Já não tinha passado muito tempo desde que o beijara num de seus joelhos ralados? É que tinha sido um rapaz tão especial que sabia se virar sozinho, que todos o haviam tomado como capaz.

─ Já desço. ─ Respondeu e abriu os dois primeiros botões da camisa branca. Sem casaco seu torso se evidenciava ainda mais. Tinha ombros largos como as costas, braços grandes e definidos mostravam uma tatuagem.

─ Está tudo bem? ─ Ela teve coragem de perguntar, mas não podia se demorar ali por ter de regressar à correr aos seus afazeres. Aurora não conseguia parar quieta ainda que Viviane tivesse lhe dito há anos que estava ali só para dar ordens. A questão é que sentia que tudo ficava melhor quando colocava as próprias mãos.

─ Está. ─ Respondeu sem dar muita ênfase e era aquilo que incomodava. Ela sabia que quando descesse para o jardim, Camilo iria se transformar num belo anfitrião. Falaria com aptidão, dançaria com excelência e roubaria a cena por inteiro.

─ Até já. ─ Escutou o suspiro que a mulher pequena deixou escapar dos lábios antes de fechar a porta devagar e deixá-lo sozinho para que terminasse de se arrumar. Não que costumasse levar tanto tempo, a verdade é que se demorava quase de propósito como um ritual interno para poder colocar a cabeça no lugar.

Não iria deixar que Valquíria Hayes o desestabilizasse.

─ [...] Ainda estou na linha! ─ Holanda reclamou e com razão, era preciso despertar o chefe antes que a deixasse em viva-voz pendurada e se fosse embora.

─ Eu sei. ─ Ele andou até a mesa onde estava o telefone. ─ É uma pena que não venha.

Nem eu ou Nadir. Não vamos compactuar com isso, seja lá qual for o seu plano Camilo Vaughan, não conte connosco. ─ Ela fez uma pausa impaciente. ─ Estou devastada com essa situação.

─ Eu preciso ir. ─ Foi tudo o que disse, sem se estender em muitos detalhes. ─ Até mais tarde no trabalho.

Adeus senhor Vaughan! ─ Sabia quando ela ficava zangada só pela forma como inflacionava a voz.

GLACIAL - O Golpe Do Ano [DEGUSTAÇÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora